As ondas de mudança de direção da sociedade humana

As ondas de mudança de direção da sociedade humana

Por Rodnei Vecchia

Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras,

outras constroem moinhos de vento.

Érico Veríssimo

Meio ambiente e desenvolvimento econômico são atividades imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma apartada, mas sim compartilhada, por meio de trade-offs que reflitam a preservação ambiental e sustentável do planeta.

Por certo, há um consenso entre ambientalistas, cientistas e lideranças políticas e empresariais de que se esgotou o tempo de discussões intermináveis e infrutíferas. É hora de agir, já que somos dotados de múltiplas inteligências e evoluímos o nosso pensamento.

Sistemas finitos como o terrestre, não comportam crescimento geométrico e buscam um nível de equilíbrio, para evitar que Gaia se transforme em Medeia.

O conflito de opiniões e posições entre os que defendem o crescimento econômico versus os partidários da preservação ambiental parece insolúvel. A crise ecológica global é consequência direta do comportamento, do modo de produção e do consumo provocados pelo próprio ser humano.

Todos os movimentos sociais, por mais justos que sejam, defendem reivindicações de uma parte da sociedade: negros, mulheres, homossexuais, sem-terra ou sem-teto, desempregados, seguidores de seitas e cleros. A proteção ao meio ambiente representa o interesse de todos os grupos, da humanidade inteira.

Um grande tema às vezes leva muito tempo para ser compreendido e praticado, pode passar anos, até décadas, mas tudo indica que a visão correta de luta pela sociedade sustentável toma conta de agentes sociais, de líderes visionários.

Abrir novos mercados e desenvolver novas formas de organização e de produção transformam e revolucionam a estrutura econômica vigente, destroem a velha ordem e criam uma nova.

Uma das maiores autoridades mundiais em termos de visão e luta pelo futuro e compreensão do fenômeno das mudanças é Alvin Toffler, visionário e futurólogo americano. Seus livros ainda têm grande atualidade, tornaram-se best-sellers e as previsões sobre o futuro que trazem têm altas taxas de acerto.

Toffler afirma que o mundo vive um período revolucionário de mudanças de rumo, que só ocorreu apenas duas outras vezes na história da humanidade. A primeira quando a raça humana passou de uma civilização tipicamente nômade para uma civilização basicamente agrícola, há 10 mil anos. A segunda foi quando a raça humana passou de civilização agrícola para industrial, há trezentos anos, nos EUA e na Europa, apesar de muitas regiões no mundo não terem atingido esse estágio.

A terceira revolução está em curso e iniciou-se por volta de 1955 nos EUA e em outros países que viviam o auge do desenvolvimento industrial, como a Inglaterra. A essas revoluções se deu o nome de “ondas”. A terceira onda foi denominada de revolução do conhecimento e da informação.

O que distingue uma onda da outra é fundamentalmente um sistema diferente de criar riqueza. A alteração na forma de produção de riqueza é acompanhada por profundas mudanças sociais, culturais, políticas, filosóficas, institucionais, econômicas e religiosas.

Na primeira onda, o meio de produção para criar riqueza era o cultivo da terra. O ser humano contribuía apenas com um mínimo de conhecimento sobre quando e como plantar e colher, com a força física para trabalhar junto dos animais. Essa forma de produção de riquezas causou profundas transformações com relação ao que existia na civilização precedente, a civilização nômade.

A forma de criar riqueza na segunda onda passou a ser a manufatura industrial e o comércio de bens. A terra já não era tão importante, mas, de outra forma, prédios, fábricas, equipamentos, energia, matéria-prima, o trabalho humano e, naturalmente, o capital passaram a assumir o papel principal dos meios de produção. O ser humano necessitava entender ordens e instituições, ter disciplina e, na maioria dos casos, ter força física para trabalhar. Novas e profundas transformações ocorreram na sociedade. O valor das organizações era medido pelo número de fábricas, equipamentos, inventário, e a produção e o consumo eram massificados.

A terceira onda realçou o conhecimento como meio dominante de produção de riquezas, e o ser humano inventivo, criativo e contestador tornou-se o seu principal instrumento de transformação, o elemento central da sociedade. Na medida em que o conhecimento está presente, é possível reduzir a participação de todos os outros meios no processo de produção. A importância e o valor das organizações são o conhecimento que elas possuem e que está contido em seu contingente de recursos humanos, sendo, portanto, intangível e de difícil quantificação.

A produção na terceira onda está em grande parte automatizada e permite fazer produtos desmassificados, diversificados, sem grandes custos adicionais e sem a necessidade de parar toda a fábrica. A produção é adaptada aos desejos do consumidor por meio da criatividade humana e de alta tecnologia. A sociedade desmassificou-se e tornou-se mais complexa e exigente, sendo impossível geri-la sem informação e tecnologia da informação (computadores, telecomunicações),  em sistemas integrados e ágeis.

A sociedade industrial está no fim e vive de forma cada vez mais intensa a terceira  onda, sob a égide de um processo generalizado de desmassificação. O mundo expõe muito mais estruturas familiares, estilos de vida, esportes, diversidade de entretenimento, de trabalhos, de profissões e de indústrias que trabalham para produções de nichos de mercado. Os meios de comunicação dirigem-se cada vez mais para segmentos específicos diferenciados, e não à massa da sociedade.

Há países e regiões que atuam nas três ondas simultaneamente, e a troca de poder gera conflitos entre as elites das respectivas civilizações. No Brasil, há várias ondas ocorrendo ao mesmo tempo. A região da Amazônia está na revolução agrícola da primeira onda, em que se derrubam florestas para plantar diversas culturas.

Na região Sudeste, o país está no centro da terceira onda, em linha com os países mais desenvolvidos do mundo. A velocidade de transformação e do desenvolvimento tecnológico é espantosa, e é provável que a terceira onda se complete em poucas décadas, mas já traz consigo um modo de vida genuinamente novo, com novos códigos de comportamento. Remete a sociedade para além da burocracia, padronização, sincronização e centralização, além da concentração de energia, dos recursos financeiros e do poder. Com relação especificamente à energia, a nova civilização baseia-se em fontes diversificadas e renováveis.

Atualmente, líderes da economia energética percebem a inevitabilidade da mudança para fontes renováveis mais limpas que os combustíveis fósseis, assim como princípios ecológicos mais restritivos em prol de uma economia ambientalmente sustentável. Nasce uma nova onda pós-desenvolvimento econômico, com base na sustentabilidade, para substituir a civilização urbana e industrial: a sociedade sustentável.

Na sequência do raciocínio das ondas de Toffler, surge então no século XXI a onda da sociedade sustentável, em que o sistema criador de riqueza é a capacidade de produzir bens e serviços renováveis e limpos, de forma sustentável. Esta nova onda é a sociedade sustentável, que se viabilizará por meio de líderes visionários no uso equilibrado da infinita inteligência humana.

Rodnei Vecchia é empresário, consultor no ramo de energia e doutorando em Economia na Universidad Nacional de La Matanza, em Buenos Aires

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