Com o fomento a novos empreendedores, Instituto C&A quer provocar a C&A a repensar maneiras de fazer o próprio negócio

abril de 2024

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Pilar social da C&A Brasil, o Instituto C&A vem passando por uma transformação desde 2020, quando deixou de olhar para os desafios de sustentabilidade e condições de trabalho da indústria da moda e passou a buscar uma atuação mais focada no empreendedorismo de grupos sociais minorizados, como a população negra, a comunidade LGBTQIAP+, migrantes, refugiados, mulheres, pessoas com deficiência, pessoas com mais de 60 anos, egressos do sistema prisional, populações indígenas e quilombolas. 

Gustavo Narciso, gerente-executivo do Instituto C&A, está capitaneando essa transformação nos últimos dois anos. Para ele, que entrou na companhia em 2013 como PMO Corporativo da área comercial, as mudanças que estão em curso trouxeram mais protagonismo e responsabilidade ao Instituto. 

“Olhamos para o negócio como uma oportunidade de promover transformação e também de nos transformarmos. Mobilizamos e influenciamos o negócio para o novo varejo que, ouso dizer, vai ser mais democrático e diverso. Nosso trabalho é repensar as lógicas de consumo, trazer novas possibilidades e criações, até para que esse negócio sobreviva.”

O Instituto C&A foi fundado em 1991, mas as mudanças vistas hoje começaram em 2019, quando a C&A se tornou uma empresa de capital aberto. Com esse movimento, a C&A Foundation, que mantinha sob sua estrutura o Instituto C&A, foi desfeita e a atuação mais social da companhia migrou para a Laudes Foundation, que engloba todos os negócios da família fundadora, o que inclui áreas como construção civil e mercado financeiro.

Neste cenário, ficou a cargo de cada um dos CEOs manter ou não os seus institutos com investimento feito 100% pelo negócio regional. A C&A Brasil optou por manter o instituto, porém, com um olhar e uma atuação diferentes do que era feito até então.

“A partir do momento em que existe a Laudes Foundation operando no Brasil como uma organização filantrópica irmã e olhando para os temas sustentáveis e combate ao trabalho forçado e análogo à escravidão, o que o instituto C&A poderia fazer?”, diz Narciso. Ele explica:

“Chegamos à conclusão de que deveríamos nos reinventar a partir da premissa de não olhar mais para a transformação da indústria da moda como objetivo principal, mas sim em como utilizar a moda para fortalecer comunidades, tendo o negócio como aliado e potencializador do impacto social.”

Mulheres, pessoas negras, pessoas trans, pessoas da periferia de São Paulo e migrantes foram os grupos beneficiados com projetos desenvolvidos pelo Instituto C&A ao longo de 2021, quando foram investidos 600 mil reais no Programa de Empreendedorismo.

FOCO NO EMPREENDEDORISMO CONECTADO AO NEGÓCIO

Os projetos ofereceram capacitação e mentorias e, sempre que possível, buscaram conectar os empreendedores ao negócio C&A, uma forma de aumentar o impacto social, que, segundo a empresa, chegou a 300 micro e pequenos empreendedores. 

Junto com a Preta Hub, por exemplo, o Instituto lançou o Garimpo da Preta para ajudar mulheres negras com interesse em fazer parte do Minha C&A (plataforma em que as pessoas podem vender produtos da C&A e receber uma porcentagem por isso). O projeto beneficiou diretamente seis mulheres negras que participaram de uma imersão presencial no Recôncavo Baiano com oficinas sobre produção de conteúdo digital, empreendedorismo e moda.

Houve também uma parceria com a Feira Preta, que levou produtos de seis afroempreendedores de moda para serem comercializados no marketplace da C&A Brasil. Eles foram selecionados entre os 21 empreendedores negros, indígenas e afro-indígenas que participaram do programa Afrolab Moda by Instituto C&A, com mentoria de profissionais da C&A e workshops com nomes do mundo fashion. 

A intenção, segundo Narciso, é amplificar a colaboração entre os empreendedores e a área comercial da empresa, seja no core do negócio ou mesmo em outros setores. Ele diz que muitos desses empreendedores fazem produtos que a área de compras diretas poderia absorver e, assim, criar outras possibilidades de geração de renda. 

 “Estamos sempre olhando qualquer brecha que o negócio possa ter para infiltrar as pessoas que passam pelos nossos projetos e aumentar o potencial que pode ser gerado na ponta”, diz Narciso.

No momento em que as empresas são cada vez mais cobradas com relação à diversidade e sustentabilidade, seja pelo consumidor ou por investidores, Gustavo vê o Instituto assumindo uma posição estratégica de conseguir provocar a C&A a repensar a forma de fazer o seu próprio negócio, algo que já vem acontecendo no mundo. 

“Quando entrei no Instituto C&A, pude participar do Copenhagen Fashion Summit e um dos maiores incômodos que eu tive foi ver empresas como a H&M Foundation apresentarem cases muito interessantes, enquanto a C&A não tinha nenhum”, lembra ele, que acredita que a remodelagem do Instituto agora vai facilitar esse tipo de construção.

“Junto com a cobrança de uma parcela dos consumidores, o universo ESG fertiliza esse campo para que novas iniciativas sejam geradas. Com a C&A mais aberta a abraçar esses temas, certamente teremos novas possibilidades a partir deste ano.”

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