Gestão de valores – Verdade e a humanidade esquecida

Gestão de valores – Verdade e a humanidade esquecida

Escrevo da Índia – a terra de contrastes gritantes. Estou passando um mês de reflexão e de preparação para um ano que promete ser tumultuado. Acabamos de ser chamados pela diretora de recursos humanos de uma empresa para fazer uma série de webcasts para os funcionários sobre como enfrentar o estresse, o trauma emocional e mental devido à incerteza que compõe seu futuro.
O nome da empresa (ironicamente) é Satyam que significa ‘Verdade’ em sânscrito e faz parte de um dos mantras hindus mais sagrados – (“Satyam, shivam, sunderam” – Deus, a verdade, o benéfico e o bonito). A companhia é uma dos maiores empresas de TI da Índia com 53.000 funcionários e clientes em 66 países. Na revista “The Economist” a Satyam foi chamada recentemente de a ‘Enron da Índia’.
O presidente e fundador da empresa indiana, B. Ramalinga Raju, confessara uma fraude de US$1,47 bilhões, que ele e seu irmão esconderam durante vários anos de seus diretores, gerentes e auditores. Eles e o diretor financeiro estão presos e prestes a enfrentar uma bateria de perguntas com o auxílio de um detector de mentiras para ajudar a esclarecer tudo para seus acionistas, funcionários e clientes. Como todo bom político, o primeiro ministro da Índia, Manmohan Singh, promete ‘punir os culpados’ enquanto um dos executivos de Satyam acabou de cometer suicídio.
O fato me remete a um episódio, em que lembro ter ficado impressionado pelo conteúdo de um folheto institucional de uma empresa que na época era a 7ª maior dos Estados Unidos com 21.000 empregados em 40 países. Na lista dos princípios que norteavam seu comportamento na realização de sua missão figuravam respeito, integridade, comunicação e excelência. A empresa se comprometia a “fomentar o respeito mútuo com comunidades e stakeholders que são afetados por nossas operações”; a examinar “os choques – positivos e negativos – de nossos negócios no meio-ambiente e na sociedade”; a “medir e comunicar nosso desempenho” e a parte mais profética: encorajar “nossos parceiros de negócios e provedores a aderirem aos mesmos padrões (de excelência que praticamos)”. A empresa se chamava Enron e a sua prole continua a aparecer.
Infelizmente, um dos aspectos menos comentados de comportamentos não éticos desta natureza é o efeito que a ‘traição’ dos valores humanos têm nos funcionários e no ambiente de trabalho. Enquanto que a informação fala diretamente aos intelectos é a atmosfera que se cria no trabalho que move os corações. Promessas e afirmações afloradas como aquelas que aparecem no material publicitário podem enganar os ingênuos, mas são as atitudes e intenções por trás delas que geram as realidades. Pior, quando os maiores enganados são aqueles que dedicam um pedaço de suas vidas para o sucesso dos empreendimentos de pessoas que se revelam como mentirosos.
Muitas vezes, nossa humanidade é esquecida e até abandonada completamente na corrida para ganhar, enganar e driblar a realidade. A lista das perguntas dos funcionários de Satyam para estes Webcasts fazem um apelo para o resgate de valores e mais sensatez na vida: ‘Como podemos lidar com esta realidade – física e emocionalmente? Como falamos com os nossos familiares? O que fazer se nosso sono está sendo afetado? Como podemos lidar com a situação e ajudar outros? Quais são alguns dos padrões de comportamento que devemos identificar em nós e nos outros nestes momentos duros?’ A lista pode ser de qualquer um diante do conjunto de circunstâncias que caracterizam o mundo do pós-enfarto do sistema financeiro.
Há alguns anos atrás ajudei uma instituição desmoralizada pelo roubo de R$50.000 por seu presidente. Como em uma novela mexicana, ele morreu no dia de posse do novo presidente eleito. Uma vez o Einstein dizia se ele tivesse uma hora para resolver uma situação difícil ele dedicaria 55 minutos para descobrir a pergunta certa e cinco minutos na solução. Foi o que aplicamos nesta situação. Ao invés de promover uma caça às bruxas e gastar tempo olhando para o que não funcionava, procuramos descobrir o que existia em todo o sistema (funcionários, clientes, fornecedores, patrocinadores) que poderia dar uma nova vida.
A mudança começou a partir do momento em que fizemos esta análise. As imagens de um futuro mais brilhante e claro mudaram e puxaram para frente novos comportamentos e atitudes. O melhor de tudo foi descobrir que quanto mais positiva a pergunta, maior e mais duradoura foi a mudança.
Provocar tal reflexão será benéfico para a Satyam. De fato, para qualquer um que sofre diante da perplexidade complexa do mundo hoje, vale a pena descobrir as perguntas que conduzirão a um futuro melhor e ter a coragem de promover as atitudes e conversas necessárias para o bem da nossa humanidade e em conseqüência, do nosso planeta. Talvez assim a verdadeira ‘Satyam’ possa prevalecer.
Ken O’Donnell é autor de diversos livros, consultor, coordenador para América do Sul da Organização Brahma Kumaris e presidente do conselho do Instituto Vivendo Valores ([email protected])

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