Análise do ciclo de vida auxilia tomada de decisão

3 de fevereiro de 2009

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Revista Ideia Socioambiental/SP
Em tempos de crise, economizar recursos naturais se tornou quase um pré-requisito para as empresas que desejam se manter economicamente saudáveis. Para isso, a análise o ciclo de vida se mostra como uma alternativa na busca de produtos e processos mais eficientes.  “O que essa crise mostrou é que pensar no curto prazo não é benéfico para a sociedade. As empresas que estavam orientadas no longo prazo estão mais preparadas para enfrentar a crise e vão ocupar a liderança quando houver uma recuperação do mercado”, avalia Sonia Chapman, diretora presidente da Fundação Espaço ECO.
Para identificar possíveis impactos ambientais no processo produtivo, cada dia mais empresas adotam ferramentas de análise para obter uma visão mais apurada do ciclo de um processo ou produto e efetivar possíveis mudanças diante dos resultados obtidos. Juntamente com questões relacionadas a custos e performance, a ecoeficiência representa um fator de decisão nas ações das empresas. Com uma compreensão melhor de toda a cadeia produtiva, as companhias conseguem ter uma visão mais abrangente para fazer os melhores investimentos.
“As crises vêm e vão, mas o negócio é perene. Mantendo o investimento em tecnologia independentemente de crise, se tem mais vantagem competitiva e uma estrutura estável. O importante é encarar a economia e o meio ambiente como um negócio de longo prazo”, avalia Fernando Von Zuben, diretor de meio ambiente da Tetra Pak Brasil.
Na visão de Sérgio Fortuna, executivo de gestão de informações da IBM Brasil, nesse momento de crise a eficiência operacional, que está sempre ligada à questão da competitividade, se torna extremamente critica. “Há uma carência enorme de informações para se entender as operações do dia-a-dia, onde há oportunidades e problemas”, avalia.
O setor privado tem utilizado a ferramenta de análise de ciclo de vida para a avaliação das consequências ambientais associadas a produção. A quantificação das emissões de poluentes e os efeitos do consumo de materiais para comunidades e ecossistema e a identificação de áreas são alguns dos aspectos avaliados que podem indicar oportunidades para tornar os produtos e processoa mais eficientes e o desenvolver novos negócios, como o exemplo da Tetra Pak. “Trabalhamos inicialmente com ciclo de vida para testar se uma embalagem nova no mercado tem impacto inferior ao que ela está substituindo. O ciclo de vida é uma ferramenta interna muito poderosa no sentido de melhorar os novos produtos em termos ambientais”, avalia Von Zuben.
De acordo com Luiz Alexandre Kulay, docente do bacharelado em Engenharia Ambiental do Centro Universitário Senac, a análise do ciclo de vida não resolve problemas, mas indica onde estes ocorrem dentro do espectro ambiental. “A ACV é uma técnica de diagnóstico de abrangência sistêmica, no entanto os resultados decorrentes indicam somente onde novas ações podem ser implementadas no sentido de melhorar o perfil ambiental do produto ou serviço. Cabe ao gestor tomar ações no sentido de empreender melhorias”, avalia.
Ferramentas de análise
Atualmente, existem diferentes ferramentas disponíveis no mercado que possibilitam a análise do ciclo de vida. Uma delas, desenvolvida pela BASF em 1996 – a chamada análise de ecoeficiência – representa uma nova metodologia para comparação de produtos, serviços ou processos.
“A análise de ciclo de vida mapeia certos parâmetros ambientais. O diferencial desta ferramenta é que ela também mapeia aspectos de toxicidade e riscos tanto no processo produtivo, quanto no uso do produto, que são aspectos mais sociais. Também inclui a dimensão econômica. Quando você toma uma decisão é necessário saber se ela economicamente viável”, destaca Sonia.
Os dados obtidos com a análise de ecoeficiência podem servir de base para a tomada de decisões estratégicas ou para a realização de pesquisas e ações de mercado. Também podem ser utilizados como fonte para o diálogo com os públicos de interesse das empresas.
Segundo Sonia, num primeiro momento, a análise permite avaliar a própria posição da companhia em relação a esses parâmetros ambientais e econômicos comparado a outras soluções que o consumidor dispõe, para consequentemente enriquecer o diálogo com os parceiros.
A Braskem, que utiliza a ferramenta desde 2005, avalia diversos benefícios desde a implementação do processo. Para Jaildes Britto, coordenadora de meio ambiente corporativo da empresa, a fase mais difícil foi a de adaptação.
“Tivemos que alinhar o processo junto a liderança, que precisa comprar a ideia. Depois passamos para a capacitação do corpo técnico e só então realizamos o levantamento consistente de dados. Outro grande desafio foi a incorporação do conceito no dia-a-dia”, destaca a coordenadora.
Na Tetra Pak, utiliza-se o banco de dados do Cetea (Centro de Tecnologia da Embalagem) para análise do ciclo de vida. De acordo com Von Zubem, um banco de dados que trate da realidade brasileira é fundamental. “Isso facilita muito, pois se tem as condições locais”, ressalta.
Para Kulay, o maior desafio para a ACV atualmente é a forma como os dados que retratam o ciclo de vida em análise são disponibilizados. “Um estudo dessa natureza tem escopo de aplicação desde o berço até o túmulo e as informações que refletem o perfil ambiental dos processos contidos no ciclo de vida, em muitos casos, excedem os limites físicos da empresa. Passam a ser necessários, dados de fornecedores e assim sucessivamente”.
A IBM desenvolveu uma metodologia própria de análise do ciclo de vida, disponibilizada tanto para uso interno como para clientes. “A revisão de processos implica mudar a forma como as pessoas trabalham. E se tratando de grandes empresas, fazer com que essa mudança permeie a organização em todos os níveis é o maior desafio”.
No início, a possibilidade de implantação de ferramentas de análise de ciclo de vida pode causar receio à pequenas e médias empresas devido ao seu alto custo. Porém, existem muitas possibilidades nesse cenário. Uma empresa pode avaliar primeiramente o seu próprio processo sem incluir, por exemplo, os fornecedores. Obter o conhecimento acerca de conceitos e práticas para mudança de hábitos internamente já proporciona um grande impacto positivo para o meio ambiente. Iniciativas como o Programa de Negócios Ecoeficientes (PNE), da Fundação Espaço ECO, ajudam a fomentar essa consciência socioambiental.
“Só uma pequena mudança na rotina já faz toda a diferença. Pode ser algo até mesmo patrocinado pelas grandes companhias, que desejam que as pequenas e médias fornecedoras também melhorem aspectos ambientais na sua gestão”, destaca Sonia.
Parcerias eficientes
A relação transparente entre empresas e seus diversos partes interessadas consiste em pré-requisito para a perenidade de qualquer negócio e pode ser possibilitada por meio da análise de ciclo de vida.
Para Kulay, é de extrema importância que o consumidor final tenha ao mesmo tempo informação e formação para empreender o processo de tomada de decisão de maneira consciente. “O consumidor deveria ter acesso a conteúdos e conhecimentos suficientes que lhe permitam tomar decisões. O nível de comprometimento do setor privado vem crescendo na medida em que a variável ambiental passa a ganhar força na relação fornecedor-consumidor.”, avalia.
De acordo com Sonia, a exigência dos consumidores é fundamental no processo de consolidação de padrões mais sustentáveis no mercado. Cabe às companhias, esclarecer a sociedade e não mais guardar resultados apenas para si.
A pressão por certificação e transparência não tem volta. Mesmo com a crise financeira as pessoas vão se perguntar cada vez mais como seus hábitos de consumo ajudam ou prejudicam o meio ambiente”.
Segundo Von Zuben, a Tetra Pak, inclusive, já revisou processos de suas embalagens após resultados obtidos com a análise para manter a credibilidade junto ao público. “Já chegamos a abandonar a produção de determinada embalagem por perceber que ela não seria aceita pela sociedade”, ressalta.
Entre os parceiros de negócios, as cobranças também são grandes. Uma empresa fornecedora que tiver a análise de ciclo de vida em sua gestão, por exemplo, terá mais credibilidade junto a seus clientes, pois proporcionará dados concretos de seus produtos e serviços.
“Os clientes precisam de todos os dados da cadeia. Como fornecemos a matéria prima, eles não podem fazer a análise completa sem essas informações. Muitas empresas acabavam ficando restritas a dados teóricos, pois nem todos os fornecedores oferecem uma análise de ciclo”, avalia Jaildes, da Braskem.
Em um mercado globalizado, a dinâmica competitiva impõe necessidades cada vez mais rigorosas de qualidade e controle de produtos e processos.
Segundo Kulay, a ACV vem ganhando força, sobretudo no mercado europeu, como técnica de diagnóstico de desempenho ambiental de produtos, mas a tendência é que evolua para outras regiões. A norma ISO 14025, que trata dos elementos necessários para a obtenção de ‘Ecolable’, por exemplo, exige a ACV.
“O mercado internacional, especialmente na América do Norte, Europa Ocidental e Ásia (em particular no Japão) está mais bem formado e informado em termos ambientais, o que predispõe maior rigor no atendimento de suas necessidades”, conclui Kulay.

O que é análise do ciclo de vida?
Ferramenta de mapeamento que avalia os impactos de processos e produtos no meio ambiente desde a sua concepção até o descarte.
A chamada “análise de ecoeficiência”, uma nova metodologia, também inclui aspectos sociais e de dimensão econômica.
Benefícios
– Ganhos ambientais
– Melhor seleção de projetos internos
– Auxílio na tomada de decisões para investimentos
– Obtenção de dados mais precisos para pesquisas e otimização de produtos
– Credibilidade com os públicos de interesse
-Redução de despesas operacionais
-Melhoria da imagem da organização

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