Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável na Rio+20

20 de junho de 2012

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O desafio de aplicar conceitos sustentáveis a cidades com um ritmo cada vez mais acelerado de crescimento populacional pautou as discussões dos dez palestrantes do painel “Cidades sustentáveis e inovação”, nesta terça à noite.

O tema marcou o encerramento do terceiro dia dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável, série de encontros com representantes da sociedade civil, comunidade acadêmica e científica e setor privado.

O arquiteto chileno Alejandro Aravena defendeu a necessidade de simplificar o processo de ações de medidas sustentáveis. Aravena defendeu que, mais do que tecer estrategemas complexos, é preciso usar modelos exitosos como ponto de partida. “A complexidade é paralisante”, argumentou o arquiteto.

Entre esse modelos, está o de Masdar, uma pequena cidade em Abu-Dhabi, cujo modelo foi apresentado pela diretora de sustentabilidade Nawal Al-Hosany. Graças a um planejamento eficiente, a cidade conta com espaços comunitários e bom transporte público. Desde a implantação de inovações sustentáveis, como telhados de prédios que geram até um megawatt de energia, Masdar viu a demanda energética cair em mais de 50%. A temperatura também é dez graus abaixo do observado em cidades vizinhas.

O arquiteto japonês Shigeru Ban e o americano Barry Bergdoll, curador-chefe de arquitetura e design do MOMA, falaram sobre o conceito de sustentabilidade aplicado a regiões que sofreram recentemente catástrofes naturais, como as que atingiram o Japão há um ano.

Convocado pelo governo do país para construir estruturas temporárias para os desabrigados, Ban falou sobre o dilema entre o uso dessas estruturas e de instalações permanentes. Sugeriu que houvesse cidades que se deslocassem pelo país. “Deveríamos fazer uma nova cidade, que fosse a capital do Japão, e muda-la a cada quatro anos. Talvez essa seja a chave para a sustentabilidade: parar de construir”, disse o arquiteto.

O canadense David Cadman, presidente do Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais, lembrou que desastres naturais serão mais prováveis caso não haja mudanças drásticas nas grandes cidades: “Dois terços da população vivem hoje em áreas costeiras. Se não reduzirmos o ritmo das mudanças climáticas, teremos grandes inundações em menos de 20 anos e, aí então, será muito difícil arranjar qualquer tipo de solução para as cidades”.

Ligada a todas as questões de sustentabilidade nas grandes cidades, a mobilidade urbana também foi discutida na mesa-redonda. O ex-governador do Paraná Jaime Lerner lembrou que 75% das emissões de carbono se originam na cidade e que metade delas vem do carro. “O carro é o cigarro da cidade”, comparou.

“O que já se investiu em bancos e na indústria automobilística daria para salvar todas as cidades do mundo, com qualidade de vida. Não é difícil ser sustentável se você usa pouco o carro, separa o lixo e mora perto do trabalho”, afirmou Lerner.

As grandes distâncias entre favelas e regiões centrais e os desgastantes deslocamentos de trabalhadores também receberam críticas do mexicano Enrique Ortiz, ex-presidente da Coalizão Internacional de Habitação. “As cidades viraram um paraíso de especulação imobiliária. Os pobres estão sendo enviados para muito longe.

Teve cidade no México que cresceu até 30 vezes. Não podemos pensar numa cidade sustentável com esses parâmetros”, afirmou Ortiz. A preocupação é compartilhada pelo senegalês Khalifa Sall, prefeito de Dakar, que destacou o intenso êxodo rural observado em algumas regiões africanas, e pela americana Janice Perlman, presidente do Projeto Megacidades, que há 40 anos trabalha com favelas ao redor do mundo.

Presidente emérito do Instituto Ethos, o brasileiro Oded Grejew lembrou que não bastam apontar problemas e ter ideias, é preciso estabelecer metas, prazos e sanções para governos que descumpram compromissos estabelecidos. “Sem uma cobrança forte, nada será feito”, afirmou Grejew. “Será muito frustrante se isso não der em nada”.

No fim do encontro, foram apresentadas as recomendações mais votadas pelo público online e pelos presentes da plenária. As escolhidas foram “A promoção do uso de dejetos como fonte de energia renovável em ambientes urbanos” e “O planejamento antecipado da sustentabilidade e da qualidade de vida nas cidades”.

Insatisfeitos com a pouca abrangência da lista de sugestões disponíveis, os palestrantes se dispuseram a fazer a redação de uma nova recomendação, que consolide os temas discutidos nesse diálogo.

Debate sobre Oceanos encerra os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável na Rio+20

O tema Oceanos reuniu dez debatedores, brasileiros e estrangeiros, entre acadêmicos, empresários e representantes de Organizações Não-Governamentais na última sessão dos Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável nesta terça-feira, 19 de junho. Do encontro, saíram três recomendações que serão apresentadas aos Chefes de Estado e de Governo durante o Segmento de Alto Nível da Rio+20, que se inicia no próximo dia 20.

Lançar um acordo global para salvar a biodiversidade marina em alto-mar. Esta foi a proposta eleita pelos cerca de dois mil membros da sociedade civil presentes no Riocentro. Evitar poluição dos oceanos pelo plástico por meio da educação e da colaboração comunitária foi a recomendação eleita pelas votações realizadas pela Internet, encerradas no dia 15 de junho.

Os debatedores, por sua vez, decidiram unir duas recomendações das que vieram da plataforma online: Desenvolver uma rede global de áreas marinhas protegidas internacionais; e a criação de mecanismos de governança global dos oceanos para preservar a biodiversidade e os recursos genéticos em um cenário de crescente nacionalização do ambiente marinho. A redação final será feita pelos organizadores.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto Carvalho, encerrou os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável. “Nós podemos dizer, hoje, que a Rio+20 é a maior conferência da história das Nações Unidas em termos de envolvimento popular. Este método de participação veio para ficar”, afirmou Carvalho. Ele informou que, em média, cada sessão contou 1,3 mil votos do público.
O moderador Philippe Cousteau abriu a sessão com uma declaração que seu avô, Jacques Cousteau, fez há 20 anos, na Rio 92. “Destaco a importância das delegações redigirem decisões originais.” Segundo Philippe, a participação da sociedade civil por meio dos Diálogos da Rio+20 é a essência desta inovação.

A falta de um entendimento internacional sobre a proteção dos oceanos foi o ponto mais destacado pelos debatedores convidados. Jean-Michel Cousteau ressaltou que 70% do planeta é agua e 65% dos oceanos são uma terra de ninguém, onde todos fazem o que querem. Costeau ainda acrescentou que esta é a grande oportunidade da comunidade internacional criar uma regulamentação para os oceanos.

“Na Eco 92, acreditava-se que os oceanos eram infinitos. Hoje, sabe-se muito bem que isso não é verdade, e ainda não fizemos nada. Essa pode ser a nossa última chance.”, enfatizou Sylvia Earle, fundadora da Fundação Mission Blue. A bióloga marinha da Western Austrália University, Asha de Vos, disse que a agenda dos oceanos é urgente. “Isso é imediato! Para amanhã, porque não temos mais 20 anos”.

Ela defende que a comunidade mundial se organize para atingir o objetivo que dissemina o conhecimento por meio das novas mídias disponíveis.

Grande defensor de que a reversão dos impactos ambientais reside na ciência e tecnologia, Segen Farid Estefen, professor da COPPE-UFRJ, ressaltou que os oceanos são uma enorme fonte de energia renovável.

“A energia criada pelas ondas, marés e mudanças de temperatura da água excede a necessidade do mundo.” Arthur Bogason, presidente da Associação Nacional de Proprietários de Pequenas Embarcações da Islândia, concorda e acrescenta que é preciso unir tecnologia com o conhecimento tradicional. “As pesqueiras costais são as mais sustentáveis. Criam três vezes mais empregos, sem perda de lucro, e seus pequenos barcos consomem até 10 vezes menos combustível. Até a fabricação dessas embarcações é local.”

A pesca predatória e sem controle foi apontado pelos participantes como um dos grandes desafios para salvar o ecossistema dos oceanos. Margareth Nakato, representante do World Fishermen Forum, defendeu as pequenas comunidades pesqueiras que, segundo ela, são as mais vulneráveis às mudanças climáticas.

“Para saber se os oceanos estão bem, precisamos ver se os peixes estão bem. Os peixes não vão bem.”, disse Ussif Rashid Sumaila, diretor da Fisheries Centre e Fisheries Economics Research Unit da British Columbia University. Ele acrescentou que é uma ilusão o homem acreditar que pode produzir peixes em fazendas marítimas tão bem quanto a natureza.

A poluição dos mares com os resíduos deixados pelos navios e os plásticos também é vista pelos especialistas como algo que precisa envolver governos e sociedade. “A total falta de governança sobre os oceanos impede que essas questões sejam tratadas com clareza. Precisamos investir na pesquisa sobre os reais impactos causados nos mares por essa poluição”, disse o representante do Global Ocean Forum, Richard Delaney.

ShajThayil, vice-presidente da Technical Services and Ship Management, apresentou números relevantes para discussão: 80% do lixo do mundo vai para o mar, uma garrafa plástica demora 450 anos para se decompor e os oceanos absorvem um terço das emissões de gás carbônico do mundo, ressaltando que isso leva a acidificação dos mares. “A acidificação tornará os oceanos irreconhecíveis.”, reforçou Robin Mahon, professor da University of West Indies.

“Nós não herdamos a Terra dos nossos antepassados. Nós só a pegamos emprestada das gerações futuras”, encerrou Shaj Thayil, fazendo uso de provérbio indiano.

Estrutura dos Diálogos

Os Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável iniciaram-se no dia 16 e terminaram nesta terça-feira, 19 de junho, na plenária do Pavilhão 5 do Riocentro. Foram dez rodadas de discussão, com dez participantes cada uma, que abordaram temas prioritários da agenda internacional de sustentabilidade.

A cada rodada, três propostas foram escolhidas, uma pelos palestrantes, uma pelos participantes da sessão e uma pelos internautas. As trintas sugestões mais votadas serão levadas aos Chefes de Estado e de Governo durante o Segmento de Alto Nível da Conferência.

Os temas dos Diálogos foram: (i) Desemprego, trabalho decente e migrações; (ii) Desenvolvimento Sustentável como resposta às crises econômicas e financeiras; (iii) Desenvolvimento Sustentável para o combate à pobreza; (iv) Economia do Desenvolvimento Sustentável, incluindo padrões sustentáveis de produção e consumo; (v) Florestas; (vi) Segurança alimentar e nutricional; (vii) Energia sustentável para todos; (viii) Água; (ix) Cidades sustentáveis e inovação; e (x) Oceanos.

Todos os debates foram transmitidos ao vivo no website das Nações Unidas: http://www.uncsd2012.org.

Mais informações:

(55 21) 2442-9444 | (55 21) 9438-1604 | [email protected]

www.rio20.gov.br

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