Ninguém é sustentável sozinho

Ninguém é sustentável sozinho

Por Edmur Faro Vellozo

Imagine se todas as grandes companhias do Brasil exigirem de sua cadeia de valor práticas comprometidas com a sustentabilidade como critério de contratação de serviços. Centenas de milhares de negócios poderiam se tornar vetores da promoção em larga escala de valores socialmente justos, economicamente equilibrados e ambientalmente corretos.

A transformação da sociedade para a garantia de um futuro sustentável passa principalmente pelas boas práticas empresariais. Tudo começa pelo esforço individual, mas as empresas tem o poder de realizar mudanças em grandes proporções. E elas precisam ser incentivadas e capacitadas para isso.

Alcançar esse grau generalizado de excelência não é tarefa fácil. Empreendimentos de diversos portes teriam que promover, muitas vezes, mudanças estruturais de suas rotinas e processos, com impacto financeiro relevante em um primeiro momento. Pode haver resistência inicialmente, mas ao entenderem que a conquista de grandes contratos dependeria de uma adequação de perfil para além da mínima obrigação técnica e regulatória, muita empresa por aí certamente se desdobraria para se adequar a esta urgente necessidade.

Em primeiro lugar, a empresa que se dispõe a adotar prerrogativas ligadas à sustentabilidade em seus critérios de contratação deve fazer a sua própria lição de casa e, claro, ser sustentável na prática. O entendimento de que um fornecedor que adota a sustentabilidade com rigor não é necessariamente o mais barato também precisa ser observado, já que os benefícios sociais, ambientais e econômicos no longo prazo se tornam os principais elementos de avaliação junto com a própria qualidade da entrega. Deve ser papel do contratante, ao exigir mudanças em sua cadeia de valor, oferecer meios para que o fornecedor se desenvolva, como capacitação e tempo de adequação.

Mais do que qualquer campanha verde de conscientização ou movimentos em defesa de causas restritas, a propagação desse tipo de iniciativa para os detentores do poderio econômico, por meio de incentivos do poder público e engajamento de líderes, poderia ter uma efetividade sem precedentes.

Bom exemplo

Com cerca de três mil fornecedores ativos em sua base, a AES Brasil, que reúne as empresas de geração e distribuição de energia elétrica AES Eletropaulo, AES Sul, AES Uruguaiana e AES Tietê, reserva uma parcela relevante de suas estratégias para disseminar a cultura da sustentabilidade para toda a sua cadeia produtiva. Ante os desafios da sociedade contemporânea, o Grupo faz uso de sua força e influência institucional para disseminar boas práticas. Os compromissos assumidos em sua plataforma de sustentabilidade fizeram com que o relacionamento com fornecedores fosse cada vez mais estratégico, com mais transparência e acuidade.

Um sistema de avaliação da performance foi desenvolvido para fornecedores estratégicos, aqueles que impactam diretamente nos seus negócios e que possuem contratos recorrentes e de alto valor monetário. Consolidado em 2011, o Índice de Desempenho de Fornecedores (IDF) conta com a participação dos gestores das áreas de todas as empresas do Grupo. Eles são responsáveis por responder, mensalmente, a um questionário que inclui aspectos relacionados à segurança, meio ambiente, responsabilidade social, qualidade, gestão, produtividade, relacionamento e cláusulas contratuais.

A ferramenta, desenvolvida pela Diretoria de Suprimentos e Logística da AES Brasil, contempla um sistema de pontuação por faixas de performance (Distante dos Padrões, Necessita Melhorias, Atende aos Padrões e Excede aos Padrões) que apura o nível de atendimento às exigências legais e aquelas estabelecidas em contrato. Caso a nota alcançada pelo fornecedor determine uma performance abaixo do esperado, ou seja, distante dos padrões ou necessita melhorias, obrigatoriamente será gerado um plano de ação para recuperação do nível mínimo aceitável de performance.

A transparência do processo de avaliação é assegurada por um workflow que dispara automaticamente mensagens e notificações sobre todas as etapas do processo de avaliação para todos os envolvidos e interessados e o resultado final da avaliação – bem como os eventuais planos de ação – são enviados também automaticamente e na íntegra para os fornecedores.

Para as empresas que comprovadamente apresentam uma performance diferenciada, a AES Brasil oferece anualmente uma premiação por categorias, além de destacar aqueles parceiros que possuem as melhores práticas relacionadas à sustentabilidade.

O atendimento dos requisitos por parte dos fornecedores é assegurado por meio de inspeções periódicas e de recebimento, avaliação industrial, questionário de ética e compliance, avaliação de responsabilidade socioambiental e auditorias técnicas e de segurança do trabalho realizadas pela AES Brasil e por empresas especializadas. Para os processos mais complexos, pode requerer licenças ambientais específicas, evidências de atendimento às condicionantes e a requisitos de segurança do trabalho, treinamentos em questões ambientais, cumprimento de normas regulamentadoras e avaliação de protótipos. Em 2011, por exemplo, 32 entre 59 fornecedores inspecionados foram homologados por se enquadrarem nos critérios de qualificação ambiental da empresa.

Nos processos de contratação, a AES Brasil identifica as necessidades e as expectativas dos fornecedores, que posteriormente são analisadas e utilizadas para a melhoria das práticas relativas ao relacionamento. Deste modo, busca meios de adequar as suas expectativas à capacidade de execução dos fornecedores de forma sustentável. Em 2013, novos critérios de sustentabilidade, mais rígidos, serão adotados, ao mesmo tempo em que a AES Brasil vai passar a qualificar os fornecedores para atender às novas diretrizes, capacitando o mercado e disseminando boas práticas em benefício de toda a sociedade.

Gerente de Projetos e Desenvolvimento em Suprimentos e Logística da AES Brasil. Vellozo é graduado em Eletrotécnica pela Escola Técnica Federal de São Paulo e em Administração de Empresas com ênfase em Comércio Exterior pela Universidade Paulista, com Especialização em Administração de Contratos pela IBC, Black Belt na metodologia Lean-Six Sigma.

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