Avaliando as esforçadas em sustentabilidade

Avaliando as esforçadas em sustentabilidade

No artigo da semana passada, arriscou-se aqui, a pedido dos leitores, classificar as empresas segundo o seu envolvimento com o tema sustentabilidade. Mesmo admitindo de antemão que, por mais bem intencionadas, classificações de qualquer tipo  são, por natureza, simplistas e superficiais, o desafio foi encarado apenas como uma forma de orientar aqueles que querem mais informações para distinguir  as empresas sustentáveis das que tentam mostrar que são.
Usando como norte a distância e a coerência entre discurso e práticas sustentáveis, propôs-se dividi-las em quatro categorias: as líderes, as esforçadas, as cínicas e a s indiferentes.
Sobre as líderes, houve pouca dúvida. A julgar pelos e-mails recebidos, os leitores sabem identificá-las no meio da multidão, talvez porque normalmente elas são as maiores, já estejam na estrada sustentável há pelo menos dez anos ou tenham conseguido comunicar, com maior eficácia, os seus compromissos socioambientais. A condição de líder, no entanto, não assegura, por si só, uma nota 10 em sustentabilidade.  Apenas indica que caminharam mais e, de modo mais intenso, na incorporação do conceito em suas atividades.
Em relação ás esforçadas, sobraram algumas dúvidas. Compreensíveis, na verdade. Dada a sutileza da principal diferença apontada para as líderes –o ritmo lento e tortuoso com que avançam na incorporação das práticas de responsabilidade social —  é razoável que muitos leitores não saibam distingui-as das que compõem a primeira categoria. Agrava ainda o fato de que informações sobre esses processos não costumam ser de conhecimento geral.
Nunca é demais lembrar: nas esforçadas, como o próprio nome sugere, há um movimento e um interesse honestos pela inserção da sustentabilidade na cultura organizacional, embora este conceito, ainda expresso na forma de práticas isoladas, não tenha entrado na corrente sanguínea da estratégia de negócio a ponto de romper o modo habitual de pensar e fazer negócios. Se isso não ocorreu –vale frisar – não foi necessariamente por falta de vontade. Pode ser conseqüência de se estar em um negócio complexo, instável e baseado em modelo (ou de produção ou empresarial) difícil de mudar no curto prazo. Pode ser também resultado da falta de prioridade ao tema, da ausência de líderes afinados com preceitos socioambientais, de uma cultura resistente á mudança ou ainda temerosa do risco de assumir o custo presente da mudança, substituindo estratégias negociais  historicamente vitoriosas e lucrativas.
Nas esforçadas, há um impulso na direção da sustentabilidade, ainda que não tão convicto. Nelas, o conceito segue, no entanto, muito mais atrelado às noções de risco e custo do que às de oportunidade e investimento, o que explica, em alguma medida, a sua trajetória não tão linear, marcada por avanços e retrocessos, dilemas e contradições.
Como identificá-las, então, entre as empresas brasileiras?, indagam os leitores. Não há uma resposta absoluta. Uma medida sensata é analisar a evolução de suas práticas socioambientais a partir, por exemplo, da leitura de relatórios de sustentabilidade. A publicação de relatórios é, como medida, um bom indício de honestidade de intenções. Atesta que, no mínimo, a empresa está disposta a compartilhar informações sobre sua atuação socioambientalmente responsável com diferentes públicos de interesse. Mas, evidentemente, publicar por publicar pode não significar grande coisa até porque, como se sabe, papel e espaço na internet aceitam tudo.
Para aqueles que querem, de fato, obter uma avaliação mais criteriosa do quanto as práticas socioambientais estão evoluindo numa empresa, recomenda-se o seguinte passo a passo:
1)    Identificada a empresa, acessar o site e verificar a existência de um campo específico para donwload de relatório de sustentabilidade, normalmente em link para Responsabilidade Social. Se este não existir, configura, de partida, pouco interesse (e baixo grau de transparência) em disponibilizar informações para diferentes públicos de interesse. Muitas empresas preferem distribuir relatórios impressos para públicos que variam entre 2 mil e 5 mil pessoas. Quanto maiores as empresas, e mais superlativos os seus impactos, maior deve ser a preocupação em relatar seus compromissos sustentáveis. Eis um item importante de análise
2)    Acessado o relatório, analisar há quanto tempo a empresa o publica. Tempo é importante, pois indica compromisso. No entanto, mais importante do que o tempo é o modo como a empresa sistematiza as informações socioambientais e as relaciona com os seus negócios.
3)    Os melhores relatórios são os que observam alguma diretriz capaz de organizar as informações. Ferramentas como os Indicadores Ethos e, mais recentemente, o GRI (Global Reporting Intiative), ajudam a ter uma visão mais ampla do conjunto de ações socioambientais da empresa. O conjunto é importante na medida em que reflete a preocupação mais abrangente da companhia com o conceito.Tão importante quanto atender a um amplo check list de práticas ideais é a qualidade das ações, algo que pode ser analisado a partir da descrição delas.
4)    Se o objetivo é avaliar a evolução, apenas a leitura de uma série de relatórios possibilita uma comparação. Um cuidado importante é verificar como, e com que nível de honestidade, as empresas equilibram as notícias boas (práticas bem resolvidas) com as ruins (áreas nas quais ainda há muito por se fazer). O bom senso manda desconfiar de documentos que retratam um mundo perfeito, até porque, em tema tão recente, nenhuma empresa pode se atribuir notas elevadas. Outra dica: verificar se os relatórios tem algum tipo de auditoria externa. Não só em número mas em procedimentos.

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