Cláudo Salles – Setor elétrico discute propostas para Copenhague

28 de outubro de 2009

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Cláudo Salles – Setor elétrico discute propostas para Copenhague - Ideia Sustentável

O debate acerca da produção mais eficiente de energia no Brasil passa necessariamente pela discussão sobre as usinas termelétricas – defendidas por aqueles que acreditam em seu potencial de complementação energética e repudiadas pelos que consideram suas emissões de CO2 inadmissíveis em uma economia de baixo carbono.
Para debater essas e outras questões relacionadas ao setor energético, foi realizado no final de agosto o V Fórum Instituto Acende Brasil – Mudanças Climáticas e o Setor de Energia: Rumo a Copenhague.
O instituto é um centro de estudos e projetos voltados para o setor elétrico, que gera debates sobre políticas tarifarias, situação de oferta e demanda de energia, meio ambiente e sociedade, entre outros temas relevantes para a área de energia.
Confira a seguir entrevista realizada por Ideia Socioambiental com Cláudio Salles, presidente do Acende Brasil.
1- Como surgiu a ideia de organizar esse fórum?
Não existe produção e distribuição de energia elétrica que não interfira no meio ambiente, então buscamos avaliar essa interferência de perto a partir de questões como o processo de licenciamento ambiental, dilemas sociais na implementação de novas usinas (deslocamento involuntário), e mudanças climáticas – tema desse fórum. Por meio de estudos e debates tentamos trazer luz a essas questões do ponto de vista específico do setor elétrico, avaliando a produção de energia no Brasil, quais seus efeitos e o que podemos fazer para melhorar esse quadro.
2- Qual discussão tende a ganhar mais destaque no V Fórum Instituto Acende Brasil?
Temos uma grande expectativa em relação a esse evento, entre outros motivos, pelo fato de ele anteceder a Conferência de Copenhague, pois desejamos levar algumas conclusões que tenham sido geradas no fórum.
Pretendemos apresentar um diagnóstico da situação no Brasil, onde a produção de gases de efeito estufa a partir do setor elétrico como um todo é baixa (1,4%) na comparação com a média mundial (24%).
Não adianta “satanizar” a energia. É fundamental que o setor se torne mais eficiente do ponto de vista socioambiental para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas é ilusório acreditar que apenas impondo restrições conseguiremos resolver o problema. O esforço deve ser feito com base no tripple bottom line.
3- Qual a sua opinião sobre a atuação dos ministérios do Meio Ambiente, Minas e Energia, e Ciência e Tecnologia na busca por alternativas para a produção energética brasileira?
O que temos visto na pratica é que nem sempre os ministérios estão de acordo com a política que está sendo implementada. Fui testemunha de debates entre representantes de ministérios com posicionamentos ou visões totalmente assimétricas em relação a determinadas questões.
O Brasil perde muito com essa assimetria, mas pode ganhar se todos os seus principais órgãos responsáveis pelo o assunto consigam compartilhar um diagnóstico e uma política que seja de fato pensada sob a ótica do tripé social, econômico e ambiental.
Julgo extremamente importante o formato desse encontro, pois teremos a presença de representantes dos ministérios que lidam com essa questão. Então esperamos que eles se posicionem objetivamente em relação às propostas.
4- Como o setor avalia a discussão sobre a normativa nº 7 (que prevê a compensação de 100% do gás carbônico emitido por termelétricas a carvão e óleo)? Qual seria a forma mais adequada tecnicamente para utilização das usinas termelétricas?
Já demonstramos por meio de cálculos que a normativa nº7 é tecnicamente errada e isso foi reconhecido por vários segmentos do próprio governo. Espero que a questão seja revista brevemente porque a conseqüência dela será terrível para o país.
No que diz respeito aos aspectos técnicos, o Brasil tem um destaque positivo entre as nações pela sua matriz elétrica, que é predominantemente renovável (cerca de 80%).
Isso é absolutamente grandioso, mas também significa que não podemos abrir mão de uma complementação térmica. Cada usina produz o que chamamos de energia média ao longo do ano, mas do ponto de vista do consumo, a demanda brasileira não varia ao sabor das cheias e das secas, ela tem um crescimento homogêneo e deve ser atendida 100% do tempo.
Para fazer isso, única e exclusivamente com hidrelétricas, em um exemplo hipotético, precisaríamos de uma quantidade de usinas muito maior do que a atual, o que tornaria o sistema totalmente insustentável do ponto de vista econômico.
Desse modo, a melhor forma de tornar o sistema eficiente para sociedade como um todo é por meio da complementação térmica – diferente do excesso de contratação de usinas termelétricas com motores de combustão interna que houve recentemente, e está longe de ser a forma mais eficiente de se inserir as termelétricas no parque de geração brasileira.

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