Think more about

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Think more about – Jornadas de Sustentabilidade no norte da Itália têm como tema “a arte da liberdade”
Por Roseli Gonçalves

De 23 a 26 de maio, a pequena cidade de Bressanone, em uma região do norte da Itália chamada Tirol do Sul, foi palco de mais uma edição das Jornadas de Sustentabilidade think more about. Iniciado em 2011 pelo Terra Institute, uma organização de pesquisa, formação e consultoria, em cooperação com o Centro de Congressos Abadia de Novacella, ambos localizados nesta mesma cidade, o think more about vem se tornando uma referência em termos de evento sobre sustentabilidade na região da Europa Central.

Dando continuidade aos dois eventos anteriores, cujos focos foram, respectivamente, “a arte da cooperação” e “a arte da visão”, as jornadas deste ano tiveram como tema “a arte da liberdade”. Como um dos conceitos mais discutidos por filósofos de todos os tempos e culturas, liberdade, como tudo na vida, não pode ser pensada sem que sejam levados em consideração os conceitos, aparentemente contraditórios, de limites, obrigações, necessidades e condicionalismos. Como liberdade poderia ser percebida e vivida não em contradição, mas em combinação com estes demais conceitos, de forma que estes possam até mesmo ser reconhecidos como fatores facilitadores de liberdade? A decisão por um estilo sustentável de vida e de economia é a nossa única opção? Essa decisão é uma obrigação ou um compromisso assumido por livre escolha? A capacidade biológica da Terra significa uma limitação ou pode ser um convite à liberdade de se utilizar os recursos de forma sustentável?

Durante três dias, cerca de 1.500 participantes discutiram estas e outras questões relacionadas, em forma de palestras, plenárias, workshops e seminários. Acadêmicos, estudantes, empresários e agricultores locais e de outras regiões, políticos e representantes da sociedade civil deram suas contribuições sobre diversos temas de sustentabilidade, divididos em quatro categorias principais: empresas, política, estilos de vida e formação & sociedade.

À semelhança dos anos anteriores, o caráter relativamente regional do evento foi contrabalançado pela presença de personalidades reconhecidas internacionalmente pelo seu engajamento por um mundo mais sustentável. A convidada principal deste ano foi Helena Norberg-Hodge, ganhadora do Right Livelihood Award em 1986, pelo seu trabalho como pioneira da new economy e fundadora e diretora da International Society for Ecology and Culture (ISEC). Em seu discurso de introdução, Norberg-Hodge abordou o tema “interdependência e liberdade”, enfatizando que “a localização da economia fomenta liberdade individual e cultural, e que atuando localmente, podemos organizar nossas economias em torno das ideias de interdependência e diversidade em uma escala e em um ritmo mais humanos”.

Em uma conferência via skype diretamente de Bangladesh, a ex-modelo Bibi Russel, fundadora do Fashion for Development Project, duas vezes premiado pela UNESCO, prestou um depoimento ao mesmo tempo comovente e instigante sobre a condição ainda bastante precária dos trabalhadores têxteis em seu país. Bibi Russel apontou para a necessidade urgente das grandes empresas produtoras de moda, através de seus líderes, tomarem a frente em prol de uma mudança de paradigma rumo a formas de produção sustentáveis, que respeitem o direito/a liberdade das populações locais de trabalhar e viver em condições humanas dignas.

Outras contribuições importantes foram os workshops e seminários paralelos, que abordaram temas como gestão empresarial holística, economia solidária, economia do bem comum, economia do pós-crescimento, decrescimento feliz, banco ético, transformação social através de inovação, comunicação sem violência como fator determinante para mudar o mundo, transition towns, a magia da agricultura biológica, formas sustentáveis de alimentação, mobilidade sustentável, reciprocidade entre desenvolvimento sustentável e educação etc.

São tantas as opções e todas tão interessantes que fica realmente difícil fazer uma escolha sem deixar de pensar que se está perdendo algo também de muito importante. Por outro lado, as diversas formas de participação nos convidam a interagir com outros participantes, trocar experiências, se conectar a redes já existentes e formar outras novas e propor ações conjuntas a serem desenvolvidas/implementadas localmente ou através destas redes.

Enfim, a oportunidade de ver, ouvir e interagir com pessoas que já vêm fazendo a diferença, seja a nível global ou em suas comunidades locais, é uma experiência muito enriquecedora, que inspira a “botar a mão na massa”. De volta à Bremen, cidade onde vivo, com a cabeça cheia de ideias e a agenda cheia de novos contatos, já iniciei um grupo de trabalho para dar continuidade às discussões sobre formas práticas de intervenção individual e coletiva, entendendo que “a arte da liberdade”, ao contrário do que é pregado pela mainstream economy, é um elemento propulsor de sustentabilidade.

Roseli Gonçalves é graduada em Estatística pela UFRJ, cursou Letras (alemão e línguas românicas) na Universidade de Bremen/Alemanha e é mestre em Gestão Responsável pela Steinbeis University Berlin. Vive e trabalha em Bremen desde 1991.

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