Estudo NEXT – Especial MPE – Tendência 8: Financiamento

Estudo NEXT – Especial MPE – Tendência 8: Financiamento

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Tendência 8: Financiamento

Dinheiro verde

 Em todo o mundo, cada vez mais fundos de investimento, bancos públicos e privados,
agências de fomento e de cooperação internacional estão aportando recursos em
MPE com produtos e serviços baseados em oportunidades de negócio ligadas à
sustentabilidade. O chamado “investimento de impacto” anda em alta. Há mais recursos
disponíveis do que bons projetos e bons empreendedores, na opinião de especialistas

O estudo do NEXT identificou uma tendência muito promissora para MPE em todo o mundo: vem crescendo, na última década, a oferta de recursos e a variedade de mecanismos de financiamento para inovações em sustentabilidade. Essa é uma boa notícia. São cada vez mais comuns linhas de crédito em fundos de investimento, bancos públicos e privados, agências de fomento e de cooperação internacional. Para compreender melhor o quadro, apresentamos, a seguir, um panorama dos cenários no Brasil e no mundo, além de dicas e recomendações para empresas interessadas em acessar fontes de financiamento para os seus empreendimentos sustentáveis.

Para Daniel Ibri, da GRID Investments, fundo de investimento nacional com sócios brasileiros e estrangeiros e especializado em negócios diferenciados, vive-se um tempo fértil para o empreendedorismo inovador das micro, pequenas e médias empresas. Segundo ele, centenas de start-ups nascem todos os anos para apoiar iniciativas não convencionais. Mas, entre esses negócios com potencial de apoio, o fator sustentabilidade tem sido considerado pelos fundos de investimento? E com que peso? “O cenário é bastante positivo”, afirma Ibri. “Os investidores buscam, cada vez mais, em todos os níveis, empresas com práticas sustentáveis, que tratem adequadamente seus funcionários, sejam transparentes, cuidem do meio-ambiente e gerem valor para comunidades onde estão inseridas, sempre, é claro, conforme a sua capacidade e o tamanho de seus negócios. Os recursos estão mais seletivos e os investidores já reconhecem que empresas com consciência sustentável acabam sendo mais lucrativas e duradouras ao longo do tempo. O dinheiro mundial está migrando, cada vez mais, para projetos que gerem lucro e também benefício social.”

Investimento de impacto: conjugando resultados socioambientais e econômicos

Entre os modelos em ascensão – destaca o gestor da GRID – está o chamado impact investment. O investimento de impacto nada mais é do que o investimento feito em empresas, fundos ou outras organizações com o objetivo de gerar ao mesmo tempo impacto social e ambiental com retornos financeiros satisfatórios. Embora ainda precise “ser provado” em grande escala, ele não para de crescer em todo o mundo. “Parece um conceito abstrato, mas não é. É mensurável e facilmente avaliado, na prática, por investidores e empresas”, diz.  Segundo Ibri, a Artemisia, o Vox Capital e a GIIN (Global Impact Investing Network – Rede Global de Investimento de Impacto) são bons exemplos de organizações que se dedicam a, respectivamente, apoiar, financiar e disseminar conhecimento para empreendedores de impacto.

Os números dessa modalidade de negócio impressionam. E justificam a euforia dos seus entusiastas. Divulgada em maio deste ano, pesquisa do GIIN, em conjunto com o banco norte-americano JP Morgan, indica um volume mundial de US$ 12,7 bilhões disponíveis em fundos de investimento de impacto à procura de projetos e empresas que consigam conjugar sustentabilidade e lucro. Trata-se de um significativo crescimento de quase 20%, em relação a 2013. Os setores de microfinanças, serviços financeiros, energia, habitação, agricultura e saúde – enfatiza Ibri – respondem por aproximadamente 75% dessa alocação, “sem contar outros estímulos e linhas de crédito oferecidos pelos governos de diversos países, inclusive o Brasil, por meio de programas do BNDES e incentivos fiscais, por exemplo”.

Na visão do sócio da GRID, o capital, portanto, existe e está aí para ser acessado por micro e pequenas empresas. O mais difícil são bons projetos, capazes de resultar simultaneamente em impacto e lucro, e bons empreendedores, que creem no que fazem, e não apenas seguem conceitos ou teorias para aproveitar o momento ou se mostrar bons perante a sociedade. “O Brasil ainda tem muito a aprender com o que já foi desenvolvido no restante do mundo, mas com a quantidade de capital disponível, a competência dos empreendedores e a quantidade de problemas sociais e ambientais enfrentados todos os dias, acredito que chegaremos lá”, complementa Ibri.

Fundos sustentáveis nos Estados Unidos e União Europeia

Nos últimos anos, o capital de risco dos fundos de investimento para start-ups e pequenas empresas com potencial de crescimento têm sido direcionados para os chamados setores de “tecnologia limpa”. Nos Estados Unidos, em particular, os investidores costumam apoiar projetos nas áreas de energia limpa e transporte, embora outros, como o da reciclagem, também venham sendo beneficiados. Dados do National Venture Capital Association atestam um aumento notável no montante de investimento de capital de risco em tecnologia limpa nos EUA: de US$ 628 milhões (2005) para US$ 4,7 bilhões (2011). Os valores cresceram mesmo em meio à importante crise econômica global iniciada naquele país.

O mesmo capital de risco, hoje muito sensível às questões de sustentabilidade, tem sido importante fonte de financiamento também para novas e jovens empresas na União Europeia. No Fórum Europeu sobre Ecoinovação, realizado em Lisboa, em 2012, Georgios Floros, da direção geral da Comissão Europeia para Assuntos Econômicos e Financeiros, alegou que os fundos de capital de risco criados na União Europeia cresceram, entre 2008 e 2011, em €17.8 bilhões. Esse dinheiro abastece a pesquisa de novas ideias, o financiamento de novas empresas que as comercializam e, posteriormente, o suporte de apoio à sua expansão.

O capital de risco serve também como opção para o investimento público, especialmente em momentos nos quais os governos precisam otimizar seus orçamentos. Segundo Floros, o investimento da UE ajudou a alavancar cerca de € 2,1 bilhões em capital de risco em geral, ou seja, estimulando o investimento privado a crescer 5,5 vezes, o que pode beneficiar empresas inovadoras de pequeno e médio porte, com elevado potencial de crescimento. Aproximadamente 28% do total de investimentos integraram os fundos especializados em ecoinovação.

De acordo com Philippe Durieux, CEO da Sopartec, organização ligada à Universidade Católica de Louvain, na Bélgica – cuja missão é transferir tecnologias que beneficiem a sociedade e tratar de questões sociais e desafios ambientais -, os fundos de capital de risco europeus levam em conta três questões principais na hora de investir numa ideia potencial de ecoinovação: forte propriedade intelectual, capacidade de atender a uma grande demanda de mercado e confiança na equipe de gestão.

No II Seminário Internacional de Sustentabilidade Empresarial, promovido este ano pela Cemig e pela Apimec MG (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento em Mercado de Capitais), Blanca Vega, da canadense Sustainalytics – líder mundial em pesquisa e análise de sustentabilidade para investidores de todo o mundo -, afirmou que as análises de sustentabilidade são consideradas indispensáveis pela maioria dos fundos de pensão e fundos de investimento na Europa. Elas extrapolam o universo das bolsas de valores, compreendendo também os países onde se situam, pois os investidores europeus sabem que as empresas podem ser bastante afetadas por políticas e regulações governamentais, e práticas relativas a meio ambiente e mudanças climáticas, relações trabalhistas, cadeia de suprimentos, entre outros fatores.

Fundos Sustentáveis no Brasil

Há uma oferta considerável de produtos financeiros voltados à sustentabilidade para os pequenos negócios no Brasil. Isso foi o que constatou levantamento realizado em 2012 pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.) Cerca de 69% dos bancos com carteira mercantil, 16 agências de fomento, três bancos estaduais de desenvolvimento e o BNDES possuem relacionamento comercial com os pequenos negócios. O estudo lista também nove instituições com linhas de crédito específicas para programas de sustentabilidade ambiental – no caso dos pequenos negócios, elas são diversificadas e acompanham as demandas de cada região do país.

Apesar da maior disponibilidade de linha de crédito sustentável para os pequenos nos últimos anos, o estudo do Sebrae conclui que, até 2012, elas ainda estavam restritas a bancos públicos federais e agências estaduais de fomento,  e que a entrada dos bancos privados, neste segmento, mostrava-se tímida e limitada a algumas instituições. Tem-se observado, especialmente nos últimos dois anos, um aumento da oferta entre os privados.

Primeiro fundo sustentável do mercado brasileiro, o Ethical, criado pelo ABN Amro, em 2001, e hoje administrado pelo Santander, acumula um rendimento quase 20% superior ao do Ibovespa, resultado exclusivamente de ações de empresas que cuidam do planeta. Ele aposta na correlação, cada vez mais valorizada, entre sustentabilidade e rentabilidade. “A premissa do investimento é que sustentabilidade gera valor com o tempo. E as empresas com as melhores práticas terão desempenho superior ao do mercado”, diz Pedro Villani, superintendente de Gestão de Fundos Socioambientais da Santander Asset Management.

Em uma recente revisão de suas políticas operacionais, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destaca a prioridade ao investimento, competitividade e sustentabilidade socioambiental, além de ampliar acesso às micro, pequenas e médias empresas (MPME). As regras – que estão no site da instituição desde fevereiro – aumentam o campo para o financiamento privado, tornando-o mais simples e eficiente.

Comprova a nova prioridade conferida ao setor o fato de que os financiamentos do BNDES às empresas de menor porte podem chegar a até 90% do custo do projeto. As novas políticas criam condições especiais para as micro e pequenas empresas nas linhas do produto BNDES Automático, como por exemplo, receber reembolso de investimentos já realizados. Para tanto, o projeto de investimento precisa estar concluído em até 12 meses anteriores à data de entrada da solicitação de financiamento no Banco.

Já o Cartão BNDES é um crédito rotativo e pré-aprovado, destinado ao financiamento de investimentos e aquisição de produtos credenciados e serviços de eficiência energética e redução de impacto ambiental.  Também voltado às MPME de controle nacional, consiste num crédito pré-aprovado de até R$ 1 milhão. As empresas com serviços nas áreas de eficiência energética podem procurar o BNDES para se tornar fornecedoras dos serviços, o que abre também uma nova oportunidade para captar clientes.

Oportunidades na Finep

Recursos públicos voltados à sustentabilidade também estão disponíveis na Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), empresa pública de fomento à inovação em empresas e universidades ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo o seu presidente, Glauco Arbix, os financiamentos deverão alcançar R$ 10 bilhões, em 2014, quase o dobro em relação a 2013, quando foram disponibilizados R$ 6,3 bilhões. A estimativa se baseia no desempenho do Programa Inova Empresa, lançado há um ano pela presidenta Dilma Rousseff, com orçamento de R$ 32,9 bilhões, R$ 25 bilhões dos quais provenientes de recursos da Finep e do BNDES.

Empresas dos mais variados portes podem requisitar recursos do programa Brasil Sustentável para financiar a inovação com foco em sustentabilidade. As estratégias de financiamento variam desde o aporte financeiro direto até a compra de participação societária (private equity) em organizações com perfil inovador. O apoio da Finep abrange todas as etapas e dimensões do ciclo de desenvolvimento científico e tecnológico: pesquisa básica, pesquisa aplicada, melhoria e desenvolvimento de produtos, serviços e processos. Inclui, ainda, a incubação de empresas de base tecnológica, a implantação de parques tecnológicos, a estruturação e consolidação dos processos de pesquisa e o desenvolvimento de mercados.

Um exemplo de projeto apoiado pela Finep é a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas (Ataic), do Pará, que, em 2011, ganhou um prêmio em inovação social  concedido pela organização. A Ataic investiu em melhorias de suas técnicas de pesca a partir de estudos realizados em parceria com uma ONG da região – novos processos e equipamentos melhoraram a qualidade ambiental local, além de agregar valor ao produto.

A interação com os bancos privados

Bancos privados, como o Santander e o Itaú, têm se envolvido com iniciativas relacionadas à sustentabilidade para micro e pequenas empresas, adotando critérios socioambientais nos processos de concessão de crédito e financiamento, que incluem desde questões ligadas à redução de emissões até a inclusão financeira. As relações se baseiam na premissa do ganha-ganha. Quanto mais sustentável for a pequena empresa, isto é, quanto mais  estiver atenta às demandas socioambientais e quanto melhor a sua governança, menor o risco e maiores as chances de aumento do seu crédito, de sua sobrevivência e do seu crescimento ao longo do tempo. Como empresas sustentáveis interessam também aos bancos como clientes, eles têm se dedicado não só a identificá-las mas também a apoiá-las em sua estruturação e desenvolvimento.

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