COP26, dia 2: Proteção das florestas e corte de metano no centro do debate

abril de 2024

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Anúncios de grandes acordos marcaram o segundo dia de negociações na Conferência do Clima de Glasgow, Escócia. Pressionados pela emergência climática que se agrava à medida que gases de efeito estufa se concentram na atmosfera, chefes de governos se despedem da reunião nesta terça-feira (02/11) tentando passar a mensagem de que estão engajados.

A divulgação de maior impacto tem a ver com a proteção das florestas. Os 114 líderes que participaram das tratativas com o governo do Reino Unido, anfitrião da COP 26, assinaram um acordo para acabar com o desmatamento até 2030. O pacto, chamado formalmente de “Declaração dos Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra”,  também pretende reverter a perda florestal e a degradação até o fim da década.

As somas anunciadas e o número de participantes impressionam: serão destinados US$ 12 bilhões em fundos públicos e US$ 7,2 bilhões em fundos privados. Brasil e Peru, maiores detentores de áreas de Floresta Amazônica com 60% e 13% respectivamente, estão entre os signatários. Outras nações com grandes áreas florestais, com Rússia e Indonésia, também fazem parte.

Segundo o governo do Reino Unido, os participantes da declaração detêm 85% das florestas mundiais, que absorvem, por ano, cerca de um terço do CO2 liberado pela queima de combustíveis fósseis globalmente.

Sobre o acordo, Alok Sharma, presidente da COP26, declarou:

“As florestas são uma das nossas melhores defesas contra as mudanças climáticas catastróficas e essenciais para manter o objetivo de elevação máxima da temperatura em 1,5 °C. Este compromisso histórico ajudará a acabar com os efeitos devastadores do desmatamento e apoiará os países em desenvolvimento e as comunidades indígenas que são os guardiões de grande parte das florestas do mundo.”

Apesar de as florestas ganharem mais atenção como ferramenta poderosa para conter o aumento da temperatura, há muito do pacto para ser esclarecido. Ainda não está claro como o dinheiro será gasto, quem poderá se beneficiar e como vai funcionar governança do acordo.

Mais dinheiro contra o desmatamento

Paralelamente ao pacto de proteção das florestas, mais de 30 instituições financeiras declararam que vão agir de forma mais eficaz para barrar investimentos que, de alguma forma, estejam ligados ao desmatamento. Juntas, estas entidades fazem a gestão de cerca de US$ 8,7 trilhões em ativos.

Nessa mesma direção, a iniciativa Innovative Finance for the Amazon, Cerrado and Chacho (IFACC) vai destinar US$ 3 bilhões para países da América do Sul que queiram incentivar a produção sustentável de soja e de gado, livres de desmatamento.

Numa outra frente contra o corte das florestas, uma parceria entre países que produzem muitas commodities com governos que são grandes consumidores afirmaram em Glasgow que desejam romper o elo negativo que os unem. Estima-se que a expansão dos grandes cultivos agrícolas, como soja, cacau, carne e palma, esteja por trás de mais de 70% do desmatamento nas florestas tropicais.

As 28 nações que aderiram a este acordo, incluindo Brasil, Reino Unido e EUA, prometeram agir para limpar a cadeia de abastecimento de ilegalidades, apoiar pequenos agricultores, aumentar a transparência e adotar novas tecnologias, com menos impacto ambiental.

Na outra ponta, dez gigantes do mercado agro, como Cargill, Wilmar e Olam, se comprometeram a melhorar sua atuação para eliminar o desmatamento causado por seus fornecedores. Se as medidas forem efetivas, o impacto deve ser relevante, já que, juntas, estas empresas representam mais da metade do comércio global de commodities.

Povos indígenas protagonistas

Os anúncios foram bem recebidos pelas entidades brasileiras que acompanham as discussões em Glasgow. O alto montante de dinheiro disponibilizado, porém, não é garantia de bons resultados.

A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, iniciativa que, desde 2015, une empresários, produtores agrícolas, pecuaristas e organizações da sociedade civil na busca de soluções para as mudanças climáticas, comenta:

“Ponto fundamental para o sucesso deste processo será o reconhecimento da importância dos povos originários e de comunidades tradicionais, guardiões destes ecossistemas e detentores de valiosos conhecimentos tradicionais.”

Para os povos originários em específico, 14 países e doadores prometeram pelo menos US$ 1,7 bilhão até 2025. Os recursos devem ser usados para fortalecer os direitos de posse sobre o território dos povos indígenas e das comunidades, apontados por diversos estudos científicos como protetores das florestas e da natureza. Prova desse status de guardiões dos biomas é que apenas 1,6% do desmate no Brasil entre 1985 e 2020 ocorreu em terras indígenas, de acordo com levantamento recente feito pelo MapBiomas.

Metano em foco

Pela primeira vez em uma COP, um dos gases de efeito estufa mais potentes ganhou destaque: o metano. Ele é emitido para a atmosfera por meio da extração, produção e  distribuição de combustíveis fósseis, das atividades agrícolas e de pecuária – pelo popular “arroto” do boi -, aterros e estações de tratamento de esgotos.

Num momento histórico, 105 países assinaram o Compromisso Global de Metano, em que estabeleceram como objetivo o corte de 30% das emissões globais do gás antes do final da década de 2020.

Liderado pelos EUA, União Europeia e a presidência da COP26, o pacto foi assinado também pelo Brasil. As emissões brasileiras de metano geradas pela digestão dos ruminantes respondem por quase dois terços das emissões da agropecuária, com destaque para os rebanhos bovinos de corte e de leite que, juntos, totalizam 96,9% destas emissões.

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