Entrevista Linda Murasawa 2024

outubro de 2024

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Entrevista Linda Murasawa 2024 - Ideia Sustentável

Sustentabilidade para todos: sejam grandes ou pequenas empresas

Com uma carreira profissional de longa data – como ela mesma define –, Linda Murasawa acompanhou a inclusão da sustentabilidade em grandes negócios e contribuiu para o fortalecimento dos financiamentos sustentáveis. Hoje atua como consultora e auxilia médios e pequenos empreendimentos.

 

De família budista, Linda Murasawa aprendeu, desde cedo, que deveria usar o conhecimento adquirido em benefício das pessoas. Quando se formou na área da computação, foi morar no Japão e trabalhou com sistemas de automação industrial para evitar catástrofes. “Meu papel era retirar pessoas que atuavam em locais com alta periculosidade, substituir o trabalho por equipamentos e fazer a recapacitação dessas pessoas. Meu pai é japonês e lá a cultura da tecnologia e dos valores é muito forte”, explica. Quando voltou para o Brasil, na década de 1990, não havia muita indústria tralhando com tecnologia, e ela foi para o setor financeiro cuidar de riscos e automação bancária.

Com uma sólida carreira nos setores financeiro e industrial, Linda viu de perto a transformação das grandes corporações em direção à sustentabilidade. Desde os primeiros passos do financiamento sustentável no Banco Real, até sua atividade atual como consultora para pequenas e médias empresas, ela tem sido uma protagonista na integração de práticas responsáveis em diferentes segmentos. Na entrevista, relata como a sustentabilidade deixou de ser um conceito distante para se tornar uma parte fundamental de todas as esferas de negócio, incluindo as empresas de menor porte, que ainda enfrentam grandes desafios para aderir a essas práticas.

 

Ideia Sustentável: Você trabalhava no setor financeiro quando surgiram os financiamentos sustentáveis. Como foi esse processo?

Linda Murasawa: Até os anos 2000, a ação social das empresas estava muito relacionada à filantropia – nada contra, pois as ações neste sentido são muito importantes. Quando passamos a falar em sustentabilidade, tivemos que pensar no negócio como um todo, nos clientes, fornecedores, etc. Foi quando comecei a estudar os financiamentos sustentáveis e vi que a razão deles existirem era levar a cabo a missão de um banco, que é alocar capital para gerar desenvolvimento social e econômico.

Nessa jornada, encontrei pessoas muito especiais, como o Ricardo Voltolini, com as quais formei uma corrente positiva de construção de conceitos e práticas. Estou com ele e sua equipe desde a primeira edição da Plataforma Liderança Sustentável, quando o meu então chefe no Banco Real, Fabio Barbosa, foi um dos líderes ouvidos pela Ideia Sustentável. Ele falou – e fala até hoje – muito bem sobre sustentabilidade, ele sabe engajar a equipe, os clientes e demais interessados. Fizemos muitas rodadas com os próprios clientes para entender as dificuldades, afinal, se você quer fazer uma transformação, precisa compreender o que tem de ser transformado. E uma coisa é a teoria, outra é a prática. Um exemplo disso foi em uma reunião de executivos no banco, em que o Fabio perguntou: “Estamos indo bem?”. Todos responderam que sim. Então ele perguntou por que a rua ao lado da empresa estava daquele jeito (com pessoas em situação de vulnerabilidade social). Ficou todo mundo desconcertado, sem saber o que responder. Foi naquele momento que nasceu o projeto coordenado pela área social em que eu trabalhava, chamado “A rua ao lado”, com iniciativas para inclusão social e geração de renda via cooperativas.

Naquele momento, com apoio do Fabio, percebemos que “estar bem” não se refere apenas a trazer resultados para o negócio. A transformação do banco veio da transformação de indivíduos, afinal, uma empresa é um coletivo de capital humano e intelectual. Por volta de 2008, com a fusão do Banco Santander com o Banco Real, o legado de sustentabilidade do Real foi incorporado à operação do Santander, e uma mistura de culturas aconteceu ali. No Banco Real, 26 mil funcionários que já falavam de sustentabilidade, enquanto os 28 mil do Santander não tinham ainda essa cultura. Foram anos de um intenso trabalho de integração, que contou com a perspicácia administrativa e estratégica do Fabio até chegarmos a uma nova cultura.

 

IS: Você acompanhou a transformação de uma grande corporação, foi um transatlântico sendo movido. Hoje você tornou-se uma porta-voz da sustentabilidade para além do mercado financeiro, e dedica-se a médias e pequenas empresas. É possível transformar qualquer tipo de empresa?

LM: Atualmente eu trabalho com consultoria em sustentabilidade para médias e pequenas empresas. Percebi que as grandes corporações estão em um patamar em que já conseguem se virar sozinhas, mas as menores não. Assim como o Ricardo Voltolini busca compartilhar conhecimentos, eu também comecei a dar aulas para disseminar a fundo o que significa sustentabilidade. Acredito que é preciso que haja algumas condições para a mudança acontecer nas empresas.

Primeiro, a liderança tem de estar envolvida, porque, se ela não quer, não adianta o funcionário ficar esperneando, vai parecer aquelas crianças que se jogam no chão para chamar a atenção dos pais. Além da liderança, as equipes precisam querer fazer, precisam ter conhecimento técnico para gerar resultados. O líder não faz nada sozinho, ele precisa enxergar a relevância de cada indivíduo, precisa dar um jeito de traduzir, por exemplo, o risco climático, para as operações do negócio. Não dá para entender muito do negócio e não entender de sustentabilidade, são entendimentos que não podem andar de maneira paralela.

 

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