Para pioneiro da responsabilidade social, conceito evoluiu

Para pioneiro da responsabilidade social, conceito evoluiu

Por Juliana Campos Lopes
“Uma das conseqüências da popularização da sustentabilidade empresarial é que as corporações em todo o mundo agora entendem as implicações de uma postura responsável para o sucesso do negócio”. O dono desta opinião, Robert Dunn, sabe como poucos do que está falando. Precursor do movimento de responsabilidade social empresarial no mundo, ele tem acompanhado, de perto, na condição de observador participativo, não só a evolução do conceito mas também a sua incorporação por parte das empresas.
Antes de ingressar no campo da responsabilidade social, Dunn atuou por 10 anos no setor público, como conselheiro da Casa Branca durante o governo do presidente Jimie Carter. Também foi diplomata na Embaixada dos Estados Unidos na Cidade do México e secretário de gabinete do Governo do Estado de Wisconsin.
Do setor público, Dunn passou para a Levi Strauss & Co, a famosa  fabricante de jeans, onde foi vice-presidente por mais de 10 anos. Naquela empresa, implantou e ajudou a consolidar valores como ética, respeito ao meio ambiente e qualidade de vida para os funcionários. Deixou como legado o Código de Conduta Global e programas de combate a AIDS, desenvolvidos durante a sua gestão.
Em 1992, ano em que ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, Dunn ajudou a fundar a BSR – Business for Social Responsibility. A idéia de reunir empresas em uma organização sem fins lucrativos para promover valores como ética, responsabilidade e sustentabilidade deu tão certo que se multiplicou pelo mundo. A experiência da BSR inspirou a criação de instituições como a brasileira Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, o Forum for Business Responsibility in the Americas, o Center for Responsible Business, da escola de negócios da Universidade da Califórnia Berkeley, e a M.A.A.L.A – Israel Business for Social Responsibility.
Depois de 10 anos na BSR na presidência da BSR, Dunn se tornou CEO do Synergos, em 2006. Desde então, ele tem colocado toda a sua experiência a serviço dessa entidade, dedicada à articulação intersetorial para a busca de soluções sustentáveis e locais a fim de reduzir a pobreza no mundo.
Ações como a do Synergos –na opinião de Dunn — só são possíveis porque avançou a percepção em torno dos conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade. E a evolução foi mais rápida do que se imaginava. Hoje, existe já um certo consenso –crê — de que a cooperação intersetorial é essencial para enfrentar os complexos dilemas econômicos, sociais e ambientais da atualidade.
Entre as perguntas mais freqüentes que ele se vê forçado a responder, em suas andanças pelo mundo, está a de se sustentabilidade e responsabilidade social são a mesma coisa.  Não são –acredita — embora tenham muitos pontos em comum. Mas elas vêm sendo utilizadas como sinônimos em diferentes países. E isso não chega a ser um problema.
O termo desenvolvimento sustentável –lembra — foi mencionado pela primeira vez em 1987, no relatório “Nosso Futuro Comum”, documento elaborado durante a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, liderada pela então primeira-ministra da Noruega, Gro-Brundtland. O relatório descreveu o desenvolvimento sustentável como aquele que atende as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades.
O primeiro movimento para inserir essa idéia na gestão do negócio surgiu com o conceito de ecoeficiência, que consiste na capacidade de produzir e realizar atividades com o menor impacto ambiental possível, por meio do mínimo consumo de materiais e a mínima geração de resíduos e subprodutos para o meio ambiente. Instituições como o WBCSD – World Business Council for Sustainable Development e a própria BSR divulgaram esse conceito pelo mundo. Com isso, as empresas perceberam que o uso mais consciente e racional dos recursos naturais resultava em ganhos efetivos para o negócio.
De acordo com Dunn, o conceito de desenvolvimento sustentável implica não só o tema ambiental mas também justiça social e qualidade de vida. Essas questões, juntamente com outras como ética, transparência, governança corporativa, diversidade e direitos humanos, devem ser consideradas pela empresa no relacionamento com os seus diversos públicos de interesse. Nenhuma organização se torna sustentável sem levar em conta esses pontos em sua gestão — é o que sempre pregou a BSR, organização criada pelo hoje presidente do Synergos.
Apesar de, em síntese, terem a mesma natureza, no conceito de responsabilidade social, as variantes ambiental e econômica não se encontram tão explícitas como no de sustentabilidade, que remete ao equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social. Essa pode ser –na avaliação de Dunn — uma das possíveis causas para a crescente expansão da sustentabilidade junto às corporações e à opinião pública nos últimos tempos.
Em visita ao Brasil para participar do Congresso do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas, que acontece entre os dias 02 e 04 de abril, em Salvador (BA), Robert Dunn concedeu uma entrevista exclusiva à revista Idéia Socioambiental na qual ele opina, entre outras coisas, sobre os próximos temas importantes na discussão da responsabilidade social empresarial. Veja a seguir:

GM–  A percepção do conceito de responsabilidade social mudou nos últimos dez anos? De que maneira?
RD — Sim. Há uma década, a maioria das empresas pensava em responsabilidade social como uma função discreta efetuando contribuições discretas em certos aspectos das suas práticas cotidianas, não necessariamente ligadas á estratégia do negócio. Hoje, é vista como parte integral dos negócios. E está relacionada à missão, estratégia, produtos e serviços oferecidos e a tudo que a empresa faz.

GM– Qual o papel de instituições como a BSR e o Fórum for Business Responsability in the Americas na promoção do conceito?
RD — Elas têm um valioso papel na promoção da responsabilidade social, criando um espaço para os negócios trocar experiências, aprender e procurar ajuda a enfrentar os desafios de promover a boa cidadania corporativa.

GM– Na prática, existem diferenças entre sustentabiliddade e responsabilidade social como alternativas de desenvolvimento?
RD– Esses dois termos são usados de formas diferentes em vários lugares do mundo. Dependendo do lugar, há uma certa preferência por um ou por outro. Mas na maioria das vezes, adotados em um mesmo contexto, eles querem dizer a mesma coisa.

GM– O senhor acredita que o conceito de sustentabilidade adquiriu um apelo maior em relação à opinião pública do que o de responsabilidade social? Por quê?
RD– Acredito que isso realmente depende do país em que se está. A crescente expansão dos conceitos de responsabilidade social e sustentabilidade é evidente. Mas não se pode afirmar ainda que haja um consenso, entre empresas e governos sobre como denominar o papel que os negócios têm ou devem ter na sociedade. Ainda assim, eu vejo mais pontos em comum do que diferenças entre os dois conceitos.

GM– A popularização do conceito da sustentabilidade aplicada aos negócios é positiva? Por quê?
RD — Na maioria das vezes, penso que seja sim bastante positiva. Hoje, mais do que há cinco ou dez anos, as empresas de todo o mundo já entendem as reais implicações de uma postura responsável para o sucesso do negócio. Já são mais comuns as preocupações com este tema, que está na agenda dos negócios. Mas como não existe um controle para o uso dos conceitos de sustentabilidade e responsabiliade social, muitas vezes eles são apropriados, de modo indevido e ilegítimo, por empresas que nem sempre os encaram com a devida seriedade.

GM — A expansão veloz do conceito de sustentabilidade nos negócios pode desencorajar as discussões da agenda elaborada e divulgada pelo movimento de responsabilidade social? Quais os impactos possíveis?
RD– Acho que não. Não vejo conflitos nem potenciais. Um conceito não exclui o outro, mas o complementa. E a utilização dos dois termos, penso que seja mais histórica e cultural. Uma empresa socialmente responsável ou sustentável conduz as suas atividades, relações e negócios do mesmo modo, isto é, focada em ética e transparência, e sempre  de maneira a contribuir para o bem-estar econômico, social e ambiental das gerações futuras e atuais.

GM– Existe um risco – caso essa tendência se concretize – de que a discussão da sustentabilidade se torne superficial ?
RD– Sinceramente não acredito nisso. O risco da superficialidade é pequeno porque já existem mecanismos cada vez mais sofisticados para providenciar tanto recompensas quanto sansões em relação ao comportamento da empresa. Ambos os conceitos, de responsabilidade social e sustentabilidade, estão continuamente evoluindo baseados na mudança das circunstâncias da nossa economia e sociedade global.

GM–  Para o senhor, como avançará a agenda da sustentabilidade nos próximos dez anos?
RD– Vejo com bastante otimismo a sua expansão e maior valorização por parte da sociedade civil e dos governos. Será cada vez maior o nível de exigência das pessoas em relação ao comportamento das empresas. Elas serão cada vez mais cobradas a desenvolver produtos e serviços, gerar riqueza e providenciar emprego contribuindo, ao mesmo tempo, para a qualidade de vida das pessoas e do planeta. Não será possível abrir mão dessa responsabilidade.

GM– Na sua opinião, quais temas já discutidos hoje (direitos humanos, comércio justo, ética) receberão maior atenção no curto, médio e longo prazos?
RD — No curto prazo, penso que as questões relacionadas à mudança climática continuarão dominando a discussão global. Se formos capazes de unir e centrar esforços nessa questão, acredito que isso conduzirá para um foco maior nos direitos humanos. No longo prazo, os negócios precisam ser parte dos esforços de reduzir a desigualdade e fortalecer governos e sociedade civil para que os três setores possam atuar juntos na construção de oportunidades para resolução dos problemas atuais.

GM — Depois de trabalhar na BSR e como conselheiro de organizações governamentais, intergovernamentais e sem fins lucrativos, como é liderar a Synergos?
RD– Trabalhar na Synergos me permite trazer tudo o que aprendi com minha experiência em negócios, em governo e em sociedade civil. Synergos é uma organização sem fins lucrativos. Fazemos o possível para que todos os três setores trabalhem com comunidades pobres e marginalizadas, utilizando a  sua sabedoria e os seus diferentes recursos para construir capacidade de desenvolvimento local e realizando  intervenções significativos e sustentáveis.

GM– Quais são os desafios da Synergos no Brasil? Como é o trabalho da instituição no país?
RD– O trabalho do Synergos consiste em encorajar e dar suporte a líderes de todos os setores da sociedade que queiram trabalhar com questões de pobreza e desigualdade. Nosso maior desafio no Brasil é fazer as pessoas conhecerem o que vem sendo feito em outros países em termos de articulação intersetorial para promover justiça social. E mais do que isso, como essas experiências internacionais podem trazer benefícios para a realidade local.

Veja mais no site: www.ideiasustentavel.com.br

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