Entrevista Guadalupe Franzosi 2024

A perspectiva da liderança para valores inegociáveis 

A executiva Guadalupe Franzozi uniu dois dos seus talentos para chegar a um ponto de sua carreira em que se considera realizada. Como executiva de grandes organizações descobriu que gosta de ambientes de negócios, de fazer e viver negócios. Mas, também, percebeu os impactos dos negócios sobre as realidades, para o bem e para o mal. E decidiu atuar para fortalecer os negócios do bem.

“Nós não mudamos a realidade sozinhos. Quando se trata de ESG, as teias ficam mais conectadas entre os diversos setores produtivos. E o papel da liderança para a transformação sustentável é o primeiro passo para estabelecer valores, credibilidade, dentro do sistema em que se está inserido”. Quem diz isso é a consultora Guadalupe Franzosi, que se descreve como mulher, mãe, uma argentina mais para brasileira, e engenheira química.

Guadalupe atuou em grandes empresas multinacionais, como Ingredion e DuPont, e mais recentemente foi cofundadora da Elaboraty, empresa focada em mentorias, na qual atua como CEO. “Mais do que uma consultora, eu sou uma conselheira. Eu gosto de aconselhar as pessoas”, conta. Ela destaca que sempre teve mentores homens e sente falta de referências femininas na carreira. “Hoje eu espero poder passar parte das minhas vivências e ajudar outras pessoas a transitar com um pouco menos de sofrimento”.

Ideia Sustentável: Você participa de atividades da Plataforma Liderança Sustentável há algum tempo. Como você se aproximou desse projeto?

Guadalupe Franzosi: Na época, eu estava como presidente da Ingredion, empresa norte-americana que fabrica principalmente ingredientes para indústria de alimentos e bebidas. Quando eu assumi a Ingredion, nós não tínhamos um plano firme de sustentabilidade. Estava no começo em nível global. E foi nesse momento que começamos uma jornada, trouxemos uma gerente para cuidar dessa área de sustentabilidade e ela já havia trabalhado com o Ricardo. Ela então trouxe a figura dele como a pessoa que nos ajudaria no engajamento da liderança. Entendo que o primeiro passo na jornada da sustentabilidade é colocar todo mundo diante de uma mesma visão e, assim, deixar a liderança levar essa visão para frente. A sustentabilidade é um esforço de muitos.

IS :Quando converso com executivos, eu sempre pergunto: a sua organização está preparada para reconhecer uma boa inovação quando aparece?

GF: Muitos executivos reconhecem a importância de equilibrar resultados de curto e longo prazos, mas isso tem se tornado mais difícil nas organizações. A sociedade busca resultados imediatos, frequentemente às custas do futuro, como investir menos agora e sacrificar retornos maiores em três ou cinco anos. Quanto mais complexa a inovação, mais tempo leva para mostrar resultados. Hoje, quando olhamos para os executivos, quantos se mantêm em uma mesma organização por longos períodos de tempo? No curto prazo, é como se fosse uma UTI e os cuidados no longo prazo.

IS: Um líder de uma organização não pode ter medo de perder o emprego, porque ele precisa tomar decisões nas quais acredita e que muitas vezes vai ter que defender diante de muita oposição. Você concorda?

GF: Penso que a coragem é uma qualidade muito importante. Mas a realidade é que todos eles têm contas a pagar e isso acaba obscurecendo a tomada de decisão de vários líderes. Acaba sendo mais importante perpetuar-se na profissão em que estão do que deixar um legado. Por isso, é preciso ter coragem, não de ter medo, mas coragem de enfrentar aquele medo com a convicção de que você vai ser bem-sucedida/sucedido no final.

IS: Do que você não abre mão nesta nova fase da sua vida? Quais são os seus valores?

GF: Eu não abro mão de liberdade, não precisar do emprego, isto quer dizer que eu sou livre para poder agir como eu penso, sabendo das consequências. Também valorizo muito a integridade: não ter que comprometer os meus valores, aquilo em que eu acredito. E da generosidade, temos que devolver um pouco para esse mundo e ajudar outros.