Jorge Soto | Braskem: Ativismo e a liderança empresarial, um papel necessário

A importância da atuação dos executivos na promoção de causas para estimular o engajamento dos demais atores da cadeia de valor

Graças ao propósito da Braskem de “melhorar a vida das pessoas, criando as soluções sustentáveis da química e do plástico”, posso acompanhar de perto, ou de dentro, os principais eventos que discutem o presente e futuro da humanidade e do nosso planeta, associados à agenda do desenvolvimento sustentável.

Recentemente, em agosto deste ano, um deles aconteceu em Salvador: a Semana do Clima da América Latina e do Caribe. Desde a Rio+20, em 2012, não acontecia um evento relevante do multilateralismo no Brasil associado ao assunto. No mês passado, em setembro, foi a vez da Semana do Clima de Nova Iorque, com participação global.

Nesses eventos, é comum ver as mesmas pessoas do meio empresarial. Fica a sensação de evolução muito lenta ou até de pregação para os convertidos. Por outro lado, alguns fatos surpreendem. Por exemplo:

  • o número de empresas membros do Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade empresarial do mundo, cresceu de menos de 2.500 para quase 10 mil de 2005 para hoje;
  • no tema climático, 625 empresas já assumiram um compromisso de redução de suas emissões em linha com o que que é recomendado pelos estudos do IPCC (Painel Científico Intergovernamental de Mudanças Climáticas). E mais de 80 já foram mais ambiciosas, comprometendo-se com operações de emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050;
  • 1.200 investidores institucionais afirmam estar tomando ações focando as mudanças climáticas nas decisões de investimento, ou no engajamento empresarial, ou na transparência no assunto.

Esses números mostram que cada vez mais empresas entendem que a situação socioambiental nas regiões onde operam, ou no mundo, precisa do seu próprio engajamento. Por outro lado, essas mesmas empresas sentem que o ambiente político do momento não está dando mensagens claras. Uma pesquisa com mil CEOs de empresas integrantes do Pacto Global de 99 países, entre eles o CEO da Braskem, deixa clara essa apreensão. Essa pesquisa é realizada a cada três anos.

Em 2016, 78% dos CEOs viam oportunidades em contribuir para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (os chamados 17 ODS) por meio de seus negócios. Já agora, em 2019, apenas 21% dos CEOs entendem que os negócios estão contribuindo de forma relevante para o alcance dos ODS. Ao mesmo tempo, 63% afirmam que a incerteza política nos mercados é o ponto global mais crítico para as estratégias competitivas das suas empresas. Segundo este relatório, os líderes entendem que devem fortalecer seu papel e ao mesmo tempo esperam que governos e outras partes interessadas façam sua parte. Os três principais pontos levantados por esses líderes foram:

  • a necessidade de aumentar o nível de ambição das empresas, puxando transformações sistêmicas nos mercados associados aos temas dos ODS;
  • a importância de atuar de forma colaborativa com outras empresas, governos, reguladores e organizações não governamentais para definir soluções para os problemas globais baseadas na ciência;
  • e a relevância de fortalecer o próprio papel como líderes responsáveis que buscam mudanças disruptivas dentro das suas empresas, na sua cadeia de valor, no seu setor e além.

Caberia, talvez, perguntar: por que esses líderes veem a importância desse engajamento? Acho que as motivações são diversas, mas deixem-me voltar à questão do propósito empresarial (como o da Braskem, por exemplo). Parece que o repensar do papel empresarial está se tornando uma tendência. Parece que a máxima de que “não há como ter uma empresa de sucesso em uma sociedade falida” está cada vez mais clara. Um dos sinais desta tendência é o crescimento das “empresas B”. As chamadas B Corp. já são 131 no Brasil e 610 no mundo. Um dos pré-requisitos para uma empresa ser considerada uma empresa B é que redefina seu propósito no seu próprio estatuto. Ou seja, não é uma mudança simples.

Uma outra motivação pode ser simplesmente que os negócios dessas empresas estão associados à evolução do próprio desenvolvimento de forma sustentável. Isso também é verdade na Braskem. Investimos no desenvolvimento de uma linha de produtos que utilizam matéria-prima renovável, sendo esta possivelmente a química do futuro. Recentemente, lançamos um outro negócio que visa produzir polímeros a partir da reciclagem de resíduos plásticos. Há cinco anos, apoiamos startups que usam química ou plásticos e entregam algum impacto socioambiental positivo por meio da nossa iniciativa chamada Braskem Labs. É claro que nós na Braskem e todas as mais de 70 startups que apoiamos querem que seus negócios deem certo.

Quando olho para o Brasil, com uma matriz energética das mais limpas do mundo, com uma produtividade de biomassa também das maiores do mundo, me pergunto: se este país não olhar para todos os seus desafios socioambientais e os do mundo pela ótica da oportunidade em vez da de ameaça, quem mais olhará?

Pois pasmem: recente trabalho da indústria química europeia definiu a visão do setor para 2050 exaltando que os europeus podem “liderar a transição do setor oferecendo soluções [sustentáveis] para os desafios globais”. Apenas para comparar os dois fatores que citei: o percentual de energia renovável no Brasil em 2018 foi de 45,3%, enquanto o da Europa, em 2017, foi 13,6%; a produção de etanol no Brasil é mais de quatro vezes mais produtiva em energia renovável que a da Europa. E eles serão o futuro da química sustentável? Será que nós perderemos a oportunidade que nos é tão mais próxima? Será que o Brasil está sempre fadado a ser o país do futuro? Espero que não.

A Braskem é a maior produtora mundial de biopolímeros. Tenho certeza que podemos mais. Para tal, as empresas líderes devem continuar a investir e a se arriscar, mas seus líderes também precisam continuar a falar a respeito para que outros atores se engajem junto. Seria isso um “ativismo empresarial” ou simplesmente o exercício adequado do papel dos líderes?

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