Gestão de valores – Energia e estilos de vida

Gestão de valores – Energia e estilos de vida

Uma vez um jornalista perguntou a Mahatma Gandhi se a Índia pós-independência seguiria o modelo britânico de desenvolvimento. Ele respondeu com uma frase emblemática: “A Grã-Bretanha precisou da metade dos recursos do planeta para alcançar sua prosperidade. Quantos planetas um país como a Índia requereria?” Hoje, se todos vivessemos de acordo com o padrão de desenvolvimento de países industrializados, quantos planetas como a Terra precisaríamos para sustentar a população humana?
Um pouco depois da ECO-92 no Rio de Janeiro, vi  uma charge que me chamou muito a atenção. Ela trazia uma sequência evolutiva de animais. O primeiro – um peixinho com a frase, “destruído pela pescaria em excesso”. O segundo – um sapo com a frase, “destruído pela falta de ozônio”. O terceiro – uma anta com a frase, “destruído pelo uso excessivo de pesticidas”. O quarto – um javali com a frase, “destruído pelo aquecimento global”. O quinto – um gorila com a frase, “destruído pela perda de seu habitat”. O sexto – um homemzinho acompanhado por um ponto de interrogação.
O questionamento de Gandhi nos anos 40 não parece ter surtido tanto efeito. O modelo de desenvolvimento continua sendo em grande parte predatório igual ou pior que àquela época. Continuamos socializando os custos para personalizar os benefícios para os poucos privilegiados.
O produto interno bruto mundial é ao redor de US$60 trilhões, mas os ativos financeiros chegam a mais de US$800 trilhões – ou seja é uma economia irracional, sem solidez. A crise financeira, a crise social, a crise ambiental, a crise de água e de alimento. Para todas são oferecidas soluções parciais e setorializados. De fato, é uma crise só. O homenzinho na charge, que representa cada um de nós, perdeu a visão do todo e insiste em comportamentos irracionais, comprometendo o seu próprio futuro.
A lista de iniciativas que podem demonstrar nosso compromisso com uma mudança positiva é grande .Podemos exercer nosso papel de cidadão consciente e conseguir que os governos façam seu trabalho e considerem, seriamente, a ameaça à vida no planeta.
Se não temos esta pretensão política, pelo menos podemos tornarmos-nos ativistas do bem na nossa rua ou no nosso prédio. Podemos adotar práticas mais simples e conscientes de consumo – desde o tipo de carro, geladeira, lâmpadas que usamos.  Podemos andar de bicicleta ou a pé, reciclar o lixo, usar menos embalegens, saco plásticos, além de comprar produtos mais perto de casa. Podemos até mudar de dieta . Por exemplo, um vegan (não consome produtos animais) tem uma pegada de carbono muitas vezes menor que algúem que é onívoro. (Em novembro de 2006 a FAO Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação publicou uma pesquisa que mostrou que “o setor pecuária gera mais emissões de gás de efeito estufa, medido em equivalentes de CO2 – 18 por cento – que o transporte”)
Toda a lista de cima contribui. Entretanto, o desenvolvimento verdadeiro está dentro de nós. Fiquei um bom tempo contemplando o homemzinho naquele tempo pós ECO ’92 quando ainda tínhamos esperanças de sensibilizar  governos e empresas para evitar o pior. Hoje me vejo no lugar dele.  O que eu estou realmente fazendo de benéfico nos meus hábitos e práticas diárias?
Estive no Sri Lanka um pouco depois do tsunami que arrasou com várias países asiáticas no final de 2004.  Lá, 36.000 pessoas morreram . Quando voltei para o Brasil, um repórter me perguntou se eu acreditava que isto era um sinal de uma destruição desenfreada. Sem querer entrar na polêmica, eu simplesmente fiz as seguintes colocações:
Se o futuro for pior que agora e eu faço um esforço consciente de melhorar meu estado interno e meus relacionamentos com o entorno – pessoas e a natureza, provavelmente, estarei mais preparado para enfrentar este futuro pior que alguém que não faz nada.
Se o futuro for melhor que agora e eu faço um esforço consciente de melhorar meu estado interno e meus relacionamentos, provavelmente, estarei mais preparado para abraçar este futuro melhor que alguém que não faz nada.
Independente do futuro ser pior ou melhor, o esforço consciente de melhorar meu estado interno e meus relacionamentos me ajuda agora mesmo. Portanto, não temos nada a perder se melhorarmos!
* Ken O’Donnell é autor de diversos livros, consultor, coordenador para América do Sul da Organização Brahma Kumaris e presidente do conselho do Instituto Vivendo Valores ([email protected])

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