Educação para a Era da Sustentabilidade

Educação para a Era da Sustentabilidade

Por Diego Conti

Depois de uma imersão interior, fazendo uma releitura da minha história e do meu passado, percebo que encontrei o grande tema que inspiraria a minha vida profissional, acadêmica, social e familiar. Em 2007, quando recebi o meu título de bacharelem Administração de Empresas, sentia-me orgulhoso pelo feito, afinal, meus dois irmãos e eu seríamos os primeiros da família a possuir um curso superior.

Durante o período de estágios da época universitária, encontrei diferentes ocupações voltadas à profissão do administrador de empresas, desde operador de compras até técnico de vendas. Passado aquele período de aprendizagem profissional e já graduado, deparava-me com uma crise interpretativa do mundo, das inspiradoras aulas da faculdade para o mundo real, compreendendo como nunca a frase de Thomas Hobbes, que dizia que “o homem é o lobo do homem”, e o pensamento de Friedrich Nietzsche – “para além do bem e do mal”. Insatisfeito com aquela realidade e com o mundo tal como é, decidi partir para uma trajetória acadêmica e empreendedora, em busca de agregar valor ao mundo por meio de propostas e projetos éticos.

Nesta trajetória pessoal, ficou evidente como os valores mudam e nos moldam com o passar da vida e das experiências. O ser humano, assim como os estados físicos da matéria, é mutável. Há 10 anos, se me perguntassem sobre economia, eu seria um grande defensor do livre mercado, dos lucros descomedidos e de toda a dinâmica trazida por John Locke, Adam Smith e David Ricardo. Em busca de uma literatura clássica alternativa ao meu pensamento, defrontei-me com autores como Karl Marx e Friedrich Engels, que traduziam outra visão de mundo. No entanto, hoje, percebo que não se trata de capitalismo ou socialismo, de direita ou esquerda ou como queiram chamar, mas sim, do mundo em que queremos viver.

Em 2009, quando ingressei no mestrado, recém-chegado de uma escola de política da Alemanha, decidi investir aqueles dois anos de pesquisas que viriam pela frente em “sustentabilidade”. Talvez a escolha mais certeira da minha vida, estimulada pelo meu grande amigo e orientador, professor Arnoldo Jose de Hoyos Guevara. Na PUC-SP, tive a oportunidade de estudar e debater com grandes economistas do pensamento sistêmico, como Ladislau Dowbor e Ignacy Sachs.

Naquele momento, tive a certeza do que faria pelo resto da minha vida: ser um educador. A educação está ligada diretamente ao modo de pensar e agir das pessoas, sendo a base cognitiva dos seres humanos. No mestrado, pude conhecer a obra de Paulo Freire e outros pensadores críticos da educação, percebendo que ela era o fio condutor da dinâmica e reprodução do comportamento da sociedade.

Seguindo ainda a linha freireana, a visão crítica é de fundamental importância para que encontremos soluções e saídas para as complexidades do mundo moderno. Albert Einstein dizia não ser possível encontrar soluções para os problemas mantendo um conjunto de pensamentos e comportamentos, de forma que somente o “fazer diferente” seria capaz de implementar as grandes transformações. Transformações estas que podem ser tratadas no âmbito dos indivíduos, pois, como Edgar Morin argumenta, vivemos um momento em que a reforma mais importante é a do ser humano.

Em vésperas da defesa do mestrado, decidi iniciar minha carreira de docente numa pequena faculdade próxima a São Paulo, a Faculdade Unida de Suzano (UNISUZ), onde tive grande liberdade para exercer minha vocação e aprender. Minha primeira disciplina como docente foi Teoria Geral da Administração (TGA), matéria alicerçada nos pensamentos de Taylor, Fayol, Ford e outros autores clássicos da Administração.

Em 2012, motivado pelo concurso “Santander Práticas de Educação para a Sustentabilidade”, decidi encaminhar uma proposta, na qual me comprometia a alinhar sustentabilidade com uma disciplina do curso de Administração em 100% das aulas e instrumentos de avaliação. A disciplina escolhida foi TGA I. Ali, começava um grande desafio, principalmente para fazer os cruzamentos de uma disciplina de “História da Administração” com temas de inovação e sustentabilidade, tornando a matéria multidisciplinar sem perder a sua essência.

Dentre os mais de 130 participantes espalhados pelo Brasil, o meu projeto “Educação para a Era da Sustentabilidade” foi um dos seis finalistas. O sucesso da proposta se deu principalmente pelo engajamento e participação dos alunos na temática, pela inclusão da sustentabilidade de forma transversal no currículo da disciplina, pelo processo de avaliação sistemático dos ensinamentos, pelos espaços para pesquisas em campo e debates em formato de think tanks.

Ao longo do semestre, foram incluídos nas aulas temas como liderança, eficiência energética, gestão da água, logística reversa, construções sustentáveis, responsabilidade social, economia verde e meio ambiente, seja por meio de aulas expositivas ou de debates e estudos de casos. Baseada em princípios filosóficos como os de Mahatma Gandhi, a ideia geral do projeto foi formar novos líderes para a sociedade, com uma visão crítica e sistêmica dos processos globais, compreendendo que a mudança individual é a grande chave para uma mudança coletiva.

Por meio de técnicas de construção de cenários, pudemos realizar em sala de aula cruzamentos estatísticos – com indicadores demográficos, por exemplo – e de variáveis emergentes – como segurança alimentar, água, resíduos sólidos e energia. Assim, pôde-se compreender que a dinâmica do sistema é dada pela influência das empresas e do seu capital econômico. Nesse ponto, seguindo as ideias de Fritjof Capra, os alunos perceberam as conexões existentes nos mais variados campos do conhecimento e da vida. Conexões até então ocultas. A elevação da consciência faz com que novos gestores alinhem o seu pensamento com os valores do triple bottom line, tornando os processos de decisão mais eficientes e eficazes do ponto de vista socioambiental.

Por fim, ressalta-se que a educação para a sustentabilidade é um dos grandes catalisadores para as mudanças estruturais, pois dá a dinâmica da sociedade por meio da formação dos valores dos indivíduos. Ela deve ser aplicada de forma transversal desde a educação básica até a educação técnica e superior, seja num curso de Economia ou de Medicina, sendo uma peça vital para o desenvolvimento da consciência humana.

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