Ponto de Vista – A educação como prioridade

Ponto de Vista – A educação como prioridade

Existe um caminho para o Brasil se tornar um país economicamente forte e socialmente responsável. E a saída está em oferecer uma educação de qualidade para todos.
Como competir globalmente se boa parte de nossa população mal lê ou escreve? Como garantir segurança pública sem dar atenção à educação? No Brasil, as pesquisas apontam que os alunos brasileiros possuem dificuldades para compreender os conteúdos transmitidos em sala de aula. Cerca de 30% da população no País apresenta analfabetismo funcional. São pessoas que sabem ler ou escrever minimamente, mas que enfrentam dificuldades para interpretar um texto, por exemplo. Os brasileiros também estão entre os que têm os menores níveis de conhecimento em matemática em um ranking de 40 países.
Realidades como essas deveriam causar indignação a cada um de nós. Um país que não tem condições de estabelecer uma educação de qualidade não pode crescer economicamente, nem gerar inovação, tecnologia ou conhecimento.
É preciso formar um forte capital social e reforçar a capacidade competitiva e inovadora do Brasil. É esse capital que ajuda a manter a coesão social, que leva a uma sociedade mais aberta e democrática. Reflete também o grau de confiança existente entre os diversos atores sociais que formam as comunidades e a sua capacidade de estabelecer relações de cooperação e associação em torno de interesses comuns. As comunidades não se tornam cívicas por serem ricas. Na realidade, ocorre o oposto: enriquecem por serem cívicas. O fortalecimento do capital social pode nos indicar fórmulas novas de estratégias de desenvolvimento.
A educação é, sem dúvida, o melhor passaporte para a ascensão social. Em 1990, 84% dos jovens entre 13 e 17 anos pertencentes à camada mais rica da população estavam matriculados em escolas, enquanto apenas 39% dos adolescentes menos favorecidos da mesma faixa etária tinham vagas asseguradas em instituições de ensino. Em 10 anos, os percentuais mudaram para 96% de matriculados entre os mais ricos e 81% entre os mais pobres. O abismo diminui, mas é preciso fazer mais.
O Brasil, no entanto, ainda apresenta um dos menos índices de escolaridade do planeta. Enquanto os brasileiros passam, em média, 4,9 anos de suas vidas na escola, os argentinos ficam 8,8 anos e os norte-americanos mais de 12. Com menos tempo na escola, a maioria dos brasileiros sequer ingressa no ensino médio. Apenas 22% da população completam esse nível de ensino, enquanto na Argentina o índice passa de 50%, e nos Estados Unidos chega a 91%. A situação é crítica, porque o mínimo para assegurar um espaço no mercado a qualquer cidadão é concluir o ensino médio.
As estatísticas resultam de um baixo nível de investimento em educação. No Brasil, um presidiário vale mais que um estudante. Enquanto o País investe pouco mais de US$ 500 por aluno ao ano, o mesmo valor é desembolsado todo mês para manter um detento na cadeia. O Brasil não pode crescer se não investir prioritariamente em educação. Só a melhoria nesse quesito pode elevar a qualificação de cada um e do País como um todo. Estudos apontam que, se o estudante brasileiro tiver o mesmo nível de desempenho do aluno português, por exemplo, em 30 anos o País terá uma expansão adicional de 5% do PIB.
Afinal, de quem é a culpa pelo atraso na educação?
A responsabilidade é de toda a sociedade e, em especial, das lideranças. E não interessa se empresarial, acadêmica, política ou sindical. Ela é liderança porque foi educada e se capacitou. No entanto, observa de forma passiva a má formação de milhões de brasileiros, contribuindo com a desigualdade de oportunidades. Destrói a base da democracia. Prejudica o desenvolvimento sustentado. Prejudica o capital social. Cava um abismo sem precedentes, cujo legado será pago pelas gerações futuras.
As diversas lideranças da sociedade devem, cada vez mais, ter consciência da importância de trabalhar na construção desse capital social. Infelizmente em nosso País há uma tendência em desrespeitar esse conceito.
Temos a obrigação de construir um País melhor, institucionalmente mais organizado e ético. E por que pensar em temas como capital social e sustentabilidade quando se propõe melhorias em educação?
Porque realmente é só com a visão de sustentabilidade e de capital social que podemos almejar uma sociedade melhor para o País. O nível de sustentabilidade e de capital social de uma nação são proporcionais à qualidade de sua educação.
A sociedade brasileira precisa se mobilizar de forma integrada e sinérgica nessa proposta. E isso deve vir acima de interesses de classe, corporativistas ou político-partidários.
Com a participação de todos os brasileiros é possível criar um ambiente favorável ao ensino, promovendo atividades que levem as pessoas a pensar na importância do saber e do conhecimento para construir um País melhor. Não há como esperar mais!
Jorge Gerdau é empresário
 

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