Heineken abre no Brasil seu 1º instituto, focado em catadores e vulneráveis: “O social estava voltado para dentro, decidimos ir além”

8 de abril de 2024

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Quando o presidente do Grupo Heineken, Mauricio Giamellaro, falou para os executivos da companhia que gostaria de traduzir os compromissos ESG em vantagem competitiva e construção, de fato, para a sociedade, acendeu uma faísca.

Isso aconteceu em meados de 2021, na mesma época em que a Heineken anunciou seus compromissos globais de sustentabilidade, o que inclui a meta de ser uma empresa carbono neutro até 2040. 

Foi um momento de olhar para o que estava sendo feito na operação brasileira, diagnosticar oportunidades e traçar caminhos. Enquanto as questões ambientais decolavam – com a meta de descarbonização podendo ser cumprida antes do prazo estipulado e energia renovável sendo disseminada em bares, foi percebido um gap no pilar social, até então focado em diversidade e inclusão, com a meta de ter 50% dos cargos de liderança ocupados por mulheres até 2026 e 40% por pessoas negras até 2040.

“O social estava muito só pra dentro e a gente precisava ir além”, diz Mauro Homem, vice-presidente de Sustentabilidade & Assuntos Corporativos do Grupo Heineken. 

“Operamos em um país que tem latentes demandas e não podemos fechar os olhos para isso. Não podemos ficar contentes somente porque estamos ajudando os bares a emitir menos carbono ao fomentar energia renovável. Provavelmente, nesse bar, vai ter um catador que vai pegar garrafa e latinha pra o sustento da família.”

Essas reflexões desencadearam a discussão interna de como a companhia poderia atuar de forma mais intensa e com escala para impactar positivamente a cadeia de valor, especialmente catadores, vendedores ambulantes e jovens em situação de vulnerabilidade. 

A melhor forma encontrada para colocar em prática ações que beneficiem essa cadeia foi a criação do Instituto Heineken Brasil, lançado oficialmente no começo de abril com a ambição de ajudar o Brasil a ter uma sociedade mais igualitária. Para isso, quer, até 2025, impactar positivamente 10 mil vendedores ambulantes e catadores e 1 milhão de jovens em situação de vulnerabilidade. 

A instituição vai atuar no desenvolvimento de habilidades socioemocionais, empreendedoras, capacitação, geração de emprego e renda e promoção do consumo responsável de álcool.

“Como instituto, temos uma maior liberdade para construir parcerias, seja com o poder público, com outras empresas ou ONGs. Vamos conseguir transitar e construir de forma autônoma projetos e programas que vão trazer muito mais escala para aquilo que a gente já vinha fazendo”, explica Beatriz de Sá,  gerente executiva do Instituto Heineken Brasil 

A estrutura operacional ainda é pequena. Além de Beatriz, há mais um funcionário dedicado, porém com o suporte de áreas da companhia como financeiro, jurídico e compras. Tem ainda a conexão com a alta liderança, que foi colocada dentro do processo, tanto que as decisões do Instituto são levadas para o comitê executivo. 

UM GUARDA-CHUVA DE PROJETOS

Com pouquíssimo tempo de vida, o Instituto Heineken Brasil abraçou o projeto WeLab, um programa que existe desde 2018 e é voltado à promoção do consumo responsável e empregabilidade entre jovens de 18 e 24 anos. O foco é trabalhar com esses jovens questões socioemocionais, que muitas vezes são pano de fundo para o consumo excessivo de álcool. A partir desse trabalho de soft skills, os participantes são estimulados a desenvolver ideias empreendedoras. 

Beatriz de Sá, gerente do Instituto Heineken Brasil. (Foto: Divulgação)

O WeLab foi desenvolvido em parceria com a consultoria de inovação Maker Brands, em 2018, e agora estará focado em jovens que vivem no entorno das cervejarias onde a Heineken opera. No começo, foram desenvolvidos três pilotos com jovens de algumas comunidades e grupos selecionados, e o projeto migrou para o ambiente online por causa da pandemia. A ideia é escalar ainda mais, indo até onde esses jovens estão, como universidades. 

“Percebemos com o WeLab que, além de nos conectar com esse ecossistema, poderíamos trazer uma massificação das mensagens de consumo equilibrado. Por isso, a nossa ambição é atingir direta e indiretamente 1 milhão de jovens com a parte de consumo equilibrado”, diz Mauro.

No pilar que vai atuar com catadores e vendedores ambulantes, a ideia é levar para esse público capacitação técnica e desenvolvimento de soft skills, sempre com o foco de ajudá-los a ter um incremento de renda.

A ideia, segundo Beatriz, é conectar as novas ideias com os projetos de circularidade que já existem, além de criar programas específicos de capacitação técnica para os catadores. 

Ela conta, ainda sem poder dar detalhes, que já está sendo desenhado um projeto em parceria com a Aliança Empreendedora, ONG com expertise em desenvolvimento de microempreendedores. 

INSTITUTO JÁ NASCE COM R$ 10 MILHÕES PARA INVESTIR E ABERTO A NOVAS PARCERIAS

Com 14 mil funcionários e 14 unidades fabris no Brasil, a Heineken é dona das marcas Sol, Amstel, Amstel Ultra, Tiger, Lagunitas, Kaiser, Bavaria, Eisenbahn, Baden Baden, Devassa, Schin, Glacial e No Grau. O Brasil é um dos mercados mais importantes do grupo e o primeiro país a criar um instituto da marca.

Mauro conta que a ideia foi levada para a sede da empresa em Amsterdã e muito bem-recebida por lá. Tanto que o Instituto Heineken Brasil já nasce com um aporte de R$ 10 milhões, que vai ajudar a estruturar os primeiros projetos. Mauro explica:

“É importante começar com esse aporte para conseguirmos o tamanho do impacto que queremos. A gente quer que isso de fato seja percebido na nossa cadeia de valor, então não podem ser ações tímidas, em escala piloto.”

Agora, parte do trabalho é buscar novos parceiros e também outras fontes de recursos financeiros. A ideia do instituto é se autossustentar, porém, sempre se mantendo conectado ao negócio. 

“Para chegar na escala que queremos, precisamos ser hábeis nas construções de parcerias e ter metodologias que sejam robustas e replicáveis. Ao mesmo tempo, temos o desafio de manter a conexão pra dentro do nosso negócio, porque, se ficar uma coisa apartada, a tendência é que o instituto vire uma mecânica de filantropia. E isso é tudo que a gente não quer”. 

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