Geração Y e Sustentabilidade

abril de 2013

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Por Leonardo Silveira

Desde 2008, tenho participado de uma série de fóruns que discutem o tema “Sustentabilidade” para geração Y e Z, os focos da organização onde trabalho.

Para os que não conhecem, a AIESEC é uma organização global, formada por jovens universitários e recém-graduados, presente em mais de 100 países, que há 65 anos busca desenvolver o potencial de liderança da juventude para causar impacto positivo na sociedade. Este desenvolvimento se dá através da experiência de gestão e liderança da própria organização, intercâmbios voluntários e profissionais envoltos num ambiente global de aprendizado.

No Brasil, já são 43 anos, com escritórios de Manaus a Porto Alegre, munidos de mais de 4 mil voluntários que organizam mais de 4 mil intercâmbios ao ano. E, da conexão com o tema que aqui falo, um dos valores da organização é agir sustentavelmente.

Na definição da própria organização, agir sustentavelmente é: “Agimos de uma maneira que é sustentável para nossa organização e sociedade. Nossas decisões levam em conta as necessidades de gerações futuras”. Mas uma pergunta que sempre é feita quando participo de mesas redondas ou debates sobre os interesses da geração Y é: Como se motivar com projetos de longo prazo ou termos como sustentabilidade uma juventude que é tida cada vez mais como impaciente, imediatista e que tem tido alta rotatividade no segundo setor, especialmente?

A geração Y tem características que em si não são muito diferentes das juventudes de outras épocas. Como a exemplo do trecho abaixo: “Porque a demanda por seu trabalho excede muito a oferta, jovens talentos estão em posição de ditar condições para seus futuros empregadores. Eles [Jovens Profissionais] exigem ser alocados em tarefas relevantes desde o primeiro dia de trabalho e que as pessoas para as quais trabalham lhe deem atenção e reajam à performance deles”. Familiar para geração Y, certo? O texto na verdade foi escrito e publicado em 1969, pela revista Fortune. O momento em que grandes sonhos, grandes ambições são formadas e começam a trilhar seu caminho é na juventude, e mesmo vários estudiosos de antropologia concordam que a visão e perspectiva sobre a vida toma diferentes rumos de acordo com sua idade física.

Portanto, salvo as características gerais de juventude, como poderíamos conectar as peculiaridades de geração Y com o tema sustentabilidade? O primeiro fator que me chama atenção é o que nos motiva. Em pesquisa recente que fizemos com nossos membros ao redor do país, quando perguntados sobre o porque se vinculam ao trabalho voluntário, 92% disseram: por desenvolvimento pessoal. Outros 87% responderam desenvolvimento profissional também como opção. Portanto, percebe-se que o maior motivador em suas experiências de trabalho se conectam ao quanto isto irá impulsionar e colaborar com o atingimento de seu propósito de vida e de carreira profissional, e o quão coerente as organizações se tornam ao vincular seu plano de negócios com sua missão de existir.

Num exemplo prático, se uma empresa de serviços tem dentre seus valores excelência e utilização sustentável de todos recursos envolvidos, como isso se transfere para o cotidiano de quem se vincula à esta organização? O que muda na entrega do serviço para outra empresa que não possui estes valores? Estes valores motivam a geração e fazem a diferença para retenção e trabalho de qualidade.

O segundo fator é a coerência. Costumo dizer que o produto deve ser a manifestação física da essência de uma organização. A Apple não precisa dizer a ninguém que é inovadora, basta pegar um iPhone e utilizá-lo que você identifica vários dos valores da organização, da missão de “quebrar ostatus quo“, “devolver ao homem a capacidade de gerenciar a máquina”. Este tipo de coerência é o que vincula o jovem a uma ideia, a alguma organização, a alguma causa. E acho que aí está a grande diferença: esta geração cresceu escutando das dificuldades que enfrentarão no futuro, de problemas que terão que resolver, terão que lidar com as “verdades inconvenientes” como diz Al Gore. A coerência de uma missão organizacional e o que a sociedade precisa, o que a geração cresceu ouvindo, faz a diferença para o engajamento com as causas.

O último fator é o de compreensão do porque a organização colabora para o setor. Na última semana, fui ao lançamento no Brasil do livro de Amory Lovins, um dos maiores ambientalistas do mundo. O livro “Reinventando o fogo” é um tratado sobre maneiras práticas de mobilizar e mudar atividades de diversos setores atualmente para tornar o retrato do ambiente mais limpo e sustentável. E uma das premissas que foi adotada para a construção do livro data da época do general Eisenhower, que dizia algo como: quando se tem um problema complexo, as pessoas tendem a quebrá-lo em pequenas partes e tentar resolvê-lo um a um. Mas, na verdade, o que se deve fazer é aumentar este problema complexo, levá-lo ao pior cenário possível, para tentar compreender o papel de cada grande setor para resolvê-lo de uma maneira sinérgica.

A reflexão do papel de um setor, de um propósito maior não só da sua organização, mas do papel do próprio setor para a sociedade, é o que favorece o sentimento de consciência de que, fazendo sua parte do todo, o equilíbrio fica mais próximo, e que se sabe o porque está trabalhando dia após dia.

Conexão de propósito individual com organizacional, coerência entre missão empresarial e necessidades sociais e compreensão do porque da organização contribui para a microrrevolução dos setores. Para mim, caso estes 3 fatores fiquem mais aparentes nas nossas frentes de atuação, conseguiremos trabalhar um forte engajamento desta geração com seu próprio futuro. Afinal de contas, liderança jovem não é uma opção, e sim uma responsabilidade.

Leonardo Silveira é presidente da AIESEC no Brasil, organização de 4 mil jovens brasileiros voluntários para desenvolvimento de liderança para impacto positivo na sociedade.

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