Por uma economia policromática

Por uma economia policromática

Por Tânia Cosentino

Quase vinte anos após a Eco-92, avaliamos o quanto se avançou em erradicar a pobreza e reduzir nossas emissões de gases que causam o efeito estufa, criando a chamada “economia verde” – capaz de suprir as necessidades humanas sem excluir os mais pobres e exaurir os recursos naturais.

Acredito que temos avançado, mas não ainda para uma economia cujas métricas reflitam a participação de toda a sociedade no consumo ou a conservação dos recursos.

Nesse campo, predominam os indicadores cinzas, que consideram apenas o PIB como referência de crescimento da economia. Pouco a pouco, entretanto, essa monocromia começa a ser permeada por outras cores. Empresas  adaptam-se para integrar os Índices de Sustentabilidade, como o Dow Jones ou o ISE-Bovespa. Quando vejo indústrias cujos negócios são baseados na exploração investir milhões de dólares em pesquisa de fontes renováveis ou buscar formas mais brancas de conduzir seus negócios com sustentabilidade, entendo que avançamos na criação de uma economia mais verde que, por enquanto, não é tão verde quanto o objetivo da Rio+20.

Tenho uma visão otimista sobre o que a iniciativa privada é capaz de fazer. Nos últimos anos, nos habituamos a ver tudo azul nos balanços sociais, nos quais quase todas as grandes corporações relatam seus (bem) feitos, passando do assistencialismo puro para uma visão pragmática de desenvolvimento das comunidades onde estão inseridas. Cada vez mais noto que os clientes esperam de nós soluções e não somente produtos. Essa movimentação tem mudado o rumo dos negócios, com um forte crescimento empresarial pautado nas fusões e aquisições que buscam ampliar o escopo de atuação das companhias. Se quisermos nos manter – e a isso se dá o nome de sustentabilidade – por mais algumas décadas, temos de nos adaptar às novas cores.

Não é possível preservar recursos naturais ignorando o brilho dourado que as novas tecnologias provocam no olhar dos mais pobres, ansiosos pela eletrificação para poderem comprar uma geladeira ou assistir TV. Recentemente, visitando comunidades amazônicas, tive contato com essa realidade. No entanto, o verde ficará marrom se não olharmos o ciclo completo dos produtos que terminam seus dias em aterros revirados por famílias em busca de sustento.

A economia verde a ser discutida na Rio+20 tem, para mim, mais de uma cor. Envolve uma visão holística dos nossos impactos e atividades, e passa pelo nosso ativismo. As empresas também têm crenças; e quando percebem o valor da sustentabilidade são capazes de equilibrar o tripé do socialmente justo, ecologicamente correto e economicamente viável. Como exemplo, cito a construção civil, propondo cada vez mais empreendimentos nos quais energia e água sejam usadas de forma eficiente; ou ainda o SmartGrid, que oferece a possibilidade de produzirmos energia de fontes renováveis para abastecer casas, veículos, indústrias e ainda repassar o excedente para a rede.

Vejo excelentes perspectivas para o futuro e não observo isso atrás de lentes cor-de-rosa. Assisto iniciativas como a normalização , que põe o preto no branco na hora de determinar como as empresas realmente vão reduzir seu consumo antes de publicarem o resultado de seus impactos sem ficarem roxas de vergonha do greenwashing que algumas produzem.

Acredito que as soluções já existem e o debate internacional da Conferência das Nações Unidas, com a participação ativa da sociedade, poderá trazer formas viáveis de promover essas iniciativas com a desburocratização e um espaço favorável à atuação conjunta entre Estado, iniciativa privada e o Terceiro Setor.

Enfim, se quisermos que a Rio+20 não termine em uma mera foto colorida, apenas com representantes de várias raças e bandeiras coloridas, temos de colocar mais cor nas nossas estratégias.

Tânia Cosentino é presidente da Schneider Electric Brasil.

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