Investimento social melhora qualidade de vida em comunidades

Investimento social melhora qualidade de vida em comunidades

Revista Idéia Socioambiental/São Paulo
Para que um projeto social de uma empresa transforme a realidade de seu público alvo, é preciso mais do que boas intenções – combustível do paradigma filantrópico. É necessário reunir um conjunto de fatores, tais como repertório, envolvimento do primeiro escalão, um foco claro e uma compreensão exata do que motiva a instituição no empreendimento. Quem ensina é Fernando Rossetti, coordenador executivo do GIFE (Grupo de Instituições, Fundações e Empresas). “Alianças com governos e ONGs, uma perspectiva de longo prazo, de no mínimo três anos, planejamento e avaliação, trabalhar com a comunidade e não para a comunidade, estabelecer confiança e articular todos os atores sociais são pontos fundamentais”, afirma.
Idéia Socioambiental reuniu a opinião de especialistas e selecionou sete experiências que podem servir de inspiração para empresas que já possuem ou estão pensando em desenvolver iniciativas sociais.

Aposta na comunidade
Sete anos atrás, o empresário paulista Sergio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, assumiu o risco de comprar o fracassado Projeto Jari, criado em 1967 pelo magnata americano Daniel Ludwig, iniciativa que se tornou sinônimo de gastos exorbitantes, devastação de florestas e responsável pela situação precária milhares de moradores nos arredores do empreendimento.
Hoje, o projeto transformou-se no que Amoroso define como um “laboratório da sustentabilidade no meio da Amazônia, onde o conceito dos 3 Ps (people, planet and profit) ganhou cada vez mais força na estratégia corporativa.” Para o Grupo Orsa, segundo Amoroso, o “desenvolvimento dos negócios deve ser um fator de transformação da sociedade, e isso é uma realidade no Jari – por meio de ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas”.
Além de iniciativas em defesa do meio ambiente, como o Projeto de Manejo Florestal Sustentável, com reconhecimento do Greenpeace, WWF e certificação do Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal), o Projeto Jari é bastante focado na área social. São R$ 4,5 milhões investidos por ano em mais de 20 projetos sociais com 139 mil beneficiados, de 98 comunidades da região. Entre as diversas ações, destacam-se as voltadas para o público feminino, que foi identificado como importante ator no âmbito familiar e comunitário. O Cem (Centro de Excelência da Mulher), por exemplo, é voltado para a geração de renda. O objetivo é instrumentalizar as mulheres, por meio da ajuda na descoberta de vocações e habilidades, para que contribuam com o desenvolvimento local.
Organização cooperativa
Fortalecer cadeias produtivas locais foi a solução que a Fundação Odebrecht encontrou, por meio do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável (DIS-Baixo Sul), para triplicar a renda de mais de mil famílias no Baixo Sul da Bahia. O aumento na remuneração provocou um efeito cascata, com melhorias na alimentação, moradia e o acesso à educação. Isso numa região que abrange 11 municípios e uma população de 260 mil pessoas, e que configura entre uma das mais pobres do Estado – a renda média mensal per capita não ultrapassa os R$ 150.
Com a meta de unir a melhoria de vida da população e a preservação do meio ambiente por meio do crescimento econômico sustentável, o DIS-Baixo Sul criou oportunidades baseado no desenvolvimento paralelo de quatro capitais – social, produtivo, humano e ambiental. Desta forma, as iniciativas são realizadas em várias frentes: cidadania, documentação, participação dos habitantes nas decisões comunitárias, acesso à educação, capacitação profissional de jovens e preservação da natureza.
Uma das principais linhas de atuação é no capital produtivo, com planos de desenvolvimento para diversas atividades, como aqüicultura, mandioca, piaçava e palmito pupunha. Como resultado da organização da produção local em cooperativas, houve geração de trabalho e renda. Na aqüicultura, por exemplo, as 125 famílias que se dedicam à criação de tilápias estuárias e ostras, viram sua renda saltar de R$ 220 para R$ 600 por mês.
“Essas ações estão concretamente inseridas em um projeto maior de juízo socioambiental, replicável, que pretende tirar o povo da informalidade, erradicar a pobreza com distribuição justa de renda, reduzir as desigualdades sociais e estabelecer uma classe média rural”, observa Norberto Odebrecht, fundador da Odebrecht e hoje presidente do Conselho de Curadores da Fundação.
Cidade adotiva
Adotar uma causa é comum na prática socioambientalmente responsável das empresas. A Unilever, porém, achou que uma causa só não seria suficiente e adotou logo um município inteiro, Araçoiaba, na região metropolitana de Recife, onde desenvolve o Projeto Mais Vida desde 2003. De lá para cá, as mudanças saltam aos olhos. A cidade pobre, que registrava um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) de Pernambuco, subiu no ranking de qualidade de vida e, hoje, apresenta dados bem mais alentadores. A redução do analfabetismo adulto, por exemplo. De um total de cinco mil analfabetos em 2003, mil já passaram pela escola do projeto e receberam diploma. Outros 2,1 mil se formarão em 2008. Também caíram as taxas de analfabetismo infantil, considerado um dos maiores problemas da cidade há quatro anos, hoje inferior a 10%. Para completar, a evasão escolar, uma das mais altas de Pernambuco, foi erradicada.
Na área da saúde, o projeto conseguiu subir a taxa de realização do exame pré-natal de 65% para 100%, o que fez com que a mortalidade infantil do município caísse em 83%, segundo a Secretaria de Saúde de Pernambuco. Até 2003, a cada mil bebês nascidos vivos, 36 morriam antes de completar um ano de idade. Hoje, morrem seis. “Temos hoje no município uma comunidade organizada em busca de uma qualidade de vida melhor”, comemora Elaine Molina, gerente de Responsabilidade Social da Unilever Brasil.
Fortalecimento pelo caju e o mel
Com um investimento de R$ 4,9 milhões nos últimos três anos, a Fundação Banco do Brasil criou, em parceria com o Sebrae, um projeto que consiste na capacitação dos agricultores e apicultores. O resultado foi o aumento de renda da população.
A iniciativa consiste na preparação dos produtores para atuar nas centrais de cooperativas construídas pela Fundação, a Casa Apis e a Cocajupi, que eliminar os atravessadores do processo entre a matéria-prima e o produto final.
Na Casa Apis, o preço pago ao produtor é de R$ 3,50 por quilo de mel. Antes, o produto era adquirido pelos atravessadores que pagavam apenas R$ 2,28. A cultura do caju também apresenta potencial animador. Com a instalação da Cocajupi, o preço por quilo pago ao produtor subiu de R$ 0,75 para R$ 1,00.
“Para nós, este projeto casa duas coisas. É um empreendimento que gera emprego e renda e tem forte poder transformador de uma realidade local muito dura. E atende a uma intenção de compromisso regional do Banco do Brasil”, comenta Antônio Francisco de Lima Neto, presidente do Banco do Brasil.
Educação: chave do desenvolvimento
A mais recente ação da Gerdau na área de educação – foco de sua atuação em responsabilidade social – é o programa Gestão para o Sucesso Escolar (GSE), implantado em Maracanaú, a 20 km de Fortaleza (CE). Com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino básico das escolas públicas, a iniciativa trabalha com dois pontos principais: transformar o diretor escolar em um líder pedagógico e aprimorar o desempenho dos alunos na área de língua portuguesa. “Sem o domínio da língua é impossível aprender história, geografia e até matemática, em que a interpretação de texto é fundamental”, destaca Tiago Alliatti, gerente executivo da Gerdau cearense.
Graças ao GSE, seis das 20 escolas que participam do programa hoje estão entre as melhores do Ceará. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Deputado Ulysses Guimarães foi a que atingiu a melhor colocação no Estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Ensino gratuito com qualidade
Os alunos do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, de São José dos Campos, interior de São Paulo, têm feito bonito nos vestibulares. Nos últimos três anos, 95% dos estudantes que saíram da escola para disputar uma vaga nas universidades foram aprovados. Destes, 66% ingressaram em universidades públicas. O Juarez Wanderley, um colégio gratuito mantido pela Embraer, foi criado para possibilitar o acesso de jovens carentes a uma educação de qualidade. Referência no ensino médio, a escola ficou com a 18ª posição no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que classifica as melhores do País. Vale lembrar que são avaliadas 22 mil escolas e 2,2 milhões de alunos das redes pública e particular.
Um dos segredos do sucesso do Juarez Wanderley é o fato de ser administrado como uma empresa, seguindo os padrões da própria Embraer: desenha-se um plano de metas a serem cumpridas e toda a equipe trabalha para conseguir o máximo de resultados com os recursos disponíveis. Também contribui a qualidade da formação dos professores, cuja faixa salarial está acima da média do mercado. “Não queremos substituir o governo, mas mostrar que é possível resolver os problemas existentes. É isso que tentamos fazer aqui”, ressalta Luiz Sérgio Cardoso, diretor do Instituto Embraer de Educação e Pesquisa.
Educação sexual para o amadurecimento
Em dez municípios de Minas Gerais, os registros de violência doméstica, depredação, agressão física ou verbal e brigas de adolescentes, têm caído de maneira expressiva. Na mesma proporção, jovens passaram a lutar por seus direitos, se engajar em causas comunitárias e a zelar por sua saúde. O quadro é resultado do Programa de Educação Afetivo Sexual (Peas), criado pela Vale do Rio Doce há seis anos. O programa, adotado por 150 escolas municipais e estaduais, já beneficiou 44,7 mil estudantes, principalmente de 5ª a 8ª séries.
Mais do que ensinar jovens a se proteger de doenças sexualmente transmissíveis, o Peas tem como meta incentivar em crianças e adolescentes o respeito por si e pelo próximo a partir do amor próprio. Assim, aborda também valores como cidadania, diversidade humana, responsabilidade e o protagonismo juvenil.
O presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, reforça a educação como principal mote do programa e o fato de que, sem ela, não é possível construir um país bem-sucedido. “Há três pilares fundamentais: saúde, educação e segurança. Mas a educação é a base de tudo. Sem educação você não melhora a saúde e nem a segurança”, afirma.
Veja mais no site: www.ideiasustentavel.com.br
BOX 1
Pontos comuns entre os sete projetos
Baseiam-se em alianças setoriais estratégicas
Estimulam o protagonismo juvenil
Atuam em sintonia com políticas públicas locais
Envolvem vários atores sociais
Nascem de diagnóstico claro de necessidades das comunidades locais
Procuram melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)
Usam a educação como fator de transformação social
São planejados com método e rigor
Possuem visão de longo prazo
Fazem monitoramento permanente de resultados de processos
Incentivam a não dependência dos recursos da empresa e à apropriação do projeto por parte da comunidade

BOX 2
Investimento em projetos sociais em números
Gerdau: R$ 51,6 milhões (2006) em 817 iniciativas sociais; R$ 7,8 milhões em 94 projetos que visam melhorias na educação brasileira.
Unilever: R$ 4 milhões (entre 2004 a 2008) no Projeto Mais Vida.
Embraer: R$ 28 milhões (desde a fundação da escola, em 2002)
Odebrecht: R$ 58,9 milhões (entre 2003 e 2007) no DIS-Baixo Sul
Vale do Rio Doce: R$ 5,8 milhões no PEAS (entre 2001 e 2007)
Orsa: R$ 4,5 milhões (entre 2002 e 2007) no Projeto Jari.
Banco do Brasil: R$ 4,9 milhões (entre 2004 e 2007) no projeto de caju e mel no Piauí

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