Artigos – Uma nova perspectiva para a redução, reutilização e reciclagem dos resíduos no Brasil

Artigos – Uma nova perspectiva para a redução, reutilização e reciclagem dos resíduos no Brasil

A grande maioria da população brasileira vive hoje em cidades de grande e médio porte e um dos reflexos dessa realidade populacional é o volume de lixo gerado. São milhares de toneladas de resíduos depositados diariamente em aterros sanitários e outras tantas toneladas jogadas em terrenos baldios, lixões a céu aberto, córregos, margens de rios e mesmo nas ruas, trazendo problemas sérios para a saúde, meio ambiente e qualidade de vida da população. Atualmente, somente 12% das 170 mil toneladas de lixo produzidas diariamente no Brasil são recicladas, segundo estudo da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais). Mas a aprovação da nova Política de Resíduos Sólidos no Brasil sinaliza a mudança desse panorama, que irá afetar tanto o governo quanto as empresas e os cidadãos. Para melhor.
Em tramitação no Congresso desde 1991, a nova política, que foi aprovada em março de 2010 e deve ser sancionada pelo presidente Lula em 5 de junho de 2010, Dia do Meio Ambiente, tem como objetivo elevar o índice de reciclagem no Brasil a 25% até 2015. Isso será feito com base na perspectiva de uma gestão integrada. Ou seja, a destinação do lixo, que hoje é exclusivamente gerenciada pelos municípios, passará a ser também responsabilidade das empresas.  Essa responsabilidade compartilhada será um passo grande para o setor empresarial brasileiro, que precisará apresentar propostas sobre a atribuição de cada parte até o final de 2011.
Muitas empresas no Brasil já possuem iniciativas voluntárias, utilizando matéria-prima reciclada em seus processos produtivos e apoiando o modelo cooperativista de reciclagem baseado no conceito da logística reversa. Um bom exemplo disso é a produção de papel reciclado para a produção de caixas de papelão ondulado; somente essa cadeia reciclou mais de 2 milhões de toneladas no ano de 2008. A cadeia recuperadora de papel é composta por mais de cem empresas recicladoras, espalhadas por todo o território brasileiro. Hoje, 55% do rendimento de uma Cooperativa de Coletores é resultado da venda de papéis para a reciclagem.
Com a aprovação da nova política, consolida-se o papel dessas empresas e da indústria em geral em apoiar as iniciativas de coleta seletiva de lixo, através do fornecimento de materiais para divulgação de programas de coleta seletiva de diversos municípios no Brasil; treinamento, informação e doação de prensas, big bags e esteiras de triagem a cooperativas de catadores; fornecimento de informações técnicas aos municípios e cooperativas que estão em fase de implantação do programa; e, finalmente, facilitação do acesso aos recicladores de todo tipo de embalagens. Tudo isso fomenta as cadeias recicladoras e estimula a inovação tecnológica para privilegiar a produção mais limpa, além de proporcionar a inclusão social de mais catadores.
As redes de reciclagem que atuam hoje no País empregam cerca de 450 mil pessoas na informalidade. Mas se conseguirmos aumentar esse índice de reciclagem para, por exemplo, 18%, dentro desta nova Lei de Resíduos Sólidos, já teríamos 1,5 milhão de pessoas trabalhando formalmente nesses processos.
Tudo isso significa um enorme avanço para o Brasil tanto economicamente quanto em relação ao meio ambiente. Com a aprovação da política, dentro de poucos anos podemos estar lado a lado com países desenvolvidos que possuem altos índices de reciclagem de seus resíduos. Mas ainda estamos só começando e esse processo todo inicia-se com a separação do lixo nas residências, e é só com a conscientização das pessoas que poderemos atingir os objetivos da nova política.
*Paulo Nigro é presidente da Tetra Pak Brasil e vice-presidente para as Américas Central e do Sul

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