As empresas na Rio+20

20 de junho de 2012

Compartilhe:
As empresas na Rio+20 - Ideia Sustentável

Por Cláudia Piche

Enquanto os negociadores internacionais se mostraram exímios em extrair compromissos do texto oficial a ser aprovado pelos chefes de Estado na Rio+20, o setor empresarial parece cada vez mais disposto a assumi-los. Durante quatro dias, cerca de 1.500 empresários e representantes do setor privado de todo o planeta estiveram reunidos em hotel na Barra da Tijuca para o Fórum de Sustentabilidade Corporativa do Pacto Global: Inovação e Colaboração para o Futuro que Queremos, que entra para a história como o de maior nível de participação da comunidade empresarial entre todas as conferências já realizadas pela ONU. Somando-se a participação de representantes de governos, da academia e organizações da sociedade civil, o número de inscritos no evento ultrapassou os 2.700.

De concreto, essas empresas firmaram mais de 200 compromissos sobre temas relacionados à sustentabilidade – muitos deles com o estabelecimento de metas e prazos, ao contrário do que se vislumbra ocorrer com as Nações. Entre eles, estão, por exemplo, os planos da Microsoft para neutralizar sua pegada de carbono em 1º de julho, os projetos da Unilever para reduzir à metade as emissões de gases gerados por seus produtos até 2020, e o programa da Nike para eliminar poluentes químicos de toda a sua cadeia produtiva, também até 2020.

As corporações participantes do encontro aprovaram, ainda, potenciais colaborações multistakeholder para mudanças transformadoras nos setores de energia, água, alimentos e empoderamento das mulheres (veja, abaixo, alguns desses compromissos), além de destacar o poder do setor privado na inovação e no incremento do desenvolvimento sustentável. Promessas de negócios e muitas recomendações políticas serão entregues amanhã ao Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, e aos chefes de Estado presentes na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), como parte de uma contribuição bastante considerável do setor privado em todo o processo.

A Rede Brasileira do Pacto Global também não ficou de fora: entregou ao governo brasileiro uma carta, subscrita por 220 empresas de atuação nacional, contendo dez compromissos – sem, no entanto, apontar metas – e cinco recomendações ao governo para que, atuando em parceria, seja possível construir um novo cenário para os próximos 20 anos, na pavimentação realmente efetiva de caminhos para o desenvolvimento sustentável.

Quantidade e qualidade

Para além dos resultados numéricos, no entanto, o evento organizado pelas empresas mostrou-se de uma riqueza qualitativa incomum. Durante os quatro dias de discussões, realizaram-se 91 painéis sobre todos os temas possíveis – contemplando desde as oportunidades da economia verde à importância dos catadores de lixo para a nova economia até as de títulos tão improváveis quanto “Construindo Padrões de Sustentabilidade para os Mais Necessitados”, evidenciando-se, portanto, uma visão de inclusão social, associada à preservação ambiental, talvez jamais vista entre instituições do setor privado.

A dinâmica do encontro também se revelou inovadora. Em vez dos tradicionais palcos com a grande mesa de debatedores e cadeiras enfileiradas na plateia, a maior parte das seções privilegiou as mesas-redondas, em que os participantes, depois de ouvir e questionar os palestrantes, formavam grupos de trabalho para discutir questões pertinentes ao cotidiano das empresas, como bem-estar no trabalho, valores corporativos ou adoção de princípios anticorrupção.

Os moderadores – representantes de todos os setores – também se mostraram bastante hábeis em não apenas realizar uma amarração das exposições de palestrantes, questionamento das plateias e discussões em grupo como também estabelecer compromissos aqui e agora entre todas as partes envolvidas.

Um exemplo foi a seção intitulada “Bons Modelos de Negócios para um Futuro Sustentável”. A mesa, mediada por Simone Cipriani (Ethical Fashion Initiative), foi composta por Aminata Traoré, Auret van Heerden e Willa Shailt (que trabalham com artesãos em diferentes organizações na África), Ilaria Fendi (sim, a ex-estilista da famosa marca italiana construída por sua família, hoje responsável por uma confecção promotora de comércio justo) e os brasileiros Leonardo Boff (Teologia da Libertação), Oskar Metsavaht (estilista da Osklen), o ministro Gilberto Carvalho (secretário-geral da presidência da República) e Roberto Rocha, presidente do Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos. Ao final de quatro horas de conversas, a seção – que literalmente uniu o lixo, na melhor acepção da palavra, ao luxo – terminou com o lançamento de um Comitê Consultivo Internacional para promover parcerias de negócios sustentáveis ??que sejam justos, verdes e beneficiem os mais pobres.  De quebra, selou-se o compromisso dos representantes internacionais em expor seus produtos na próxima Expocatadores, que acontece em novembro.

Se há uma palavra que resuma e defina o Fórum Corporativo do Pacto Global na Rio+20 trata-se de PARCERIA. “Entrando no processo da Rio+20, preocupava-nos que as ações das empresas em um cenário de deterioração dos recursos naturais e das pressões cada vez maiores da sociedade global precisavam ser drasticamente ampliadas para se chegar a um ponto de inflexão”, disse Georg Kell, diretor do Pacto Global, no encerramento do evento. “Sabemos agora que o momento é aqui e que não há mais volta para os negócios”, sentenciou. Faz todo o sentido, portanto, citar aqui uma das frases mais emblemáticas desse grande encontro, proferida pelo teólogo Leonardo Boff: “O contrário de pobreza não é riqueza. O contrário de pobreza é justiça.” Sustentabilidade, afinal, significa justiça, na sua mais completa tradução.

Conheça alguns dos compromissos assumidos pelas empresas no Fórum de Sustentabilidade Corporativa da Rio+20:

Cerca de 200 compromissos corporativos em áreas que vão desde a neutralidade de carbono e infraestrutura para reabastecer ambientes naturais até quadros de multi-interessados ?em ação sobre a biodiversidade, água e investimentos em empreendimentos sociais;

Um comunicado de 45 CEOs de empresas para os governos, detalhando as áreas onde apoio, regulamentação e incentivos podem promover o progresso na entrega de água potável e acesso a instalações sanitárias, além de apontamentos para os setores de infraestrutura que exigirão maior investimento nas próximas décadas;

O lançamento de um novo quadro de política corporativa para ajudar as empresas no desenvolvimento, implementação e divulgação de políticas e práticas relacionadas aos ecossistemas e à biodiversidade;

Lançamento de um estudo sobre o panorama do investimento social privado projetado para grandes corporações, investidores institucionais e governos interessados ??em incubar, iniciar e ampliação empresas de pequeno porte com missões sociais e ambientais;

O Pacto Global da ONU e um grupo de 16 empresas-líderes e suas partes interessadas do setor alimentar e da agricultura comprometeram-se em defender o desenvolvimento de princípios globais empresariais voluntários sobre boas práticas e políticas para a agricultura sustentável. Esta iniciativa tem por objetivo desenvolver um entendimento comum e um acordo sobre quais recursos são necessários e os impactos da comunidade global para transformar mercados e sistemas de suprimentos agrícolas;

Um compromisso por cinco Bolsas de Valores, coletivamente, listando mais de 4.600 empresas, em promover o investimento sustentável. Um primeiro passo foi dado para a chamada global foi dado a partir do “Sustainable Stock Exchange”, iniciativa para melhorar a divulgação da governança ambiental, social e corporativa e desempenho das empresas cotadas;

Compromissos de 60 instituições de Ensino Superior com Princípios Para a Iniciativa Responsável de Gestão da Educação, para integrar melhor o desenvolvimento sustentável nos currículos de escolas de negócios em todo o mundo.

Uma plataforma online de Princípios de Fortalecimento da Mulher para fazer avançar a transparência e divulgação sobre as questões da igualdade de gênero no mundo dos negócios;

Mais de 70 empresas, governos e organizações internacionais endossaram a Plataforma da Indústria Verde, uma iniciativa para integrar considerações ambientais e sociais em operações empresariais por meio do uso eficiente de energia e matérias-primas, práticas inovadoras e aplicações de novas tecnologias verdes;

Os executivos-chefes de 37 bancos, fundos de investimento e companhias de seguros apresentaram uma abrangente Declaração de Capital Natural, voltada para a integração de considerações de capital natural em seus produtos e serviços.

Cláudia Piche é diretora de Conteúdos da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade e editora da revista Ideia Sustentável.

Descubra como podemos ajudar sua empresa a ser parte da solução, não do problema.

A Ideia Sustentável constrói respostas técnicas eficientes e oferece soluções com a melhor relação de custo-benefício do mercado, baseadas em 25 anos de experiência em Sustentabilidade e ESG.

    Entre em contato
    1
    Posso ajudar?