A economia da confiança

11 de junho de 2010

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Entre os inúmeros apelos pela reconstrução do sistema financeiro global que se seguiram à crise desencadeada pelo subprime nos Estados Unidos nos últimos dois anos, um relato chama atenção por vir de alguém que ajudou a construir essa estrutura. Em artigo publicado na Business Week, Shoshana Zuboff, professora de administração de Harvard e autora de The Support Economy: Why Corporations are Failing Individuals and the Next Episode of Capitalism, reconhece que as antigas regras ensinadas pelas escolas de negócios, além de terem ajudado a desestabilizar a economia global, não se adequam aos valores dos novos consumidores.
Esse seria mais uma entre muitas manifestações ao tom de mea culpa não fosse pela constatação que faz a seguir. “Agora, precisamos construir a ‘economia da confiança’, em que os negócios abandonem a mentalidade ‘nós-eles’ e cada vez mais tratem os consumidores e outros públicos de interesse como insiders”, reforça .
Esse depoimento é reproduzido no relatório The Transparent Economy, produzido pela Volans, em parceria com a Global Reporting Initiative (GRI), e lançado na Conferência Internacional dessa organização, realizada em maio. O documento procura traduzir como seria essa economia transparente – ou da confiança – e para isso realizou uma pesquisa com 2.292 membros da rede de relacionamentos da GRI.
O estudo reforça que a pressão por maior transparência exigirá das empresas a ruptura com modelos de gestão e pensamento tradicionais, o que dificilmente acontecerá sem alguma ‘dor’, bem ao estilo da destruição criativa, do economista Joseph Schumpeter.
Em muitos casos, a construção da economia transparente tem sido traduzida pelos negócios como mais tecnologia, quando na verdade diz respeito a uma cultura ancorada no diálogo, que passa por novos valores. Assim como caracteriza o guru Kevin Kelly, a economia de redes é fundada em tecnologia, mas ela só pode ser construída com base em relações.
Diante disso, cabe perguntar: as empresas têm respondido ao desafio de uma economia transparente? E, em caso positivo, têm endereçado esforços na direção correta?
Ainda segundo o relatório elaborado pela GRI e Volans, esse tipo de questionamento se torna ainda mais urgente à medida que quantidades significativas de recursos (humanos e financeiros) vêm sendo gastas para elaboração de relatórios de desempenho financeiro e socioambiental.
Na introdução do relatório, John Elkington, executivo-chefe da Volans, ressalta que apesar de grandes progressos terem sido atingidos com a disseminação da prática de reporting, ainda estamos muito distantes de uma economia transparente. “A sustentabilidade não será atingida sem uma forma profunda e abrangente de accountability (através das companhias, setores, economias e gerações). E a accountability não pode ser alcançada sem novas formas de transparência e engajamento de públicos de interesse”, destaca.
De acordo com o relatório The Transparent Economy, as empresas ainda têm dificuldade de aceitar que essa nova realidade exige perder o controle em alguma medida, permitindo que o diálogo evolua a um feedback – sem filtros e autocontrolado – dos defensores e críticos.
A fim de lançar luz nessa discussão, o estudo traça oito trajetórias para uma economia transparente. E como 2010 é o ano do tigre, elas foram denominadas de TIGERS, a partir da junção das suas letras iniciais em inglês:
(1) TRACEABILITY – Rastreabilidade de produtos ao longo de todo o ciclo de vida;
(2) INTEGRATED REPORTING – Reporting integrado;
(3) GOVERNMENT LEADERSHIP – Governos desempenham um papel de liderança na transição para a economia transparente;
(4) ENVIRONMENTAL BOUNDARIES – Necessidade de agregar informação sobre impactos ambientais das nações, cidades, indústrias, companhias e cadeias de valor;
(5) RATING AND RANKING – o papel dos esquemas de ranking e ratings para direcionar a competição
(6) SHADOW ECONOMIES – o combate à contínua – e em alguns casos crescente – presença de economias sombrias envolvidas em tráfico de drogas e sexual, comércio de armas, despejo ilegal de resíduos e corrupção.
Enquanto o modelo econômico atual, que tem no mercado financeiro seu maior símbolo, se assemelha a uma corrida de cavalos, marcado por altas apostas, a nova economia da confiança está mais para um jogo de xadrez. Cada jogada deve ser meticulosamente estudada, considerando uma série de variáveis, mas não sem a devida agilidade.
Diante desse cenário, os líderes serão avaliados não só pela sua capacidade de fazer apostas certeiras, a partir de decisões baseadas no seu background pessoal, e sim cada vez mais pela habilidade em movimentar de forma inteligente as peças do seu tabuleiro, uma vez que o conhecimento estará cada vez mais disperso na sua rede de relacionamentos. Está lançado o desafio para as lideranças na era da transparência.

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