Réplicas – Ética e responsabilidade Social nos Eua, na Europa e na Ásia

dezembro de 2006

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Vivendo desde janeiro em Xangai, capital da China, onde é professor de Liderança de Responsabilidade Global na CEIBS (China Europe International Business School), o francês Henri-Claude de Bettignies lida com o desafio de lecionar temas ligados à responsabilidade social e à ética em um país caracteristicamente contraditório. Ao mesmo tempo em que desenvolveu seu sistema econômico com incentivo à entrada do capital estrangeiro, a China tem dificuldade em abandonar certas práticas autoritárias, como os freqüentes ataques aos direitos humanos.
Formado pela Sorbonne, com passagem pela Universidade Católica de Paris e Harvard Business School, de Bettignies é professor emérito do Asian Business and Comparative Management, no INSEAD e autor de seis livros, entre eles, Transformação dos negócios na ChinaNegócios e Ética: Política e PessoasLe Japon.
Em visita ao Brasil para participar do Fórum Balanço Social 2006, iniciativa da Aberje (ssociação Brasileira de Comunicação Empresarial) Henri-Claude de Bettignies relatou à repórter Marina Terra os principais problemas enfrentados pela China ao adaptar-se à nova realidade mundial da responsabilidade social empresarial (RSE) e avaliou a crescente demanda da sociedade por mudanças nas práticas sociais de empresas ao redor do mundo. Leia, a seguir, suas principais idéias.
Pássaros também são stakeholders
 
 
A primeira reação do empresário é achar que o bem-comum é responsabilidade dos Governos e das Ongs. E não das empresas. Para substituir esse pensamento, deve-se apresentar o bem-comum aos líderes de negócios como uma estratégia. Gradativamente a sociedade tem exigido uma mudança de comportamento das empresas. Aquelas que destroem o meio-ambiente, pagam propina, exploram crianças ou o trabalho escravo e que não dizem a verdade em sua propaganda, serão eliminadas da preferência do consumidor. Assimilar a pressão da sociedade será progressivamente uma necessidade para os líderes empresariais.
As corporações sabem que têm um novo papel a cumprir. Não podem mais focar-se apenas em maximizar o lucro do acionistas e usar mercadorias de valor como finalidade. Pássaros são stakeholders também. Tendemos a pensar que somente as pessoas possuem um papel no mundo. Mas e os animais, as plantas e os rios? O sucesso de qualquer empreendimento depende da participação de suas partes interessadas e por isso é necessário assegurar que suas expectativas e necessidades sejam conhecidas e consideradas pelos administradores. A RSE representa um instrumento de mudança. Pouco a pouco esse tipo de consciência aumentará nas companhias. Provavelmente, isso ocorrerá antes em empresas maiores, devido à sua maior visibilidade e exposição.
Lucro agora versus benefícios ambientais amanhã
 
A preservação do meio-ambiente é uma questão de escolha entre ganhos econômicos imediatos e a adoção de princípios éticos e responsáveis. Pressionado por uma lei que proíbe, por exemplo, a poluição dos rios, o CEO de uma companhia pode optar por pagar uma multa de 1.000 dólares e continuar lançando resíduos ou instalar um filtro de 2.000 dólares. Comportar-se eticamente é muito mais custoso. Alguns pensam que não serão pegos. Outros confiam que, se não se safarem, ainda poderão subornar um fiscal. Muitos culparão a competitividade. E dirão que ela exige trilhar caminhos mais curtos, pois se produz mais dinheiro e também porque, afinal de contas, todos fazem isso. Existe a tentação de pensar que se todos fazem não há problema em se fazer também. A cultura de um país impacta profundamente comportamento dos empresários. Mudar as práticas empresariais é algo muito complexo. Mas urgente e necessário.
Diferenças de foco da RSE nos EUA e na Europa
 
Nos EUA, as discussões são mais sobre ética nos negócios, código de conduta corporativa e governança corporativa. Já na Europa, as empresas abordam mais RSE e cidadania corporativa. Os norte-americanos são muitos bons para promover o comportamento responsável e ético do gerente. Naquele país, há a figura dos oficiais da ética, a quem cabe a responsabilidade de monitorar eventuais problemas de natureza ética. O gerente pode chamar esse oficial e alertá-lo em segredo para um comportamento irresponsável. Ele então decidirá o que fazer. Na Europa, não tem essa figura. Lá eles se preocupam mais em como a companhia, em suas políticas e estratégias, e em todos os seus setores, assegurará o cumprimento de um comportamento responsável.
 
Como os asiáticos lidam com a RSE
 
A influência do debate sobre a responsabilidade social na Europa e a ética empresarial nos EUA tem influenciado muito os países asiáticos. Eles já descobriram a importância do tema e a sua dimensão crítica tanto para a construção de uma boa imagem quanto para gerar a boa vontade do mercado. Assiste-se hoje a um movimento crescente criação de comitês e associações de líderes empresariais que tentam aprender com os americanos e os europeus.. Isso é visível na China e no Japão, onde existe especial aproximação com o tema governança corporativa. Observo um tipo de onda de expectativa progressiva com a RSE, devido às reuniões internacionais, associações internacionais, ao pacto global e a um grande número de Ongs atuantes. Companhias que inicialmente não eram particularmente preocupadas, estão hoje em alerta e partindo para a ação.
Crescimento às custas da responsabilidade social
 
A performance econômica é hoje prioridade na agenda chinesa. Com extraordinário desempenho, o País tem crescido 10% ao ano, ao longo dos últimos 10 anos. Mas na prática, isso vem ocorrendo com prejuízo das responsabilidades sociais. Num primeiro momento, o impacto mais claro é o do meio ambiente, muito desprotegido no país e em rápido processo de destruição. Em Xangai, onde vivo, é muito difícil ver o céu azul. A segunda área mais crítica é a da segurança no trabalho. Existem muitos acidentes, particularmente em minas e na construção civil, como conseqüência de um descaso em relação ás precauções mínimas de segurança. Muitas vidas são perdidas. Um terceiro ponto importante é o suborno. A corrupção em larga escala prejudica a imagem da China. E o quarto são as más condições sociais. particularmente de trabalhadores migrantes. Atraídos pelas boas oportunidades, milhares saem do interior do país para trabalhar nas cidades. Porém, não são bem tratados e vivem em situações precárias. O governo está consciente dos impactos. Mas entre o discurso do desejo de fazer e a prática de medidas concretas reside um grande abismo. É dever do líder daquele país criar leis. Mas e elas não são postas em prática, as empresas é que devem assumir a responsabilidade.
Desafios da RSE entre as empresas na China
 
As empresas chinesas podem ser divididas hoje entre três categorias: as grandes estatais; as companhias de pequeno e médio porte e as multinacionais. As estatais não estão em boa forma e algumas, ou foram adquiridas, ou firmaram joint ventures (operações casadas entre empresas) com parceiros estrangeiros. O grupo das pequenas e médias empresas possui variados stakeholders e tenta lidar com a sufocante competitividade do mercado chinês. As grandes multinacionais também realizam joint ventures, com parceiros chineses e são relativamente bem-sucedidas em meio a um panorama de extrema concorrência. O modo como a RSE é tratada difere conforme o tipo de companhia.
As empresas administradas pelo Estado têm um longo caminho a trilhar no que se refere à implementação de políticas ligadas ao campo social, porque se moldaram num sistema não compatível com as dimensões da RSE. No entanto, elas sabem que precisam se tornar socialmente responsáveis. Mas isso é algo novo e demandará muito aprendizado. As de pequeno e médio porte se interessam pela idéia da RSE, mas acreditam que este ainda seja um conceito pouco eficaz na China e que a sua adoção consumirá muito tempo útil. Por isso, o rejeitam, certas de que o melhor a fazer é sobreviver no ambiente hostil em que estão inseridas. Já as multinacionais realmente tentam executar a RSE. Agem na área de desenvolvimento há bastante tempo, aplicando normas que deveriam ser seguidas em todo o país. Essa medida aumenta a consciência, porque empresários chineses percebem que as multinacionais norte-americanas, européias e japonesas tendem a ser mais responsáveis e isso produz positivo na opinião pública e conseqüentemente na economia.

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