Por João Carlos Brega
Liderar para a sustentabilidade tem uma equação clara e desafiadora na agenda dos líderes de grandes empresas: cultura empresarial + projetos inovadores + expectativas dos consumidores + funcionários alinhados a tudo isso.
Acordar todos os dias com a missão de inserir a sustentabilidade nas tarefas cotidianas e em todas as frentes de atuação da companhia, seja de processos ou produtos, pode parecer um grande desafio para quem tem seu tempo tomado por reuniões, planejamentos e viagens. Por isso, a primeira missão de um líder é incentivar o desenvolvimento de valores, conhecimentos e atitudes em todas as áreas, em prol da criação de uma cultura de sustentabilidade. Sozinho, ele não conseguirá nada.
A mesma responsabilidade que um líder tem de engajar os funcionários da sua empresa pode ser colocada às grandes empresas com relação aos consumidores: é cada vez mais clara a relação de interdependência, não apenas comercial, desses dois atores.
Vamos tomar como exemplo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a ser implantada no Brasil em 2014, para o setor de eletrodomésticos e eletroeletrônicos. O principal avanço da discussão da logística reversa no país foi elevar o tema para uma divisão compartilhada de responsabilidades, no qual consumidor, indústria, varejo e governo passaram a ter papéis e funções distintas e complementares: os consumidores entregam os produtos no final do ciclo de vida em postos de coleta disponibilizados por comerciantes ou distribuidores. O varejo, por sua vez, faz a devolução aos fabricantes e aos importadores, que providenciam a triagem e a disposição final com o suporte do setor de recicladores.
A iniciativa não é inédita. Os modelos de logística reversa desenvolvidos em países da Europa, como Portugal, Espanha, Inglaterra e Alemanha, são baseados no mesmo conceito. Mas, no Brasil, este é um grande fator de diferenciação, tendo em conta a expansão do mercado interno, que vem propiciando um crescimento acelerado do consumo, e as dimensões do país, com um enorme parque instalado de produtos.
A designação de compartilhar responsabilidades é fundamental para o funcionamento da lei. A questão a ser levantada é se todos os atores envolvidos já têm compreensão clara de seus papéis.
À medida que os prazos para definições de acordos setoriais se aproximam, fica mais latente a necessidade do efetivo envolvimento e comprometimento dos consumidores com questões como a coleta seletiva e a destinação ambientalmente adequada dos bens que consomem.
Além disso, vale lembrar que a proatividade e conscientização do consumidor também são fatores que assegurarão a manutenção do modelo de logística reversa proposto pela indústria de eletroeletrônicos, uma vez que ele parte da iniciativa do próprio consumidor em transportar e entregar, de forma voluntária, o produto nos postos de coleta.
O investimento no desenvolvimento de produtos com alto índice de reciclabilidade, recolhimento de embalagens e centrais de reciclagem, além da diminuição e do reaproveitamento dos resíduos provenientes do processo de produção, são fundamentais, mas não é o suficiente.
É necessário que os executivos olhem além e reconheçam a importância e a responsabilidade de criar programas para conscientizar seus consumidores. Isso vai muito mais além do desenvolvimento de linhas de produtos “verdes” e, certamente, vai exigir cada vez mais o olhar, o envolvimento e a dedicação da alta liderança das empresas. Se não estiver ainda, sugiro colocar este tema na sua agenda de 2014.
João Carlos Brega é CEO da Whirlpool S.A., dona das marcas Brastemp, Consul e KitchenAid.
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