Enfrentar desafios para cumprir metas

Enfrentar desafios para cumprir metas

Por Marcelo Theoto Rocha

O IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU) nos alerta de que seria necessário reduzir, até 2050, no mínimo 50% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE), em relação às de 2000, para que o aumento da temperatura global média fique em torno de 2?C. Os países desenvolvidos deveriam assumir a liderança e reduzir suas emissões entre 25% e 40% abaixo dos valores de 1990, até 2020.

As metas não vinculantes descritas no Acordo de Copenhague são insuficientes para garantir as reduções necessárias. O Brasil, apesar do pioneirismo com a adoção da Política Nacional sobre Mudança do Clima, que propõe a redução “entre 36,1% e 38,9%” das emisso~es de GEE projetadas ate´ 2020, ainda não apresentou um plano concreto de como viabilizar tais reduções.

São baixas as perspectivas de se obter, até dezembro de 2011, um acordo global que permita o estabelecimento do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto (pós-2012). Por meio dele, os países desenvolvidos teriam novas metas de redução de GEE, e os grandes emissores, tais como Estados Unidos, China, Índia, África do Sul e Brasil, realizariam esforços de redução capazes de torná-los mensuráveis, reportáveis e verificáveis.

Diante desse cenário, quais são os desafios, riscos e oportunidades para as empresas? Muitas organizações responderiam que, na ausência de regras claras e consequentemente obrigações legais para a redução das emissões, o melhor seria apostar em medidas de adaptação e continuar trilhando uma “economia de alta intensidade de carbono”. Para colaborar com esse raciocínio, apresentariam também como argumento os investimentos já realizados em infraestrutura e geração de energia que ainda “não se pagaram” e que, portanto, não faria sentido revertê-los agora ou no curto prazo (2020).

Outras empresas pensam diferente e já iniciaram, seja por pressões legislativas ou não, a transição para uma economia de baixo carbono. É o que mostram os resultados do Carbon Disclosure Project (CDP), em particular no Brasil, onde 80 das maiores empresas são convidadas a responder ao questionário de disclosure climático e seis grandes corporações decidiram levar o questionamento também aos seus fornecedores, totalizando mais de 500 companhias consultadas.

Apesar de mostrar uma visão mais consciente por parte de milhares de empresas, os resultados do CDP sinalizam também os inúmeros desafios para que possam de fato mitigar suas emissões de GEE. Entre eles cabe ressaltar:

1) A falta de uma melhor interação com os governos, em particular no estabelecimento de mecanismos eficazes para o cumprimento das metas;

2) Os elevados custos de muitas das tecnologias de baixo carbono;

3) A incapacidade dos investidores em valorar de forma correta os riscos e benefícios de uma governança climática. Apesar das respostas das empresas ao CDP, são poucos os investidores que as utilizam de maneira eficiente no momento da tomada de decisão;

4) A impossibilidade dos consumidores de perceber e pagar mais por produtos e serviços com menores emissões de carbono. Infelizmente, em países como o Brasil, apesar do discurso, muitos consumidores ainda não estão em condições de despender uma porcentagem maior de sua renda para a aquisição de produtos e serviços que tragam consigo um maior valor ambiental.

Exemplos de como superar cada um desses desafios não faltam. Torna-se necessário estudá-los e replicá-los para que se possa de fato atingir as metas que a Ciência nos cobra. Mais do que riscos, a governança climática encerra uma oportunidade para as empresas redesenharem a sua estratégia frente aos novos tempos, que exigem a integração das informações financeiras, ambientais e sociais, para que de fato seja possível tomar decisões com base no triple bottom line, sob pena de comprometer a perenidade do negócio no longo prazo.

Marcelo Theoto Rocha é diretor do Carbon Disclosure Project – South America. Tem atuado como assessor do governo brasileiro nas últimas negociações sobre clima.

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