Equidade racial dentro e fora dos muros da empresa

O engajamento de Tadeu Nardocci, da Novelis, na inclusão de negros no mercado

Quando o grupo de CEOs que o vice-presidente sênior e diretor de Produção da Novelis, Tadeu Nardocci, integrava começou a discutir sobre o legado que gostariam de deixar para o Brasil como líderes, um dos temas mais abordados era a inclusão e equidade racial, devido especialmente às provocações de Theo Van der Loo, então à frente da Bayer.

Para Nardocci, fazia todo sentido, uma vez que a equidade de gênero, outra questão já muito relevante à época, estava bem endereçada na sua empresa (50% do corpo de colaboradores e 40% da diretoria eram mulheres), enquanto os desafios de etnia ainda eram grandes. Ficava cada vez mais claro para o líder que ter um negócio realmente perene dependia diretamente de ter a sociedade brasileira representada na organização.

“A diversidade sempre traz diferentes formas de pensar e ajuda a empresa a crescer”

Afirma Nardocci em entrevista a Ricardo Voltolini para o próximo livro do especialista, O Poder da Liderança com Valores.

“Comecei a olhar para minha própria história. Minha família é de origem humilde, sempre estudei em escola pública, na Parada Inglesa, um bairro simples de São Paulo. Sou branco, ou seja, posso ser considerado um privilegiado, mas quando fui para a faculdade, passei a fazer parte de um universo em que eu não era maioria. Na Politécnica, meus colegas vinham de grandes colégios particulares, como Bandeirantes. Eu era o melhor aluno da minha escola; na Poli, não era ninguém. Assim, pude perceber como esses gaps representam verdadeiros desafios para as pessoas”.

Sob a liderança de Nardocci, a Novelis iniciou seus esforços para reduzir os gaps de diversidade, especialmente aqueles relacionados à diversidade étnica e equidade racial. Internamente, lançou o programa IguAL (o “AL” do final da palavra remete à sigla do alumínio) e promoveu sensibilizações de colaboradores em relação ao tema, passando a incluir para concorrer a vagas candidatos de faculdades antes não consideradas nos processos seletivos. Com isso, a companhia comemorou, em 2017, a contratação de 27% de estagiários negros, resultado superior à meta inicial de 10% de contratações.

Externamente, a empresa, que é líder mundial em laminados de alumínio e reciclagem, investiu em um de seus principais públicos de interesse, as cooperativas de catadores, para as quais implantou o programa Gestão Solidária e Crescimento Consciente, voltado ao aperfeiçoamento e à profissionalização desses parceiros, que, em geral, são pessoas de baixa renda e carentes de ferramentas de gestão. As cooperativas eram formadas, em grande parte (60%), por negros e pardos e lideradas em 90% dos casos por mulheres. Os cooperados passaram a receber até mesmo formações sobre a importância do seu papel na sociedade e o valor do trabalho de reciclagem.

“Sinto que meu envolvimento e o da empresa com os catadores não é pontual. Tem sido sistêmico e assim vai continuar. Vai melhorar não só o padrão de qualidade, mas também as perspectivas. Para assegurar que essas preocupações continuarão na companhia independente de quem esteja na liderança, procurei formalizá-las em compromissos públicos e incluir o máximo possível do que discutimos até aqui em políticas. Se alguém quiser fazer diferente, vai precisar alterar a governança, algo complexo”.

Para Nardocci, um dos valores mais importantes na condução das empresas é a não discriminação, bem como a crença nas pessoas, para que sejam cada vez mais autônomas e empoderadas. Na visão dele, essa a melhor maneira de fazer o que é certo: de forma transparente, envolvente e, principalmente, inclusiva.

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