Gestão de valores – A sustentabilidade pede mudança de atitudes

Gestão de valores – A sustentabilidade pede mudança de atitudes


A sustentabilidade plena é um grande sonho. Para que isso seja mesmo parcialmente possível, os quatro grupos de atores da peça global precisam rever suas atitudes. Até recentemente, governos estavam preocupados com as condições econômicas, sociais e ambientais do seu reduto. Hoje, os problemas globais gritantes com relação ao aquecimento e as perdas da biodiversidade obrigam os governos a desenvolverem atitudes novas além de suas fronteiras.
Por conta do mesmo conjunto de advertências sistêmicas que assolam os governos, as empresas se vêem compelidas a incorporar preocupações socioambientais nos seus planos estratégicos. O mundo acadêmico – tradicionalmente com sua visão no retrovisor do tempo e preocupado com entender e remediar evidências – adota uma postura mais de prevenção em relação aos desafios complexos à nossa frente. E o público geral? Os padrões de consumo dos ricos e os métodos ineficientes de produção (dos pobres e ricos) são alvos daqueles que apelam por mudanças, não apenas de métodos, mas de atitudes.
Estes quatros atores – governo, empresa, academia e sociedade civil – participam de forma cada vez menos desengonçada na dança de mudanças no palco do momento. Embora a única solução de longo prazo para a sustentabilidade pareça ser a convergência das ações dos quatro, esquecemos frequentemente que a base de todos eles é o indivíduo humano. Atitudes nascem no coração individual, são polidas pela razão e respaldam suas ações. Atitudes são posturas internas que pautam tudo que fazemos. O mundo hoje é resultado das ações de uma coleção grande de indivíduos – quer sejam governistas, empresários, acadêmicos ou povo. As ações são conseqüências das atitudes que temos.
No ano de 2000, quando o assunto sustentabilidade ainda não estava tão batido e debatido, fiz parte de um grupo que organizou uma série de diálogos chamados “Valores e Interacción Social en la Globalización”, em Montevidéu, no Uruguai. Entre representantes de todos esses quatro grupos, o gelo da desconfiança inicial se derreteu no momento em que perceberam que só podiam fazer algo em direção a um futuro sustentável se cooperassem entre si e compreendessem os desafios a partir da plataforma de nossa humanidade comum. Deixamos nossos respectivos rótulos de representantes de ONG, governistas, empresários e acadêmicos para trás. Éramos apenas um grupo de seres humanos com anseios e experiências comuns – um grupo de passageiros no navio ‘Terra’ experimentando as mesmas ondas do mar bravo de uma sociedade convulsiva e uma biosfera em estado de perigo.
Naquele momento, o governo uruguaio tinha o poder, mas não as idéias nem o dinheiro. As empresas tinham o dinheiro mas não a vocação. As universidades representadas estavam fora de sintonia com as realidades que estavam no horizonte. A sociedade civil organizada estava cheia de entusiasmo para fazer algo em comum, mas cada ONG tinha sua própria agenda e muito pouco dinheiro. Contudo, essa dança tem melhorado um pouco de lá para cá.
Certamente, as atitudes principais que precisamos para orientar escolhas e decisões em prol da sustentabilidade são o respeito, a cooperação, o cuidado e a responsabilidade, independentemente dos nossos papéis. Quando as relações entre seres humanos, esses e a natureza são fundamentadas nesses quatro pilares, o resultado só pode ser saudável.
Conforme estudarmos meios de alcançar a sustentabilidade em vários níveis vale a pena olhar para aquilo que poderá deter sua realização. A essência da sustentabilidade está na atitude de uma mãe em relação ao seu bebê – o respeito, a cooperação, o cuidado e a responsabilidade estão todos presentes. Todos nós, homens inclusive, precisamos ser mais como mães dos nossos pedaços do planeta, uns dos outros e de nós mesmos se queremos que o futuro seja saudável. O grande inimigo dessas qualidades maternas, porém, é o narcisismo.
Narciso, tão fascinado e iludido com a sua própria imagem, só queria dominar seu próprio espaço para alimentar sua falsa grandiosidade. Assim, tal atitude é o pai da exclusão e age contra os instintos de cuidado e de inclusão tão necessários à sustentabilidade.
Oito anos se passou desde que aqueles diálogos geraram muito discurso. Todos querem mudanças, mas quantos querem mudar as atitudes subjacentes que, de fato, produzem o mundo em que vivemos? Naquele evento memorável sempre me lembro das palavras do presidente de uma empresa multinacional de auditoria: “A única utopia mesmo é acreditar que podemos criar um mundo melhor sem mudar as nossas atitudes”.
*Ken O’Donnell é autor de diversos livros, consultor, coordenador para América do Sul da Organização Brahma Kumaris e presidente do conselho do Instituto Vivendo Valores
 

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