Natureza do negócio – Rumo à zona-chave

20 de setembro de 2007

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No decorrer deste ano, 117 milhões de pessoas em todo o mundo foram vítimas de cerca de 300 desastres naturais, gerando um prejuízo total de US$ 15 bilhões. O levantamento faz parte dos anais da World Water Week, a conferência mundial sobre água realizada em agosto na Suécia, com a participação de representantes de 140 países e organizações internacionais. Além de ilustrar o grau de devastação provocado pela perda dos serviços ambientais e os seus impactos sociais e econômicos, os números reforçam nossa convicção sobre o senso de urgência para romper com o atual modelo de desenvolvimento.
Este dramático dilema é o tema de meu segundo livro “Os desafios da sustentabilidade: uma ruptura urgente”, lançado em junho último pela Campus/Elsevier. Nele prego a subversão da ordem dos atuais modelos de negócios e de padrões de desenvolvimento para provocar as mudanças radicais, pacíficas e urgentes de que a humanidade necessita para continuar a viver neste planeta. E demonstro que em todos os empreendimentos bem sucedidos – lucrativos e responsáveis do ponto de vista ambiental e social – há sempre o entendimento articulado entre os principais atores – empresas, governos e sociedade civil.
Num mundo cada vez mais globalizado e conectado, a licença para uma empresa operar abrange muito mais que o cumprimento de formalidades e exigências governamentais. Em um número crescente de países o conceito de responsabilidade civil vem sendo incluído na legislação e argüido em julgamentos. O conceito de responsabilidade legal vem evoluindo para o conceito de responsabilidade moral, especialmente para aquelas empresas detentoras de passivos ambientais ou sociais. Para essas o castigo maior não são as multas governamentais, mas a perda de mercado imposta por um consumidor cada vez mais consciente e bem informado.
Hoje em dia para uma empresa fazer frente a esses desafios não basta compreender apenas as características econômico-financeiras de suas próprias operações, mas também as dinâmicas políticas e sociais que têm influência sobre suas atividades cotidianas. Trata-se de uma condição essencial à recriação do modelo tradicional de desenvolvimento em novas bases, integrando a atividade econômica com as dimensões social e ambiental.
No contexto da sustentabilidade, a palavra que personifica essa preocupação é de difícil simplificação. Stakeholder, ou grupo de interesse, significa qualquer indivíduo ou instituição que afete ou possa afetar as atividades de um determinado grupo, assim como é ou pode ser afetado pelas atividades daquele mesmo grupo. Engajamento de stakeholders é o processo de envolver ativamente os diversos grupos sociais nas atividades da empresa em busca de compreensão mútua e interação. Não é mais suficiente que uma empresa apenas informe o público sobre suas operações. É preciso que ela envolva ativamente seus stakeholders através do diálogo e outros mecanismos de informação e consulta.
O envolvimento do stakeholder ajuda a renovar a visão que os gestores têm da empresa e de si próprios. O envolvimento real, aquele que procura ouvir o que seus públicos têm a dizer, principalmente os mais críticos, exige paciência e disposição, mas é recompensado. À medida que agregam mecanismos de engajamento na cultura corporativa da empresa, os gestores modernos se abastecem para tomar decisões mais consistentes, criativas e perenes, pavimentando o caminho em direção à zona-chave, na qual a empresa está acima das exigências legais e, ao mesmo tempo, mantém a valorização crescente de seus ativos tangíveis e intangíveis.
Não se engane. Empresas sólidas na área de sustentabilidade não escaparão de cobranças da sociedade por colaboração na solução de questões externas tais como aquecimento global e miséria.
*Fernando Almeida é carioca, engenheiro, presidente executivo do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), professor da UFRJ e autor dos livros “O Bom Negócio da Sustentabilidade” e “Os Desafios da Sustentabilidade: Uma Ruptura Urgente”.

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