Com a ascensão da sustentabilidade no mundo corporativo, os mercados globais começam a recompensar empresas e países por sua capacidade de fazer negócios respeitando o meio ambiente e a justiça social. Há quem ache essa tese um exagero. Mas –vale lembrar — há três anos achava-se exagerado também o discurso dos que pregavam os riscos do aquecimento global assim como os projetos empresariais de produtos com baixa emissão.
Não vai demorar muito, portanto, para que a competitividade responsável passe a ter um valor crescente e uma correlação cada dia mais direta com o desenvolvimento econômico de uma nação. Assim como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) determina o modo como os países tratam as questões elementares para a qualidade de vida de seus habitantes, o ICR (Índice de Competitividade Responsável) tem tudo para ser um fator distintivo do modo como as empresas realizam as suas transações comerciais em um mundo marcado pela ameaça das mudanças climáticas, pela escassez de recursos naturais e por imensas e graves desigualdades sociais. Considerando a importância que este índice poder ter, em futuro próximo, vale entender como hoje ele é medido por quem o formulou — a consultoria inglesa AccountAbility em parceria com a escola de negócios brasileira Fundação Dom Cabral (MG).
O ICR, aplicado em 108 países, apóia-se em 21 indicadores, divididos em três núcleos. O primeiro, chamado Impulsionadores de Políticas, compreende sete itens relacionados ao nível de compromisso dos governos em relação a convenções internacionais e ao modo como asseguram, por exemplo, a redução da desigualdade entre sexos, a fiscalização dos impactos ambientais e a manutenção de boas práticas trabalhistas. Compõem este sub-índice, a assinatura e a ratificação das convenções Marco da ONU sobre Mudança de Clima (1992) e sobre Diversidade Biológica (1992), os Protocolos de Kyoto (1997) e de Cartagena para a Biosegurança (2000), e ainda os oito últimos tratados internacionais de natureza trabalhista, que abordam a liberdade de associação e negociação coletiva, a eliminação de trabalhos forçados e compulsórios, da discriminação no emprego e do trabalho infantil. Além disso, contam pontos também o Índice de Rigidez Empregatícia (dificuldade de contratação e demissão e rigidez de horas), o rigor das leis de proteção ambiental, o volume de emissões de carbono pelo Produto Interno Bruto, a contratação de mulheres em empresas privadas e a existência de um ambiente fiscal responsável.
O segundo núcleo, também de sete itens, denomina-se Ação Empresarial. E como o nome sugere, reúne indicadores referentes ao comportamento das empresas na gestão de questões da responsabilidade corporativa hoje muito valorizadas como governança, educação dos funcionários, segurança e saúde ocupacional e diminuição de impactos ambientais. Documentos como os do padrão ISO (certificações 14001 e 9001) e o Pacto Global da ONU, de adesão voluntária, servem como bússola. Assim como também é um bom instrumento de orientação o respeito ás normas e regulamentos praticados para temas como a eficácia dos conselhos empresariais, o comportamento ético das corporações, a isonomia de salários para trabalhos semelhantes, e os padrões rigorosos de auditoria e contabilidade. O treinamento aos colaboradores e os acidentes de trabalho constituem outros dois indicadores básicos deste sub-ítem.
O terceiro núcleo, o dos Habilitadores Sociais, inclui sete indicadores cujo propósito central é mostrar se –e em que nível — o ambiente social de um país está favorável para a consecução de negócios responsáveis e o quanto sua sociedade civil vem se mobilizando para esse esforço.Em seu escopo, destacam-se a percepção sobre corrupção, o quanto os clientes estão orientados, a liberdade de imprensa, a transparência nas transações, a afiliação a ONGs, o impacto do ar e da água limpos nas operações empresariais e a existência de direitos políticos e liberdades civis básicas.
Para selecionar os 21 indicadores, entre os mais 600 conjuntos de dados internacionais hoje disponíveis, a AccountAbility usou seis critérios básicos: a relevância para a prática de negócios responsáveis, a capacidade de ser explicado por meio de teoria aceita, a independência das fontes, a consistência das metodologias e a amplitude geográfica. Listados os indicadores, a consultoria calcula o desempenho do país, conferindo-lhe, na forma de porcentagem, a melhor pontuação possível para cada item e, por somatória, a cada um dos três núcleos. Em seguida, atribui-se a cada país um certo grau de desenvolvimento com base em método do Banco Mundial que classifica as nações conforma o seu nível de renda (baixa, média ou alta). Para os idealizadores do ICR, o nível de desenvolvimento é um fator fundamental para uma compreensão dos desafios de competitividade responsável. Por isso, dependendo dele, utiliza-se um peso específico para a ponderação de cada um dos 21 indicadores. O índice nasce, portanto, da somatória do nível de desenvolvimento do país, mais a nota atribuída aos Impulsionadores de Políticas, à Ação Empresarial e aos Habilitadores Sociais.
No ranking geral, o Brasil aparece na posição de número 56. Comparado com a China (87) que se encontra no bloco dos países de alta renda, Rússia (83), entre os de renda média, e Índia (70), nos de baixa renda, o Brasil está melhor do que o primeiro e o segundo e pior do que o terceiro, exatamente no indicador Habilitadores Sociais, o seu ponto mais fraco. Obteve a nota 52,3 contra 35,9, 38 e 52,5 dos outros três. A primeira conclusão possível é que se quiserem atingir um bom patamar de competitividade, os BRICs terão de avançar muito no respeito ás liberdades, no engajamento da sociedade civil, nas transparência de suas ações e no combate á corrupção.
Artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil em 01/04/2008.
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