Precisamos ter a coragem para falar (e muito) sobre assédio dentro do ambiente corporativo. Mais do que falar, agir com políticas claras. É o que pretende a Sinqia, desenvolvedora de software para o mercado financeiro. Baseada em pilares como informação clara, estruturada e amplamente divulgada entre seus 2 mil funcionários e um canal de comunicação sempre aberto, a empresa aposta no reforço de sua política contra o assédio – moral e sexual.
“Pode parecer besteira mas não é: quando o assunto é assédio de qualquer tipo dizer o óbvio é fundamental para calibrar expectativas”, diz Laura Gibin, coordenadora de governança, risco e compliance da Sinqia. Relatos de funcionários mostravam desconhecimento ou confusão sobre o tema.
“Ou tudo era considerado assédio ou, por outro lado, a pessoa estava, sim, sendo assediada e não sabia. Foi preciso esclarecer”.
O primeiro passo da empresa foi atualizar seu código de conduta e botar no papel conceitos e regras básicas. O documento diz de forma precisa o que a companhia quer e o que não aceita. Há proibições expressas a qualquer tipo de pratica de discriminação, preconceito e assédio.
O passo seguinte foi o de garantir a ampla divulgação do documento para todos os colaboradores por meio da intranet. Houve também ações para aprimorar esse conhecimento, como um treinamento geral, com a apresentação de conceitos em linguagem jovem (público alvo da empresa) e com exemplos atuais. Na conversa, as seguintes regras foram colocadas:
Uma cartilha sobre assédio para se ter à mão foi colocada na plataforma da universidade corporativa.
ESCUTA ATIVA
A Sinqia criou também um novo canal de denúncias. Hoje o sistema é gerido por um fornecedor externo, que garante sigilo, confidencialidade e segurança na comunicação. Também permite a gestão dos relatos para facilitar as investigações corporativas.
“Nós, como compliance, não podemos estar em todos os lugares da empresa ao mesmo tempo, por isso, para poder agir, precisamos que os colaboradores nos contem o que está acontecendo. Com um canal interno de comunicação, dificilmente teríamos estrutura para receber relatos via web ou telefone – antigamente isso era feito por email, dificultando o anonimato e conforto das pessoas.”
Uma das dificuldades é o fato de grande parte dos colaboradores da Sinqia trabalharem em modelo híbrido e, em alguns casos, 100% remoto. “A dificuldade não é só passar o conhecimento, mas trabalhar com os desafios enfrentados pelo gestor, como não se distanciar ou evitar diferença de tratamento entre os que se vêm todos os dias e os que não se encontram pessoalmente, por isso incentivamos rituais virtuais em que todos se sintam integrados e uma divisão de tarefas seja justa.”
A IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO
Outra frente importante para combater o assédio dentro da Sinqia é trabalhar fortemente em ações de inclusão para todos os colaboradores – algo que não é comum no mercado de tecnologia.
No ano passado, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom) divulgou que a presença de pessoas com deficiência, mulheres e negros nesse mercado ainda está bem longe de corresponder à realidade nacional. São apenas 0,8% de profissionais PCDs (24% dos brasileiros, segundo o IBGE), 38,6% mulheres (51% da população), 31% de negros, asiáticos e indígenas (cerca de 58% no país).
A Sinqia vem propondo iniciativas para sair deste padrão. As mais recentes são a instalação de uma sala destinada à amamentação, a extensão das licenças maternidade e paternidade e um evento só com mulheres sobre conceitos relativos ao universo feminino, como machismo e piadinhas indesejadas, maternidade e dificuldade de se posicionar.
“Tanto nos casos de assédio moral como sexual as vítimas são grupos de alta vulnerabilidade. Quando as pessoas vêem a empresa genuinamente se importando com colaboradoras gestantes, acolhendo a maternidade, recebem uma mensagem muito clara, que, inclusive, intimida quem pensar em ter uma conduta inapropriada”.
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