Cinema Sustentável – Ensinar a ver

Cinema Sustentável – Ensinar a ver

Um dos componentes fundamentais para a saúde da indústria audiovisual de qualquer país, bem como para o exercício pleno da cidadania na sociedade contemporânea, é a formação de público. Espectadores “alfabetizados” nas linguagens que empregam imagens e sons tendem a ser, por exemplo, presas menos ingênuas de campanhas políticas com estética caprichada, mas esvaziadas de ideias; ou de estímulos publicitários ao consumo desenfreado, nada comprometido com os princípios da sustentabilidade.

Da mesma forma que o hábito da leitura contribui para o desenvolvimento intelectual, profissional e espiritual, aprender a ver com independência e espírito crítico equivale hoje a um atributo valioso. Logo, é preciso ensinar a ver. Para dar conta dessa tarefa, nada melhor do que atuar já na educação básica. Diretrizes curriculares recentes têm reforçado essa importância no Brasil, ao destacar a necessidade de trabalhar na escola as diversas linguagens. Implantá-las em bases satisfatórias, no entanto, corresponde a um desafio ainda longe de ser vencido.

Reféns de um cenário já ultrapassado, cursos voltados à formação de educadores continuam a dar pouca atenção ao audiovisual. As iniciativas para a qualificação de profissionais partem de redes de ensino ou de escolas isoladas, em cursos livres e oficinas. Em meu doutorado, defendido na Universidade de São Paulo, apresentei os conteúdos e práticas que me parecem imprescindíveis a essa qualificação. Para receber uma cópia digital da tese, basta enviar uma mensagem por meio do meu site (endereço abaixo).

A bibliografia sobre esse campo de estudos foi reforçada pela publicação recente de dois livros: Crianças, Cinema e Educação – Além do Arco-Íris, da brasileira Monica Fantin (Ed. Annablume), e A Forma do Real – Introdução aos Estudos Visuais, do espanhol Josep M. Català Domènech (Ed. Summus). No primeiro, a autora – professora da Universidade Federal de Santa Catarina – analisa uma experiência de educação cinematográfica para a infância desenvolvida em escolas italianas e brasileiras.

O papel do cinema na formação estético-cultural das crianças, as possibilidades de mediação escolar na relação entre as crianças e o cinema, e os critérios de qualidade e adequação dos filmes em contextos formativos são alguns dos aspectos estudados por Fantin. “Pensar a relação entre criança e cultura, hoje, significa buscar compreender a experiência cultural das crianças com a mídia. Por parte das escolas, escolhas apressadas e sem a devida fundamentação demonstram que há muito a ser feito nessa área”, afirma.

Já o livro de Català Domènech se propõe a oferecer “as bases para um pensamento do visual” ou “um caminho traçado em meio a um grande bosque”. Na sua avaliação, as imagens correspondem, na sociedade contemporânea, a “lugares complexos nos quais se reúnem o real, o imaginário, o simbólico e o ideológico”, e nos quais “iniciam-se constelações de significados que é possível perseguir indefinidamente no sentido do sujeito ou do social”.

Sérgio Rizzo é jornalista, crítico de cinema e professor.
www.sergiorizzo.com.br

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