Por Marco Antonio F. Milani Filho
O tema sustentabilidade está presente no discurso de empresários, investidores, cientistas, gestores públicos e, ainda, influencia o comportamento de muitos consumidores. Mesmo diante de tanta exposição, não é tarefa simples compreender-se o que realmente caracteriza uma empresa, um produto ou uma ação sustentável.
Inicialmente, deve-se conhecer sob qual perspectiva está se usando o termo sustentabilidade: do planeta (macro) ou das organizações (micro). Essa diferenciação é fundamental para se entender sobre o que realmente está sendo tratado. A macroperspectiva refere-se, essencialmente, ao documento Nosso Futuro Comum (Our Common Future) elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987. Nesse relatório, definiu-se desenvolvimento sustentável como sendo aquele capaz de satisfazer as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades. A microperspectiva, por sua vez, centra-se nas necessidades de sobrevivência e sucesso das organizações. Uma empresa sustentável, segundo a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), é aquela capaz de gerar valor para o acionista no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais… Logo, são perspectivas diferentes que, embora relacionadas, apresentam variações na compreensão do conteúdo.
Outro aspecto que pode distorcer o significado do tema é a suposição de que sustentabilidade esteja relacionada, exclusivamente, às práticas voltadas ao meio ambiente. A vertente ambiental é apenas uma daquelas que compõem o chamado tripé da sustentabilidade (Triple Bottom Line), pois também devem ser consideradas as vertentes social e econômica. Se, por um lado, é mais fácil ao cidadão comum associar práticas sustentáveis à responsabilidade socioambiental, por outro, não se pode desconsiderar que os aspectos econômicos estão intrinsecamente relacionados ao consumo e obtenção de recursos necessários à sobrevivência do planeta e das organizações.
A responsabilidade socioambiental, caracterizada como um conjunto de políticas e práticas adotadas por determinada organização visando ao aprimoramento das relações com seus diferentes grupos de interesse (stakeholders), direciona-se à criação de condições favoráveis para a sustentabilidade empresarial. De maneira oportunista, algumas organizações se declaram socialmente responsáveis, apenas, porque cumprem obrigações legais, como o pagamento de impostos ou a instalação de filtros para reduzir a poluição. Será que os empresários transfeririam recursos ao Estado se pudessem optar por retê-los? Pagar tributos não é uma atitude voluntária em prol da comunidade, pois é um impositivo previsto em lei, ou seja, se a empresa assim não proceder ela estará sujeita a receber multas e outros tipos de punições. Igualmente, a legislação ambiental prevê a instalação de diversos equipamentos antipoluentes. O investimento em equipamentos de proteção ambiental evita multas por danos ao meio ambiente e processos judiciais movidos por entidades ambientalistas. Todas essas medidas estão diretamente relacionadas com a sustentabilidade da organização e, supostamente, contribuem para melhorar os resultados futuros e aumentar o valor de mercado da empresa. Essa situação levanta um aspecto relevante na caracterização de empresas socialmente responsáveis: as práticas voluntárias, ao contrário das ações impostas por força de lei. Assim, espera-se que a responsabilidade socioambiental corporativa represente ações voluntárias, além das obrigações legais.
Outro aspecto interessante é o desenvolvimento de ações voltadas ao público interno. Alega-se que uma empresa é socialmente responsável se oferecer, entre outras coisas, treinamento e benefícios aos seus próprios funcionários, mas essas ações estão relacionadas ao atendimento do interesse empresarial, pois convertem-se em investimentos no capital humano e tornam a organização mais competitiva ao reter os melhores funcionários e criar um ambiente interno favorável. Dessa maneira, tais ações podem ser entendidas como investimentos estratégicos que contribuem para a agregação de valor e sobrevivência corporativa, os quais são necessários e devem ser incentivados, mas não representam ações diretas para a comunidade.
Práticas para a melhoria do relacionamento com determinados stakeholders externos, como os fornecedores, favorecem a obtenção de melhores condições de aquisição e de pagamento pelos fatores produtivos, aumentando a competitividade da empresa.
Um dos principais grupos relacionados à empresa é formado pelos clientes. Atualmente, discute-se até que ponto uma empresa que desenvolve diversas ações sociais em benefício dos públicos interno e externo, mas cujo produto é, de alguma maneira, prejudicial à saúde dos próprios clientes, pode ser considerada socialmente responsável. Considera-se que tais empresas geram externalidades negativas para a sociedade em que atuam, independentemente se empregam pessoas, pagam impostos… etc. Sob essa perspectiva, empresas que poluem o meio ambiente, fabricam produtos nocivos aos consumidores ou, ainda, prejudicam de alguma maneira a comunidade não podem ser classificadas como socialmente responsáveis.
Considerando-se que, dentre as práticas de Responsabilidade Social destacam-se as ações direcionadas à comunidade, pode-se questionar a pertinência de se classificar empresas como socialmente responsáveis quando essas não evidenciam investimentos sociais. Quando as organizações apresentam reduzidos níveis de evidenciação das informações relativas a gastos sociais, gera-se uma situação assimétrica entre a empresa e suas diferentes partes relacionadas, colocando-se em dúvida o grau de comprometimento social corporativo.
Marco Antonio Figueiredo Milani Filho é economista, mestre e doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP. Professor do Programa de Pós-Graduação em Controladoria da Universidade Mackenzie e consultor de empresas para o desenvolvimento de políticas e programas de responsabilidade social. [email protected]
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