Estudo NEXT – O efeito multiplicador do bem

Estudo NEXT – O efeito multiplicador do bem

O efeito multiplicador do bem: das organizações para os empregados
Por Ana Cristina Limongi-França

A consciência de um estilo de vida mais sustentável, dentro e fora do trabalho, é um desejo expresso com muita frequência pelos profissionais. Daí a convergência estratégica entre programas e ações organizacionais de estímulo à prática do comportamento sustentável. Quando a empresa tem programas, campanhas e ações claramente definidas de sustentabilidade, há um efeito multiplicador do bem: observam-se a expansão e socialização dessas atividades de bem-estar de dentro da empresa para o entorno. Dessa forma, aumenta-se a probabilidade dos empregados – a partir de suas práticas de sustentabilidade no processo produtivo – expandirem esse conhecimento para outras situações fora do seu ambiente de atividades laborais.

A educação para a sustentabilidade leva ao aumento do sentimento de cidadania e responsabilidade socioambiental, além de enriquecer o estilo de vida pessoal. Essa expansão tem acontecido, de fato, nas situações mais diversificadas possíveis: família, lazer, educação, solidariedade, cidadania, arte, práticas esportivas, alimentação, entre outras.

Quando a empresa, seus gestores e especialistas de gestão de pessoas atuam buscando ações e resultados a partir dessa combinação, cria-se uma nova solução na aplicação da sustentabilidade, com ênfase no comprometimento e qualificação para o bem-estar do planeta e das pessoas.

Preservação e reprodutibilidade são os principais desafios de uma ação de sustentabilidade, tanto para projetos pessoais como coletivos. Há esforços no sentido de criar estratégias de mudanças que atendam ao novo paradigma: bens finitos, as responsabilidades mútuas com vistas à preservação da vida hoje e das próximas gerações, conforme indicação do Protocolo de Kyoto (1988) e de estudos recentes realizados mundial e regionalmente.

Gestão da qualidade de vida no trabalho é o conjunto das ações de uma empresa que envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente corporativo. Qualidade de vida no trabalho, portanto, está diretamente relacionada ao gerenciamento das escolhas de bem-estar, compatíveis com a cultura organizacional e as necessidades ocupacionais, sociais e econômicas de todos os empregados e stakeholders de uma empresa.

Considerando a definição de qualidade de vida integrada às soluções para sustentabilidade, com base nos estudos de Ana Maria Brasil (2014), podem-se listar os seguintes desafios e dilemas:

?Aquecimento global e mudanças climáticas
?Esgotamento dos recursos naturais
?Acesso à água de boa qualidade
?Destruição da biodiversidade
?Desertificação
?Geração de energia
?Poluição
?Doenças
?Produção
?Consumo
?Resíduos
?Pobreza
?Desenvolvimento humano e econômico

Como se pode observar, a prática de ações de sustentabilidade e de qualidade de vida no trabalho (QVT) pressupõe necessidades a serem atendidas no sentido do cuidado pessoal e da preservação do planeta como um todo. A composição desses elementos gera o trabalho sustentável: que integra socialmente, gera credibilidade, capacita e realiza, efetiva a sobrevivência e tem expectativas priorizadas, conforme a figura a seguir:

As profissionais de Gestão de Pessoas Ana Maria Barros, Cleise Garjulli e Jurema dos Santos Polycarpo realizaram interessante estudo, em 2010, em trabalho de monografia na Fundação Instituto de Administração (FIA). Foram entrevistados profissionais de empresas de bens de consumo, com 850 empregados, e do sistema financeiro, com 104 mil empregos diretos, num total de 27 empresas. Os resultados revelaram que os principais parceiros dos gestores de qualidade vida no trabalho são as áreas de Recursos Humanos, Saúde e Segurança, Ambulatório Médico e Benefícios. Outras áreas de QVT mencionadas foram: Grêmio, Diversidade, Qualidade e Meio Ambiente, Comunicação Interna e Plano de Saúde.

Nesse mesmo trabalho, os comitês de avaliação dos programas de sustentabilidade aparecem como as ferramentas mais utilizadas para avaliação de resultados, destacando-se aqui, novamente, a importância de uma boa gestão de pessoas e do desenvolvimento organizacional.

As atividades mais frequentes estão listadas no quadro à esquerda.

Nessa perspectiva, existem alguns desencadeadores da qualidade de vida no trabalho diretamente ligados à sustentabilidade da vida pessoal. Entre eles, destacam-se:

Os diversos modos de organização da vida pessoal: família, atividades de lazer e esporte, hábitos de vida, expectativa de vida, cuidados com a saúde, alimentação, combate à vida sedentária, grupos de afinidade e apoio;

Os fatores sociais e econômicos como: globalização, tecnologia, informação, desemprego, políticas de governo, organizações de classe, privatização de serviços públicos, expansão do mercado de seguro-saúde, padrões de consumos mais sofisticados;

O hiperdinamismo do consumo: investimentos; créditos; fundos de reservas; monetarização da vida; consumo consciente (tendo no consumo um instrumento de bem-estar e não um fim em si mesmo), além do consumo solidários e, especialmente, o consumo sustentável, quando se projeta um mundo melhor para as próximas gerações, conforme proposta do Instituto  Akatu (2010).

Todos os desencadeadores acima influenciam as metas empresariais, em suas múltiplas dimensões inter-relacionadas: competitividade, qualidade do produto, velocidade, custos e imagem corporativa.

Em síntese, o estilo pessoal com ênfase na sustentabilidade deve considerar as novas estruturas de poder, informação, agilidade, corresponsabilidade, remuneração variável, transitoriedade no emprego, investimento em projetos sociais e, principalmente, ter um espaço estruturado e dinâmico. Concluindo, no cenário corporativo, uma empresa sustentável significa uma instituição produtiva, que, a partir dos diversos processos, especialmente o de gestão de pessoas, gera lucro ao mesmo tempo em que protege o ambiente e melhora a vida daqueles com os quais mantém vínculos econômicos, contratuais e de relacionamento humano.

Ana Cristina Limongi-França é professora titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São (FEA/USP), coordenadora do Núcleo e Laboratório de Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho; presidente nacional da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática e autora de Práticas de Recursos Humanos e Psicologia do Trabalho, entre outros.

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