Os índices de bem-estar e suas particularidades

Os índices de bem-estar e suas particularidades

Por Caio Megale

Nos noticiários e, em especial, no dia a dia do mercado, estamos acostumados a acompanhar variáveis econômicas que, embora interfiram na vida das pessoas, não são o objetivo final de uma sociedade. O PIB é uma medida útil, uma simplificação, mas que nos traz certa inquietação quanto à sua capacidade de refletir melhorias sociais.

Então, como medir o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas?  Pesquisas empíricas feitas para um grupo grande de países sugerem que os habitantes de nações mais ricas costumam ser mais felizes. Mas, ao longo do tempo, em um mesmo país, os dados não comprovam que pessoas que enriquecem se tornam mais felizes.

Formas alternativas vêm sendo estudadas. Uma iniciativa pioneira é a do pequeno reino do Butão, na Ásia. Há alguns anos, o país passou a medir o FNB — Felicidade Nacional Bruta. O indicador é calculado tanto com base em questões objetivas, como o tempo para lazer, saúde e educação; como também em fatores subjetivos, como relacionamento social e o balanço emocional e espiritual.

Outra iniciativa é o Better Life Index, um ranking de países elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), baseado em indicadores do dia a dia das pessoas: emprego, moradia, saúde, vida social, meio ambiente; e também em pesquisas subjetivas, com perguntas como: “Qual a nota, de 0 a 10, que você dá para sua qualidade de vida?”. O ranking final muda dependendo dos pesos estipulados aos indicadores. Se todos receberem o mesmo peso, a Austrália é a primeira colocada da lista.

A escolha dos indicadores e seus pesos para avaliar o bem-estar é subjetiva. Um desafio, nessa hora, é deixar de lado o viés pessoal. Um ranking elaborado pela TV estatal da Coreia do Norte, por exemplo, indica que os cinco países mais felizes do mundo são, pela ordem: China, Coreia do Norte, Cuba, Irã e Venezuela. Na ponta oposta da lista, em 203º lugar, aparecem os EUA, naturalmente.

Para entrar nesse importante debate, nossa equipe econômica do Itaú construiu um indicador para tentar medir o bem-estar da população brasileira: o Índice Itaú de Bem-Estar Social, que leva em consideração, além dos aspectos econômicos, as condições humanas e a distribuição de renda da população. Foram incorporadas informações, desde 1992, sobre consumo, mercado de trabalho, inflação, saúde e saneamento, educação e segurança, entre outros.

O índice pode ser uma importante ferramenta de acompanhamento dos resultados de políticas públicas, tornando simples a comparação de um conjunto relevante de variáveis ao longo do tempo e entre regiões. Conhecer seus componentes pode auxiliar nas tomadas de decisões dos governos visando ao interesse público.

Os resultados até agora são interessantes (ver gráfico). O período pós-Plano Real, de 1994 a 1996, registrou a maior elevação de bem-estar no período analisado. Seguiu-se, então, uma fase de estagnação, até 2001. A partir de 2002, o bem-estar voltou a melhorar. Não houve grandes impulsos, como o observado em 1994/1995, mas ocorreram variações positivas ininterruptas.

De 2008 em diante, o bem-estar seguiu melhorando, mas a taxas mais lentas. A desaceleração está ligada à crise financeira global, embora os avanços em educação e saúde também tenham sido menores do que em anos anteriores.

De forma geral, o Índice Itaú de Bem-Estar Social mostra que houve um avanço importante da qualidade de vida nos últimos 20 anos no Brasil.

Caio Megale é economista da área de Pesquisa Econômica do Itaú Unibanco.

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