Artigos – Uma questão de princípios

Artigos – Uma questão de princípios

Segundo o dicionário Aurélio, ética é o conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano. Escrever sobre ética em tempos de crise, nos convida a muitos momentos de reflexão. Em tempos de crise, de denúncias, de descobertas de malas cheias de dinheiro, de ataques, retruques, longas horas de depoimentos em CPIs, a reflexão tem que estar presente para nos balizar a não perder ou tergiversar ao que realmente importa e é real.
A corrupção existe e é real. O sonho de construir um Brasil melhor também existe e é real. Os lobbies também existem e são reais. Fazer lobby é ético? Até que ponto fazer lobby arranha a ética? Qual o limite da ética que existe ou deveria existir na relação entre anunciantes, veículos de comunicação, governos e marcas? Qual o limite da ética que deve existir entre os interesses que as pessoas, corporações têm sobre determinado assunto ou produto? São perguntas que cada um, com seus próprios, valores poderá responder.
No Brasil, os vários segmentos da economia têm profissionais especializados em fazer lobby. Da indústria farmacêutica à indústria automobilística. Do setor agropecuário às ações de entretenimento. São os sem terra, é o movimento ruralista. São os evangélicos, os católicos, as feministas, o movimento gay. O lobbyfaz parte da sociedade moderna contemporânea. Freqüentemente acompanhamos em votações expressivas no Congresso Nacional ações de pressão de determinados segmentos. A democracia presta também este grande serviço à sociedade: todos têm espaço para se expressar e direito de exercer pressão para ter uma reivindicação atendida.
Faz parte da vida. Faz parte do jogo democrático. Creio ser justo, por exemplo, fazer lobby para o que considero ações “do bem”. Faço, sem nenhum problema, quando ligo para algum jornalista e defendo uma pauta que vai falar positivamente sobre alguma ação de cidadania.Faço o maior lobby para apoiar,aqui de meufront, o trabalho de Júlio Lancelotti, fundador da Casa Vida, que cuida de 36 crianças com HIV, no bairro paulistano da Moóca). Faço lobby para apoiar as ações que acontecem na Casa Brenda Lee, no centro de São Paulo, com38 transgêneros portadores de HIV. Tento fazer o maior lobby para que os jornalistas falem mais de aids e prevenção e ajudem, por meio da informação, a que menos pessoas contraíam o vírus ou para que mais pessoas percebam nossa vulnerabilidade frente a esta epidemia.
Há diversos profissionais que acham justo fazer lobby para marcas e vivem disso. A hipocrisia que muitos querem disfarçar com um discurso ético é que não dá para deixar passar. A rádio Nova Brasil fez, outro dia, uma pesquisa perguntando: se você encontrasse uma mala com R$ 200 mil, procuraria o dono, tentaria devolver?
A maioria disse que não devolveria, ou não procuraria o dono real da mala. Eu gostaria que o resultado fosse outro ou, pelo menos, quero seguir fazendo parte da minoria que disse sim, eu devolveria a mala, procuraria o dono.
Em tempos de crise e de sustos por conta das crises é sempre bom ter claro quem você é, o que você quer e o que tem feito para um mundo mais cidadão e humano. Às vezes, com perguntas e respostas simples, fica mais fácil da gente conservar o rumo, o gosto e a cor da vida.
*Roseli Tardeli, jornalista, apresentadora e produtora cultural é fundadora da Agência de Notícias da Aids (www.agenciaaids.com.br)
 

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?