Líder sustentável cria valor para sociedade

29 de janeiro de 2008

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Revista Idéia Socioambiental/São Paulo
O esforço na construção de uma cultura de sustentabilidade exige a figura de um líder forte, compromissado pessoalmente com o tema, capaz de mobilizar sua rede de colaboradores e mais sensível para as demandas sociais e ambientais do mundo moderno. Esta foi uma das conclusões gerais da série de entrevistas que a revista Idéia Socioambiental fez com cinco importantes líderes de grandes corporações brasileiras. Para tentar traçar um quadro sobre o perfil ideal, as dificuldades e os desafios que se colocam para este novo líder, foram ouvidos dois presidentes de empresa (Fiat do Brasil e Grupo Orsa), dois presidentes dos maiores Fundos de Pensão do País (Previ e Petros) e uma diretora de departamento (Vale).
Ao considerar o líder responsável alguém que implantou com sucesso políticas de responsabilidade social e sustentabilidade, os entrevistados opinaram sobre as características necessárias no perfil desses profissionais. “O líder sustentável deve estar conectado às mudanças, ter sensibilidade contextual, saber interpretar os sinais do mercado e antecipar-se a ele, identificando oportunidades e criando suas estratégias de atuação”, afirma Cledorvino Belini, presidente da Fiat do Brasil. Para que isso aconteça, o líder precisa transparecer credibilidade, confiança, senso de justiça e ética. Além disso – complementa –deve estabelecer parcerias e redes de valor e, principalmente, ser coerente na relação entre suas estratégias e ações. “O líder sustentável cria valor no presente, sem destruir os recursos do futuro.”
Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente da Petros, concorda com Belini. Para ele, o bom relacionamento do líder com o público interno da organização é fundamental para o êxito da sua missão de inserir a sustentabilidade na “base do negócio”. “O principal atributo do líder é ouvir e dialogar. O segundo é a transparência em relação aos projetos da empresa, às pessoas e aos públicos com os quais tem que se relacionar”, diz. Ele precisa também – acrescenta – estar convencido dos projetos que dirige e colocar-se emocionalmente em sua defesa. “Deve acreditar que as ações sustentáveis desenvolvidas pela empresa vão gerar valor para seus funcionários, comunidades e para a sociedade como um todo.”
Para Sérgio Amoroso, diretor-presidente do Grupo Orsa, o que distingue o líder sustentável dos outros é “não fazer o que todos estão fazendo”. “Um líder precisa impactar, já que a sustentabilidade ambiental vem crescendo e trazendo para a pauta uma discussão mais complexa entre as organizações”, argumenta. O mesmo vale para Olinta Cardoso, diretora de Comunicação Institucional da Vale, que acredita ser necessário ter a visão sustentável na estratégia e na operação do negócio, independente dos resultados que se espera obter. “O líder inspirador é aquele que baseia suas entregas em atributos que não são exclusivamente conseqüência da ação que está fazendo. Ele insere as questões ambiental e social como parte do negócio onde atua e das entregas que se compromete a fazer”, observa.
Quando o assunto é sustentabilidade, Sérgio Rosa, presidente da Previ, acredita que, antes de qualquer coisa, o líder precisa coordenar, com firmeza, o esforço de “fazer bem  a lição de casa” para apenas depois alcançar o público externo. “Primeiro, deve ter forte senso de responsabilidade em sua própria organização, com os colaboradores e com todas as atividades empresariais. Isso é ponto de partida para uma cultura de sustentabilidade”, comenta. Para ele, o líder precisa acreditar na melhora dos processos. Só assim é possível inovar, dialogar e prestar contas. “Melhor quer dizer que, além de economicamente eficientes, os empreendimentos podem gerar mais benefícios e impactos positivos do que vinham gerando para as comunidades e a sociedade”, afirma. Olinta complementa: “Primeiro, é preciso que tenha crença na vida. A partir do valor à vida, o líder passa a se reorientar por meio do respeito, da consideração e do olhar dos outros”.

O caminho das pedras

Este novo perfil de liderança sustentável prescinde de uma formação específica? Os entrevistados divergem na resposta. Amoroso, do Grupo Orsa, e Oliveira, da Petros, são enfáticos na defesa da tese de que as universidades ainda estão á margem do assunto. “A contribuição delas é nenhuma. Não vejo a universidade formando a convicção necessária aos líderes em sustentabilidade. Alguns vêm por experiência de vida, outros acabam indo pela moda, já que o mercado é competitivo. No longo prazo, a universidade seria importante para ensinar a trabalhar sob a ótica de sustentabilidade, não para implantar uma convicção de responsabilidade social”, defende Amoroso.
Para Oliveira, a universidade pode até ensinar questões técnicas do universo da sustentabilidade, destacando, por exemplo, a importância do tema para a gestão empresarial.  Mas ela “não ensina capacidade de dialogar nem transparência em relação às pessoas, aos projetos e aos setores com os quais você tem que lidar”. O presidente da Petros diz que esse tipo de ensinamento depende da experiência de vida de cada um. “Tem a ver com o ambiente em que se convive, os valores sociais nos quais acredita.”
Rosa, da Previ, pensa um pouco diferente. Em sua opinião, é importante que os jovens aprendam no ensino superior novidades envolvendo a sustentabilidade, e o ambiente acadêmico tem um papel importante na conscientização das novas gerações. “As universidades, nas suas diversas áreas, devem introduzir elementos tanto técnicos quanto de pensamento socioambiental dentro do pensamento da administração contemporânea. Hoje o tema inseriu-se no negócio”, acredita.
Ao contrário de Amoroso e Oliveira, Olinta, da Vale, considera fundamental o papel do ensino superior na formação de “uma nova consciência”. “A universidade deve colocar o estudante para olhar o mundo a partir de vários pontos de observação, não exclusivamente a partir de suas escolhas, mas considerando as escolhas e expectativas dos outros”, diz.

O desafio de convencer
Segundo Amoroso, do Grupo Orsa, vários são os abstáculo a serem superados pelo líder em sustentabilidade. Mudar mentalidades arraigadas é um deles. “A maior dificuldade no processo são as pessoas na empresa que não acreditam no que você está fazendo. No nosso caso, teve gente que achou que deveríamos reverter para os funcionários o percentual 1% do faturamento bruto que dedicamos à Fundação Orsa”, conta. Sua dificuldade é também a de muitos outros líderes, que acreditam no poder da sustentabilidade, porém lutam ainda para convencer o público interno e os colaboradores do alcance do conceito – não só para a organização, mas para o mundo.
Oliveira, da Petros, conhece bem o desafio de engajar públicos de interesse no processo de construção de uma cultura sustentável. “Nem todos os nossos fornecedores possuem a lógica do compromisso social. Mas a dificuldade está também em os investidores perceberem o quanto isso é importante para o futuro do negócio”, observa o gestor que administra um dos maiores fundos de pensão do País.
Não pro acaso, esta é também a principal dificuldade da Previ. Rosa comenta que as novas tecnologias podem oferecer certo embaraço administrativo, mas o obstáculo essencial é “produzir uma nova consciência de que é possível fazer as coisas de novas maneiras”. Em sua opinião, a gestão sustentável precisa de posicionamentos inovadores. “A organização como um todo, mas cada um dos seus integrantes, tem que estar consciente do seu papel nesse desafio. Cada um tem algo com que contribuir”, diz.
Belini, da Fiat, enxerga o componente humano como parte inerente do desafio da sustentabilidade. E recomenda caminhos. “Muitas vezes a dificuldade da responsabilidade social está na busca de ‘empoderar’ cada um dos participantes das ações para que seja alcançada a sustentabilidade do que se propõe”. Por um lado, acredita, é necessário criar mecanismos a partir dos quais os funcionários monitorem projetos em responsabilidade socioambiental e verifiquem a consistência dos resultados para a melhoria do negócio. Por outro, enfatiza Belini, as empresas devem estabelecer um cultura organizacional que fortaleça a auto-estima dos participantes da ação, “mostrando que a força de cada uma das realizações pode impulsionar o que vem pela frente, fazendo com que os benefícios para a sociedade se multipliquem de forma proporcional ao zelo, à dedicação de cada ator em sua função.”
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Além de resultados econômico-financeiros
O Global Compact, da Organização das Nações Unidas, estabelece para o líder do século 21 um papel importante na ampliação dos limites de ação corporativa em sustentabilidade, propondo que ele olhe para além dos resultados econômico-financeiros, faça o negócio criar valor para a sociedade, gerando bem-estar social.
Na visão de Wagner Pinheiro de Oliveira, presidente da Petros, este é um desafio complexo. “Isto significa conseguir mostrar para a sociedade e para os acionistas um compromisso que excede os da governança, ampliando-a. E que esse compromisso vai gerar sim retorno para os investimentos”, arrisca. Sérgio Amoroso, diretor-presidente do Grupo Orsa, complementa: “O desafio é enxergar o que eu chamo de dinheiro invisível, presente na sociedade. Identificar as oportunidades é o grande desafio.”
Olinta Cardoso, diretora de Comunicação Institucional da Companhia Vale do Rio Doce, compartilha da visão estabelecida pelo Global Compact. Segundo ela, o compromisso foi colocado para todas as lideranças da Vale. “E hoje há um esforço grande, um processo de desenvolvimento de competências que leva o líder a considerar não só o negócio, mas as questões sociais e ambientais como princípios de gestão”, afirma.
Cledorvino Belini, presidente da Fiat no Brasil, adota a mesma opinião. Para ele, consolidar um “paradigma autêntico de responsabilidade social”  demanda muito investimento por parte da empresa. Ainda assim, o esforço não deve ser apenas financeiro. “Exige atitude, desejo de mudança e consciência de cidadania. Exige compromisso com a modernidade, com seus parceiros de negócios em uma estratégia que incorpore o interesse articulado de todos em direção à sustentabilidade, ou seja, sobre sólido tripé: fortalecimento dos negócios, com eqüidade social e qualidade ambiental.”. Sem a combinação harmônica destes fatores nos processos de tomada de decisão empresarial –crê Belini — não haverá, no cenário internacional, mais “marca ou negócio que se mantenha perene.”
Sérgio Rosa, presidente da Previ, tem um ponto de vista diferente dos demais líderes ouvidos. “É complicado dizer que a empresa tem responsabilidade em gerar bem-estar social, porque isso é muito amplo. E pode confundir um pouco. A sua função é fazer negócio. O que se prega é que esse negócio seja feito com eficiência econômica, em primeiro lugar. E que, dentro do conceito de eficiência econômica, junte-se consciência social e ambiental”, argumenta.

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