Breves reflexões sobre a (in) sustentabilidade

20 de maio de 2008

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A considerar uma recente pesquisa da Ernst & Young, o clube dos produtos tidos como socioambientalmente incorretos, que já tem o cigarro, as bebidas alcoólicas e os armamentos, pode estar ganhando um novo e inusitado sócio. Trata-se do automóvel. Isso mesmo: o velho e bom carro, objeto de desejo de nove entre dez homens e um dos bens de consumo mais aspirados no Brasil e no mundo. A consultoria ouviu 70 analistas com o objetivo de avaliar os riscos estratégicos para os negócios em 12 setores da economia. Com o aquecimento global, o trânsito caótico dos centros urbanos e a crescente preocupação ambiental, a indústria automobilística já prevê lidar, nos próximos anos, com uma forte onda de rejeição e patrulhamento ideológico aos seus produtos.
Na Europa, ganha força o movimento pela adoção de bicicletas, pelo maior uso de transporte coletivo e pela substituição das tecnologias baseadas na matriz energética do combustível fóssil por formas mais limpas de energia. São dois os temas em jogo: um de natureza ecológica (a contenção da escalada das mudanças climáticas) e outro ligado ao âmbito cidadania no mundo urbano contemporâneo — o legítimo direito de ir e vir no espaço público, a uma mobilidade sustentável que não obrigue cidadãos a desperdiçarem horas de sua vida em engarrafamentos ou filas de ônibus e metrôs.
Este é, seguramente, um dos grandes próximos dilemas de quem vive nas metrópoles. E a sua solução exigirá um rearranjo de forças e interesses individuais, baseado no pacto intersetorial entre governos mais reguladores e fiscalizadores, empresas dispostas a repensar modelos de negócios, organizações da sociedade civil mais engajadas e indivíduos interessados em rever padrões de consumo perdulários. Difícil, mas não impossível.
Para as companhias que baseiam sua ação no conceito de sustentabilidade, esse quadro de crise iminente pode representar uma grande oportunidade. A Ford, por exemplo, já está trabalhando com alguns governos no sentido de ajudar a construir soluções de transporte público. Outras deverão seguir o mesmo caminho, senão por convicção em um mundo melhor pela conveniência de sobreviver e se perenizar.
Aos que acham exagerado o prognóstico do caos da mobilidade urbana –há cinco anos, muita  gente também achava o aquecimento global um delírio de abraçadores de árvores — fica a recomendação de um teste empírico: andar de carro, em São Paulo, às 18 horas de uma sexta-feira chuvosa. Andar é força de expressão.

Corrupção em alta

Em outro estudo, a Ernst & Young constatou o aumento da corrupção no mundo dos negócios, mesmo com a criação, nos últimos cinco anos, de leis mais rígidas. Depois de entrevistar quase 1200 líderes de grandes corporações em 33 países, das quais 58 na América latina (26 no Brasil), a empresa concluiu que um em cada quatro executivos alega ter enfrentado problemas recentes com a corrupção.
A crença geral é que leis anti-fraude, como o Foreign Corrupt Practices Act (FCPA), ajudaram. Mas não o suficiente. Exemplo disso  é a expansão do trabalho do comitê anticorrupção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que compreende 36 nações, o Brasil inclusive. Entre 2005 e 2007, o número de casos em análise saltou de 51 para 270. De qualquer modo, se aumentaram os casos, isso se deve a uma benéfica exposição pública do problema. Corruptos, assim como os morcegos, odeiam a luz.
Segundo a pesquisa, 18% das companhias afirmaram ter perdido negócios por se recusarem a pagar propinas a representantes de governos. Os setores mais suscetíveis são os de mineração, serviços públicos e seguros. As corporações brasileiras parecem mais preocupadas com o assunto do que a média mundial: 63% delas, contra 36% das internacionais, consideram os riscos relativos à fraude e à corrupção, na hora de adquirir uma nova empresa. É porque sabem onde, e com que intensidade, apertam os calos na nossa arraigada cultura do “por debaixo dos panos.”
Banco Real e a experiência wiki
Corrupção lembra, por raciocínio oposto, transparência. E transparência remete aos relatórios socioambientais. No artigo da semana passada, esta coluna ressaltou a intenção da Natura, apresentada em Conferência do Global Reporting Initiative (GRI), em Amsterdã (Holanda), de criar um portal de comunicação de ações sustentáveis, no formato wiki, aberto à colaboração de funcionários, clientes, fornecedores e acionistas.
O Banco Real acaba de lançar o seu. Com o nome de Experiência Real (www.experienciareal.com.br), o site apresenta, na forma de linha do tempo, os projetos e iniciativas do banco, com os quais o internauta pode interagir, acionando a opção “adicionar conteúdo” para inserir uma mensagem de texto, um arquivo de vídeo ou de áudio. Um dos objetivos declarados do portal é, internamente, estimular a melhoria das relações com as partes interessadas, criando proximidade efetiva; e externamente comunicar melhor o modelo de gestão sustentável adotado pelo banco, inspirando que outras empresas sigam a mesma trilha.
Nesses tempos de interdependência, exemplos de comunicação online e colaborativa, pelo que têm de inovador na forma e corajoso na decisão de expor a organização à opinião do outro, sem subterfúgios, devem ser vistos como instrumentos de promoção do conceito da transparência. Resta acompanhar como eles vão evoluir.

Artigo publicado no Jornal Gazeta Mercatil em 20/05/2008.

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