“É ingênuo achar que governo vai dar conta de toda a questão ambiental sozinho”, diz diretor de novas economias do MDIC

“É ingênuo achar que governo vai dar conta de toda a questão ambiental sozinho”, diz diretor de novas economias do MDIC

O que o mundo espera de nós? Ao contrário do que sugere a canção de Lenine, não há mais paciência. O mundo espera que o Brasil tome para si, de uma vez por todas, a agenda ambiental o quanto antes e lidere esta questão. O atual governo, apesar das dificuldades, tem tentado dar alguns importantes passos nessa direção.

Um feito inédito foi a criação de uma Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria cravada bem no meio do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), pasta que, como se sabe, nunca esteve muito comprometida com a sustentabilidade. “Mas agora ela está. A questão ambiental assumiu uma centralidade no governo e aparece em diferentes pastas. Esta é uma diretriz norteadora de ações”, garante Lucas Ramalho Maciel, diretor de Novas Economias da Secretaria.

Em entrevista exclusiva a NetZero, Maciel explica quais são estas novas economias que surgem, o interesse do governo neste fomento, qual o principal papel da iniciativa privada para que o país esteja na frente dos negócios ambientais e de que forma empresas e poder público podem caminhar juntos em um interesse que é de todos.

“A preocupação com o planeta e com as pessoas é um caminho sem volta. Está arraigada no setor corporativo, é parte obrigatória da agenda empresarial. Não é mais um problema apenas dos governos”.

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NETZERO: Por que a criação de uma Secretaria de Economia Verde e um braço de Novas Economias dentro do governo federal?

LUCAS RAMALHO:

Em primeiro lugar, desde a equipe de transição, da qual fiz parte, a questão ambiental assumiu papel central na concepção e organização dos ministérios do novo governo. Existe uma expectativa muito grande do mundo inteiro com o papel que o Brasil vai desempenhar na área ambiental. Isso é esperado e natural. Então, foi importante inserir o tema na pasta da Fazenda, nas Minas e Energia, na Agricultura, entre outros. Na pasta da Indústria, criamos uma Secretaria de Economia Verde. A questão ambiental no novo governo é central e tem coordenação transversal em diferentes pastas, direcionando ações em todos os ministérios.

Qual a importância das novas economias para o país?

Existe uma necessidade evidente de produzir bens e serviços de forma a respeitar o meio ambiente, com novas oportunidades de desenvolvimento e renda. Como atrair investimentos produtivos ao nosso país com empreendimentos limpos e sustentáveis, que geram benefícios para os brasileiros e para o planeta? Este é um de nossos papéis. Eu me refiro, por exemplo, a energias sustentáveis e melhores práticas ESG. O potencial da economia mais limpa é enorme: geração de renda, empregos, e existem estudos que indicam crescimento de 30% do PIB até 2030 a partir de investimentos em energias limpas, hidrogênio verde, biocombustíveis e bioeconomia.

Nenhum outro país tem potencial maior que o nosso de reduzir as emissões, incluir as populações, e ainda assim continuar crescendo. Podemos, inclusive, usar nossa baixa emissão de gás no processo produtivo para oferecer bens e serviços que o mundo precisa.

Quais são estas novas economias?

Não é uma única nova economia; são várias tendências econômicas que se propõem a melhorar o sistema atual. Temos a economia verde, a regenerativa, a solidária, entre muitas outras. Todas elas têm em comum uma crítica ao atual modelo de produção e distribuição, seja na área social, seja ambiental. São muitas tendências que se originam a partir do atual sistema hegemônico. Acho boa a composição de trabalhar com diferentes vertentes e dar vazão a elas. Aqui na secretaria trabalhamos com 4 destas vertentes: a economia circular, a de impacto, a bioeconomia e a verde. Estas quatro, no momento, merecem uma atenção maior do Estado brasileiro.

Quais são os principais desafios que vocês têm enfrentado?

Temos desafios de ordem regulatória, tecnológica, comportamental, financeira (recursos) e institucional. Na parte regulatória, por exemplo, eu destacaria a necessidade de um arcabouço tributário mais simplificado.

Recebo delegações do mundo inteiro querendo oportunidades de investimentos no Brasil e a questão tributária afugenta esses investimentos.

Precisamos também avançar com a taxonomia verde. O que é considerado investimento limpo, sustentável? É preciso classificar isso. Na parte de recursos, precisamos de mais investimentos, e isso passa novamente por nosso arcabouço fiscal. As parcerias público-privadas podem ajudar muito a fortalecer a economia verde.

Como você enxerga o interesse do setor privado nesta agenda?

Há muito interesse em fazer esta economia florescer, muitos representantes atrás destes investimentos. Em geração de energia limpa, mercado de carbono, diversas startups surgindo na área ambiental, reciclagem, coleta. Vejo todos estes elementos acontecendo.

Existe uma percepção muito grande do setor produtivo. Mas temos que avançar – temos que fortalecer a reciclagem, aumentar a conscientização, a cultura do reaproveitamento, sistemas mais limpos e legislações que estimulem isso.

O interesse neste agenda é crescente. Pelo lado do governo, em breve lançaremos um programa que deverá aumentar consideravelmente a sustentabilidade nas empresas.

O que o governo diria para os empresários em um momento em que o investimento em sustentabilidade é urgente?

Está evidente que o mundo precisa de um empresariado mais consciente e que respeite os recursos naturais, o planeta. Como já está acontecendo na União Européia, cada vez mais, os países vão exigir processos mais limpos para a comercialização de produtos. E as empresas brasileiras precisam estar preparadas. O governo está atento a isso e quer estar junto neste processo. O recado é que o governo vai ajudar a representar os empresários brasileiros e pretende defender seus interesses no exterior, assim como das gerações futuras.

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