“Construir de forma mais eficiente significa grana no bolso”, diz executivo de fundo de investimentos inédito no Brasil

“Construir de forma mais eficiente significa grana no bolso”, diz executivo de fundo de investimentos inédito no Brasil

Já passou da hora de o setor imobiliário embarcar de vez no ESG. De olho neste filão ainda pouco explorado, executivos como Luis Claudio Garcia de Souza (Pactual, Rio Bravo e RB Capital) e Marcelo Hannud (Aurea Asset Management) decidiram se unir, em parceria com o MIT (Massachussets Institute of Technology), e criar um fundo de investimentos inédito no Brasil para fomentar startups de clima que estejam focadas neste mercado: a Aurea Finvest Carboncap. O fundo é um filhote da Aurea Finvest, a primeira parceria da dupla.

“Ao contrário da Amazônia, onde a árvore no chão infelizmente parece ter mais valor que a árvore em pé, porque é possível precificar a madeira, no mercado imobiliário, tudo tem preço – aço, energia, cimento”, afirma Diogo Castro e Silva, sócio da Aurea Finvest.

“Se você constrói de forma mais eficiente ou reduz a conta energética de um edifício, é grana no bolso – não há contradição entre economia e meio ambiente. O que existe é um custo de transição e é isso que a tecnologia pode ajudar a mitigar.”

Além de contar com o investimento proprietário da empresa, o fundo tem meta de captação de US$ 40 milhões e prazo de oito anos. O objetivo é investir em cerca de 20 startups brasileiras e internacionais, que também terão apoio da Aurea Finvest para entrar no mercado brasileiro.

A condição: elas precisam resolver problemas concretos, sejam eles na operação imobiliária ou na cadeia construtiva, contribuindo para a descarbonização ou introduzir novos materiais e formas de construir que sejam positivas para o meio ambiente. Além, é claro, de reduzir os custos.

Essas empresas também já devem ter tecnologia comprovada, gerar receita e estar escalando sua atividade – fases iniciais como Pré-seed e Seed não estão no radar da Aurea Finvest –, mas não vão precisar chegar a um IPO, uma vez que podem ser vendidas.

ALGUNS EXEMPLOS EM ANDAMENTO

Um exemplo é a americana KTERIO, que compila e torna transparentes os diferentes dados dos diversos equipamentos (de marcas variadas) de um grupo de edifícios para que seu operador possa poupar energia e reportar sua pegada imobiliária. Outro é a israelense de aquecimento, geração e reutilização de energia Standard Carbon, que transforma parte dos gases que saem de uma construção em metano, que volta a ser injetado na rede, gerando uma economia circular.

Além da criação do fundo, a ideia é que a Aurea Finvest atue ainda na construção de todo o ecossistema para o setor no Brasil envolvendo entidades de regulação, operadores imobiliários e, é claro, startups. Um exemplo é o investimento feito na criação de um outro fundo, este de pesquisa, do MIT. Com tudo isso, o mercado deve ganhar consistência, além dos instrumentos financeiros necessários.

“Queremos ser uma fagulha, um desencadeador daquilo que é um fenômeno muito maior. É preciso criar uma aliança virtuosa entre o mercado e a descarbonização porque não vamos resolver todos os problemas só com regulação.”

O CERCO SE FECHA

Em todo o mundo, governos e mercado apertam cada vez mais as regras para o setor imobiliário. O parlamento europeu, por exemplo, aprovou recentemente uma lei determinando que proprietários de edifícios comerciais com certificação energética baixa não podem mais vendê-los ou locá-los, forçando o retrofit para evitar impacto patrimonial nos balanços. No Brasil, entidades reguladoras como CVM (Comissão de Valores Imobiliários) já exigem que grandes operadores imobiliários latino-americanos, como os de shopping centers, reportem sua pegada carbono.

A pressão vem do topo: “A influência do clima sobre os imóveis é visível e está nas manchetes dos jornais, como a tragédia de fevereiro, no litoral norte de São Paulo, mas é preciso falar também sobre o grande efeito do setor sobre o clima – algo que, espero, será debatido intensamente na COP 28, em Dubai”, alerta Castro e Silva.

“Nenhum governo do mundo vai conseguir atingir as metas climáticas sem tocar no setor imobiliário. Matematicamente isso é impossível. Mesmo o Brasil, que tem como maior desafio controlar o desmatamento da Amazônia, só será bem sucedido na questão se agir em outras áreas da economia. E, se temos um ator responsável por 40% do problema, ele deve ser olhado como prioridade.”

Para o executivo, é fundamental, portanto, educar e passar a mensagem correta para todos os envolvidos – a que convencerá mais pessoas mais rapidamente:

“Sustentabilidade e dinheiro no bolso podem andar juntos e isso é extremamente proveitoso para o empresário, que, além de contar com ativos mais eficientes, também terá mais facilidade na captação de investidores.”

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