Natureza do negócio – Não temos tempo a perder

Natureza do negócio – Não temos tempo a perder


Passei a primeira semana de novembro na África do Sul, participando da reunião anual do WBCSD (sigla em inglês do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável), instituição sediada na Suíça que lidera uma rede de mais de 50 conselhos espalhados por todos os continentes e representa 185 grupos multinacionais com faturamento anual de US$ 6 trilhões.
Essa reunião anual do WBCSD teve um significado muito especial para mim por dois motivos. Um pessoal, por ter sido agraciado com o prêmio “Ordem de Contribuição Proeminente ao Desenvolvimento Sustentável”, condecoração concedida pela primeira vez a um brasileiro.
O segundo motivo foi a oportunidade de divulgar o 3º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, o Sustentável 2009, organizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O evento abordará o tema “Sustentabilidade na prática: tendências globais, inovação e educação”,  e será realizado de 14 a 16 de abril de 2009 no Teatro da Universidade Católica (TUCA), um espaço cultural de São Paulo de grande importância para a sociedade brasileira, por ser um dos principais símbolos da luta vitoriosa pela redemocratização do nosso país.
Pôr em prática um novo modelo de negócios e um novo padrão de desenvolvimento é hoje o maior e mais urgente dos desafios da humanidade. A experiência acumulada nesses últimos anos deixa claro que ações pontuais tanto na dimensão social como ambiental não produzem resultados em escala e, portanto, nada resolvem isoladamente.
No caso do clima, se não começarmos a reduzir a carga de gases do efeito estufa até 2013, não conseguiremos atingir a meta de chegar em 2050 com um volume de emissão 50% inferior aos níveis atuais, o que induzirá efeitos climáticos imprevisíveis. Será que precisaremos testemunhar as conseqüências de um “subprime” climático para acordar?
Por falar em “subprime”, além das ações emergenciais para amenizar seus efeitos, sobretudo nas camadas mais pobres da população, a crise financeira deve servir como mais uma plataforma de reflexão sobre o atual modelo de desenvolvimento. Algumas perguntas permanecem no ar:
1-Valeu a pena o enriquecimento brutal de um pequeno grupo de especuladores em troca de uma recessão ainda imprevisível, mas já sentida com a queda de investimentos e a perda de postos de trabalho?
2- Não seria conveniente aproveitar o momento para investir em energia com baixo teor de carbono e desenvolver nossa economia, gerando mais emprego e revertendo a degradação ambiental?
3- Basta-nos a valorização das ações no mercado das nossas empresas, quando 63% dos serviços ambientais (água limpa, fibra, peixe, entre outros) se encontram em processo de extinção?
4 – Bastam-nos alguns milhões de votos quando não temos uma política clara para controle do aquecimento global,ou se aceita a produção de amianto já banida em várias partes do mundo, ou ainda conviver com denúncia de trabalho escravo na produção de bioenergia?
Nas perguntas sem respostas, constatamos que o senso de urgência é percebido por poucos e há um número ainda menor de operadores, com esta noção, inseridos nos processos de decisão de modelos de negócios e políticas públicas. Faltam lideranças nos governos, no setor privado e na sociedade civil.
Estou certo de que, a partir de uma correta e bem estruturada avaliação das tendências globais, o caminho seguro para as mudanças deve ser pavimentado pela inovação e pela educação, ou vice-versa.
Educando para inovar e inovando para educar, produziremos massa crítica em quantidade e qualidade para a formação de lideranças capacitadas para conduzir esse processo de mudança. Os complexos dilemas da sustentabilidade exigem de seus líderes, além do conhecimento técnico, ética e capacidade adaptativa para prever riscos e antever as oportunidades.
Fernando Almeida é presidente-executivo do Conselho  Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento  Sustentável

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