O velho racha entre países desenvolvidos e em desenvolvimento está de volta às mesas de negociação da Conferência do Clima. A um dia de sua conclusão, a edição de número 26, em Glasgow, é marcada por uma tensão diplomática que influencia o fechamento dos acordos esperados.
De um lado, nações mais pobres dizem que não tornarão suas metas de corte de emissões mais ambiciosas, como têm sido pressionadas pelos mais ricos a fazer, sem que eles coloquem recursos na mesa. Do outro, governos mais ricos não aceitam falar em maior volume de financiamento caso os países em desenvolvimento não cedam à pressão.
Sem mencionar diretamente esse cenário, o presidente da conferência, Alok Sharma, tenta encontrar uma saída. Ele admitiu numa coletiva de imprensa nesta quinta-feira (11/11) que, embora alguns trechos do texto final já tenham sido concluídos, os mais críticos ainda estão em discussão: finanças e a regulamentação do mercado internacional de carbono.
Os países mais afetados pelos impactos catastróficos das mudanças climáticas também lançaram um manifesto. Reunidos no Fórum de Vulnerabilidade Climática, eles anunciaram o Pacto de Emergência Climática, cobrando que os governos das maiores economias aumentem suas metas de corte de emissões a cada ano. Pedem ainda que essas nações cumpram o que prometeram e destinem os US$ 100 bilhões aos países mais pobres durante o período inicial previsto: 2020 a 2024.
A expectativa é que uma nova versão do rascunho circule durante a noite. Enquanto isso, facilitadores foram nomeados para desatar os nós – e o Brasil, que tradicionalmente era chamado a executar esse papel em COPs passadas, não está entre eles.
Numa conversa com jornalistas em Glasgow, Izabella Teixeira, ex-ministra de Meio Ambiente, disse que os países em desenvolvimento “colocaram a faca no pescoço” dos negociadores das nações mais ricas.
Na expectativa de que Glasglow entregue os pacotes para implementação do Acordo de Paris, Teixeira conta com avanços nas conversas diplomáticas até sexta:
“Não é possível que os países desenvolvidos insistam no erro de não darem um sinal concreto sobre as questões de recursos.”
Teixeira avalia que uma questão motivadora para financiar ações de adaptação nos territórios menos desenvolvidos seria o prognóstico dado no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). De acordo com o documento, o impacto das mudanças climáticas nos países mais vulneráveis devem criar novas rotas de migração, o que os mais ricos querem evitar.
Num pronunciamento feito por representantes da delegação da Bolívia, o estresse ficou evidente. O país disse haver uma tentativa de impor o “colonialismo do carbono”, numa referência à discussão de determinar no acordo de Glasgow que todos os países cheguem a 2050 com zero emissões líquidas. A abordagem ignoraria as responsabilidades comuns, porém diferenciadas, e não seria realizável para as nações mais pobres.
O dia na COP foi de repercussão do acordo climático fechado entre os dois maiores poluidores do mundo: Estados Unidos e China. Na quarta-feira, os enviados especiais dos dois países anunciaram o pacto inédito que foi muito bem-recebido.
Apesar das disputas em outras áreas, as duas potências parecem estar em paz na defesa de um clima equilibrado no planeta. O documento reforça a cooperação bilateral no combate às mudanças climáticas, inclui cortes nas emissões de metano – um dos gases de efeito estufa mais potentes -, fala na abolição gradual do carvão e se compromete a proteger florestas.
O pessimismo inicial em relação ao engajamento chinês provocado pela ausência do líder Xi Jinping em Glasgow esvaiu-se parcialmente. Xie Zhenhua, negociador nomeado para representar o país asiático, declarou que a China, ao lado dos EUA, “trabalhará em conjunto e também com outras partes para assegurar o sucesso da COP26 e facilitar um resultado que seja tanto ambicioso quanto equilibrado”.
John Kerry declarou que ambos são honestos e que reconhecem suas diferenças:
“Sabemos, certamente, quais são (as diferenças) e as mencionamos. Mas esse não é o meu trabalho aqui. Meu trabalho é ser o ‘cara’ do clima e me manter focado em tentar avançar essa agenda.”
No fim da quarta-feira, o Brasil recebeu mais um antiprêmio e acumulou o segundo “Fóssil do Dia”. A nomeação é tradicional na COP e se baseia nos países que mais fazem para bloquear o progresso das negociações, segundo a avaliação da ONG Climate Action Network (CAN).
A escolha se deu após uma análise do conteúdo do discurso do ministro de Meio Ambiente, Joaquim Leite, que teria “transportado o país inteiro de volta ao tempo”, diz a nota da CAN.
Em especial um trecho dito por Leite despertou atenção: “Temos que reconhecer que onde há muita floresta, há muita pobreza”. Para os ativistas, a declaração parece ter saído de um diário de viagem de um “colonizador missionário do século 18 viciado em ópio”.
A CAN justificou a antipremiação com uma crítica:
“Infelizmente, elas (declarações) confirmam a lógica ilógica e muito perigosa do governo brasileiro. Estes são números e comentários preocupantes que nos fazem desejar ter uma máquina do tempo para enviar o governo Bolsonaro de volta à era pré-histórica à qual suas ideias e políticas pertencem.”
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