Iniciativas apostam no protagonismo juvenil para alavancar o desenvolvimento de comunidades

Iniciativas apostam no protagonismo juvenil para alavancar o desenvolvimento de comunidades

Revista Idéia Socioambiental
O espírito inquieto e destemido, característico da juventude, representa também um dos principais ingredientes para o empreendedorismo. Não sem razão, os jovens são alvo de projetos de desenvolvimento sustentável da Odebrecht e Gerdau.
Formar jovens capazes de gerar riqueza em harmonia com as tradições, a cultura e o meio ambiente locais é a principal diretriz do DIS Baixo Sul. Para atingir esse objetivo o projeto da Fundação Odebrecht aposta na valorização da família e na governança participativa para estabelecer cadeias produtivas que proporcionem a geração de renda para a comunidade e a preservação dos recursos naturais da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, no Baixo Sul da Bahia.
“Para superar a condição de pobreza, o jovem precisa de oportunidades para melhorar sua produtividade, organizar-se com seus pares em torno de interesses comuns e sair de uma agricultura de subsistência para uma agricultura de resultados”, ressalta Norberto Odebrecht, presidente do conselho de curadores da companhia.
Valorização da família e educação para o trabalho complementam a estratégia do DIS Baixo que foi escolhido pela ONU como modelo para ser reaplicado em outros países.
Segundo José Manuel Sucre, conselheiro de sistemas de governança e instituições da Organização das Nações Unidas, o DIS Baixo Sul mostra que é possível promover os oito objetivos do milênio de forma integrada. “Pretendemos elaborar um projeto internacional para que essa experiência do Brasil venha a ser conhecida no mundo e também para gerar demanda em outros países, de modo que se interessem por replicar o projeto em suas comunidades como forma de desenvolver o ser humano de maneira integrada e sustentável”, afirma.
A capacidade de organizar a comunidade de modo a promover seu próprio desenvolvimento é um dos fatores de sucesso do DIS Baixo Sul. Reconhecida essa habilidade, a primeira medida para reaplicação do projeto foi a criação do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Governança Participativa na Serra do Papuã, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, em Ibirapitanga (BA), inaugurado em outubro.
De acordo com Rogério Arns, diretor do núcleo, há muitas experiências e conhecimentos sobre governança participativa e desenvolvimento comunitário. No entanto, eles estão dispersos. Por isso, o objetivo inicial é reunir metodologias, instrumentos, informações e especialistas nessa área.
“Apesar de termos casos riquíssimos de desenvolvimento comunitário e governança participativa no Brasil, vivemos mais as experiências do que as registramos. Isso dificulta o entendimento, aprimoramento e reaplicabilidade dos projetos. Por isso, nessa primeira etapa, queremos reconhecer as iniciativas já existentes e disponibilizá-las para o maior número de pessoas possível”, explica.
Outra proposta do Núcleo é a capacitação e o intercâmbio de experiências com a mobilização de especialistas internacionais. Para tanto, foi construído um Complexo Hoteleiro que emprega jovens da comunidade. O processo de seleção contou com 131 candidatos, dos quais 125 foram chamados para realizar uma capacitação oferecida pelo Senac. Entre os formados, 23 foram contratados.
Desenvolvimento integrado
O foco na unidade-família é também um dos princípios que favorecem o desenvolvimento comunitário e a governança participativa. Para Oscar Motomura, fundador e presidente da Amana-Key, empresa especializada em programas educacionais para executivos, o ambiente familiar possibilita o estabelecimento de um processo de tomada de decisão com a participação de todos. “Como a menor célula de uma comunidade, a família é um excelente local para a prática da governança participativa. Além disso, oferece apoio psicológico e aconselhamento aos seus membros”, ressalta Motomura, que esteve no lançamento do Núcleo.
As Casas Familiares Rurais procuram recriar esse espírito, reforçando o convívio dos jovens com a família e com a comunidade. Nas CFRs, os jovens recebem conhecimentos técnicos voltados para a realidade na qual estão inseridos. O modelo é baseado na pedagogia da alternância que combina teoria e prática.
A partir dos conhecimentos e relacionamentos desenvolvidos nas escolas, os alunos têm condições de ampliar suas oportunidades de geração de renda por meio da constituição de cooperativas. Hoje, já são quatro: Cooprap, Coopemar, Coopalm e Coopatan, que atuam nas cadeias produtivas da piaçava, aqüicultura, palmito e mandioca, respectivamente.
“Procuramos transformar os jovens em agentes do seu próprio destino. E as cooperativas representam uma oportunidade para tanto, à medida que proporcionam a geração de trabalho e renda justa”, afirma Maurício Medeiros, presidente executivo da Fundação Odebrecht.
Voluntariado desenvolve futuros líderes sustentáveis
A Junior Achievement que, ao longo de 24 anos, tem proporcionado a formação de jovens empreendedores no Brasil, passará a trabalhar a educação voltada para a sustentabilidade. Denominada “Atitude pelo Planeta”, a iniciativa integra o Projeto Sustentabilidade, patrocinado pela Gerdau, Oi e Banco Real. O objetivo é discutir questões como o uso racional dos recursos naturais nas dimensões sociais, ambientais e econômicas. Até 2010, o projeto espera atingir aproximadamente 100.000 jovens em 900 escolas de todo o país.
“Precisamos superar um legado histórico de ideologias autoritárias que formam militantes no lugar de lideranças presentes. A evolução só se dá pela atitude de empreendedorismo”, afirma Jorge Gerdau Johanpeter, presidente do Conselho de Administração da Gerdau e da Junior Achievement.
Em relação ao empreendedorismo e à sustentabilidade, Gerdau tem as lições na ponta da língua. “O empresário é o maior agente social. Nenhum setor gera tanto impacto na sociedade quanto o privado. A própria Junior Achievment é um exemplo disso. Somos todos empresários que estão promovendo mudanças”, afirma.
Para Gerdau, a sustentabilidade deve ser tratada de maneira transversal. O objetivo do “Atitude pelo Planeta” é inserir o tema em todos os cursos da Junior Achievement. “Há 30 anos, não tínhamos sequer a noção do que era sustentabilidade. Há 20 anos já sabíamos o que significava o conceito, ainda que simplista. Hoje, o conhecimento é completamente diferente e vem avançando”, ressalta.
Além do Programa “Atitude Pelo Planeta”, em fase de experimentação desde o ano passado, já está em prática – dentro do Projeto Sustentabilidade – o programa “Nosso Planeta, Nossa Casa”, direcionado a estudantes do ensino fundamental e também aplicado nas salas de aulas por voluntários e professores capacitados pela Junior Achievment.
O programa conta com material didático e ilustrado que traz uma série de informações sobre a relação do homem com os recursos naturais e alerta para alguns dos maiores desafios socioambientais contemporâneos. As alterações climáticas, a extinção da biodiversidade e a escassez da água são alguns dos assuntostrabalhados com os jovens.
Segundo André Loiferman, presidente do conselho diretor Junior Achievement Brasil, já não se pode mais separar a sustentabilidade do mundo dos negócios. “Os estudantes brasileiros precisam ter a oportunidade de entender o sistema da livre iniciativa para confirmar o conceito de que riqueza se cria pelo trabalho, identificando a empresa como força criadora de uma economia sustentável”, afirma.
Em 2008, o Projeto Sustentabilidade já beneficiou mais de 41 mil alunos em 500 escolas. A iniciativa compreende o treinamento de professores e voluntários (etapa já em andamento), a inserção da sustentabilidade em todos os programas da Junior Achievment e o engajamento do Núcleo de Ex-Achievers (Nexa), formado por jovens que participaram dos programas e continuam integrados à organização.
“Vamos despertar espírito empreendedor por meio de programas práticos de educação econômica com foco em negócios e programas de sustentabilidade focados em meio ambiente”, completa Gerdau.
Liderança e voluntariado
O resultado da interação dos voluntários das empresas associadas à Junior Achievement – 720 no total – e os jovens beneficiados pela Associação é o grande trunfo dessa iniciativa. A troca de experiências proporciona o aprendizado de ambas as partes, estimulando o desenvolvimento do empreendedorismo.
“Precisamos provocar em todas as pessoas o espírito empreendedor, aquele espírito inquieto, de realização”, afirma Gerdau. Nas grandes corporações, também se faz necessária a presença de empreendedores em todas as áreas e funções. “Não se trata de apenas melhorar o trabalho ou montar um novo negócio. A idéia é desenvolver nos jovens e voluntários a habilidade de administrar sua vida – tanto pessoal, quanto profissional – buscando sempre o melhor, sem se acomodar”, ressalta Gerdau.
Segundo Júlio Fonseca, diretor superintendente da Oi, a empresa estimulará seus funcionários a utilizar seu o banco de horas para realizar atividades de voluntariado junto ao projeto. “Se um colaborador dedica seis horas em aulas no programa, a Oi cobre três horas”, explica Fonseca. Em 2007, mais de 500 voluntários da corporação entraram em sala de aula para ajudar a disseminar conhecimento sobre o mercado de trabalho e sustentabilidade.
Constatações do Censo Gife 2007-2008

  • População jovem foi o segmento priorizado pelas iniciativas realizadas pela Rede GIFE de Investimento Social Privado;
  • Investimentos totais: R$ 1,15 bilhão em 2007;
  • Ao todo, cerca de 96% dos associados ao GIFE trabalham com um público de 15 a 24 anos;
  • No ranking das áreas priorizadas, a educação encabeça a lista, com 83% dos investimentos dos associados, seguida por “formação para o trabalho” (59%).

Inscreva-se em nossa newsletter e
receba tudo em primeira mão

Conteúdos relacionados

Entre em contato
1
Posso ajudar?