Num mundo cada vez mais comprometido com a diminuição da emissão de gases de efeito estufa, a mobilidade elétrica urbana é um tema central para acelerar essas reduções. A boa notícia é que o veículo elétrico já é realidade, inclusive no Brasil. E esse segmento, que vem crescendo a passos largos no país, traz diversas oportunidades para o mundo da energia solar.
O veículo elétrico está se popularizando à medida em que as baterias, que pode ser considerado o “calcanhar de Aquiles” dos modelos por vários motivos, estão cada vez mais eficientes e com custos em queda acelerada.
Segundo um estudo recente da Goldman Sachs, o custo de um kWh de capacidade da bateria era de US$ 155 em 2022; e, até 2025, deverá sofrer uma redução de cerca de 36%, atingindo US$ 99 – anteriormente, o banco estimava uma queda de 33%. A previsão dos analistas é que os preços das baterias caiam 11% ao ano de 2023 a 2030, quando deverão custar cerca de US$ 70 por kWh.
Além de estarem mais baratas, as baterias estão mais densas, uma vez que a indústria está conseguindo colocar “mais energia por quilo de bateria”. Hoje, segundo dados da International Energy Agency (IEA), a relação está entre 200-250 Kwh por quilo de bateria; em 2030, deverá chegar a 400 Kwh – isso equivale dizer que os veículos de transporte de longa distância, como as carretas, já poderão ser 100% elétricos.
Em 2040, ainda conforme a IEA, a capacidade da bateria deverá alcançar 600 Kwh e então os aviões elétricos também serão uma realidade – a Embraer já tem seu projeto pronto esperando que a bateria chegue ao peso necessário.
Enquanto esse futuro não chega, no presente, estamos vendo a transformação da frota automotiva brasileira. Em 2022, 50 mil novos veículos elétricos passaram a rodar pelas ruas e estradas do país. Neste ano, esse número deve dobrar e, em 2032, alcançar 350 mil unidades. Os dados são da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
A maior parte da frota, segundo a EPE, 68%, é de veículos híbridos leves (HEV), que não têm tomada de recarga. Outros 23% são híbridos plug in (PHEV), que têm bateria e porta de entrada de carregamento; e 9% são 100% elétricos (BEV), com duas entradas de carregamento, uma lenta e a outra rápida.
Falando em unidades, hoje cerca de 50 mil veículos da frota brasileira demandam carregador elétrico (35 mil PHEV + 15 mil BEV). Ano passado, eram 35 mil.
A cidade de São Paulo concentra o maior número de veículos elétricos do país – eles não entram no rodízio veicular que vigora por lá – em seguida, estão capitais como Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Curitiba. Apesar da concentração em grandes centros, essa onda não vai demorar a se espalhar pelas cidades do interior.
E toda essa frota vai precisar de infraestrutura de recarga, devidamente equipada para que o motorista desses veículos tenha tranquilidade para seguir viagem. Essa infraestrutura ainda é deficitária no Brasil, ainda mais nas rodovias – os centros urbanos contam cada vez mais com pontos de recargas em shoppings, supermercados e condomínios, além de postos de combustíveis.
E esse é um negócio que gera grandes oportunidades para a cadeia solar: o carregador veicular pode ser oferecido junto com o sistema fotovoltaico.
Podemos supor que um motorista que tem hoje um veículo com uma bateria de 50 kwh, o que dá uma autonomia de mais ou menos 400 km, vai ter de carregar esse veículo uma vez por semana na sua própria casa. Nessa conta, estamos falando de uma residência que vai ter no mínimo 200 kwh mês a mais no consumo e de um cliente que certamente vai ficar feliz em economizar na sua conta, tendo ele uma usina de energia solar instalada em casa. Ou seja, a instalação do sistema fotovoltaico passa a ser uma necessidade.
O carregador veicular pode ser colocado dentro do kit gerador e com isso terá todas as isenções de imposto que o kit permite, via ICMS.
Outra oportunidade está na comercialização de energia em eletropostos – uma resolução da Aneel de 2018 liberou a cobrança desses serviços – focada também na recarga de oportunidade, durante compras em shoppings ou paradas para as refeições em restaurantes nas estradas.
O momento de se preparar para essa demanda de comercialização é agora, inclusive porque os melhores pontos nas grandes, médias e pequenas cidades para se instalar eletropostos ainda estão disponíveis. Estamos falando de um oceano azul de possibilidades dentro das cidades, inclusive em São Paulo.
A energia solar, a mais limpa que existe, tem muito a contribuir com essa transformação da mobilidade, especialmente num país como o Brasil, de grande extensão territorial e onde o sol brilha o ano inteiro.
**Bruno Catta Preta é diretor de relações institucionais da Genyx e coordenador da Absolar em Minas Gerais
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