Oito dólares. Foi este o valor que o arquiteto Bruno Abramo pagou em um brinquedo Lego, para a filha, em uma viagem aos Estados Unidos. Com esta peça nas mãos, ele teve a ideia de usar um modelo parecido, em tamanho aumentado, para a construção civil.
Em pouco tempo, o investimento de 8 dólares se multiplicou em um contrato de mais de R$ 15 milhões que deu origem ao maior parque solar do país. Tudo feito com blocos modulares de encaixe fabricados a partir de plástico reciclado. Assim nascia, em 2016, a Fuplastic, empresa brasileira de soluções sustentáveis para a construção que hoje atua em 15 países.
A Fuplastic abriu caminho no mercado com a proposta de caixas de passagem – aquelas caixas subterrâneas que ficam abaixo das tampas nas calçadas e que garantem o acesso às redes elétricas, de telefonia, televisão e outros – feitas com estes Legos gigantes e reciclados criados por Abramo. Com o tempo, estas peças passaram a ser usadas também para a construção de lojas, quiosques e containers de grandes marcas como Havaianas, Mc Donalds, Oakberry, Swift.
Agora, elas se transformarão em casas. Em parceria com a ONG TETO Brasil, a Fuplastic apresentou a casa ecossustentável. Em cerca de 36 m², foram ressignificadas cerca de 2 toneladas de plástico retiradas do meio ambiente que serão a base das moradias construídas junto com a TETO em comunidades de São Paulo em que muitas famílias ainda vivem em barracos feitos de lona e chão de terra batida.
“Temos um piloto de casa que já foi validado. Eu morei nesta casa para validar a resistência, ventilação, tudo. Criei, construí com minhas próprias mãos, e morei ali dentro. Então, hoje, fornecemos para a TETO blocos ultrarresistentes, feitos de plástico totalmente reciclado, para construir casas que seriam feitas de madeira”, diz Bruno Abramo, que traz uma peça de Lego tatuada em um dos braços.
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As casas ecossustentáveis promovem conforto térmico, acústico e já chamaram a atenção de empresas patrocinadoras para o projeto, como o Airbnb.
CIRCULARIDADE
A Fuplastic processou, somente em 2022, 4 milhões de quilos de plástico que iriam parar nos aterros e se transformaram em blocos para construção.
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“Quando eu faço uma casa ela deve durar no mínimo 20 anos. Entretanto, se ela precisar ser desfeita, as peças voltam para nós para serem recicladas novamente e se transformarem em lojas, tapumes, quiosques. As peças nunca são perdidas, elas voltam”.
Segundo Abramo, a economia circular, além de ser a principal tendência atual, é uma obrigação das empresas.
“Para nós, a circularidade é um negócio. Hoje mesmo passei na rua, vi plástico jogado no chão, e pensei: isso vale dinheiro. Eu vejo o lixo como oportunidade. Sustento mais de 100 famílias só com isso. Cada tijolo que fabricamos tem cerca de 500 gramas de plástico reciclado. Acredito que o plástico está indo pelo mesmo caminho do alumínio, que todos sabem que tem um valor agregado e entendem que não deve ser desperdiçado”.
*este conteúdo faz parte do Especial “Economia Circular”, publicado mensalmente por NetZero, com o patrocínio da Papirus.