Artigos – Empreendedores sociais inspiram modelos de negócios do futuro

Artigos – Empreendedores sociais inspiram modelos de negócios do futuro

Em um momento de mudanças e reflexões, temos uma oportunidade excelente para examinar organizações com abordagens diferentes do sistema produtivo mais tradicional. E não há necessidade de olhar muito longe. Na fronteira da economia, existem companhias que estão trabalhando na criação de valores econômicos a partir de uma ótica diferente. Globalmente, elas foram batizadas como empresas sociais.
Essas experiências apresentam um crescente potencial para solucionar os atuais e futuros problemas sociais. Constituem novos modelos empresariais que trabalham um mundo mais justo e sustentável, e o fazem competindo com as forças do mercado tradicional, com a intenção de ser financeiramente sustentáveis.
Compreender suas as características é importante para conferir escala às experiências bem-sucedidas. No entanto, definir o perfil de um empreendedor ou empreendedora sociais é algo muito difícil.
Já se sabe, no entanto, que se trata de um indivíduo inovador capaz de enxergar nas questões sociais possibilidades de mudanças transformadoras. Além de ser visionário e, ao mesmo tempo pragmático, planeja sua visão de maneira colaborativa, atraindo o envolvimento de diversos stakeholders.
Se nos concentramos nos atributos fundamentais das empresas sociais, encontramos pistas para novos modelos de negócios empresariais. Em primeiro lugar, são organizações humanistas, que entendem o trabalho como o produto final, não apenas como um meio para obtenção de lucro. O propósito desse negócio é o bem-estar das pessoas e, portanto, a sua qualidade de vida e felicidade. Reivindicar a centralidade do indivíduo na companhia certamente não é uma tarefa simples. Requer que se fale menos em recursos humanos e mais em pessoas.
Em segundo lugar, as empresas sociais tendem a criar simultaneamente valor econômico e social, respeitando também o meio ambiente. Isso não significa que mais valor econômico represente menos valor social ou vice-versa, mas que encontraram um ponto de equilíbrio no tripé.
Por último, as empresas sociais mais inovadoras são as que estão se concentrando no que se conhece como “negócios inclusivos”. Elas passaram a incluir no mercado indivíduos sem recursos. Construir uma cadeia de valor baseada nos mais pobres, transformando excluídos em clientes, empregados ou fornecedores de seu negócio, tem sido um desafio complexo para as companhias na medida em que exige repensar seus tradicionais modelos empresariais.
Há dois exemplos espanhóis ilustrativos. O primeiro é o da Fundación Futur, uma empresa catalã criada para reintegrar social e profissionalmente indivíduos em situação de exclusão. A organização desenvolveu um posicionamento inovador fundado em produtos ecológicos e biológicos de comércio justo para o setor de alimentação. Ao identificar um perfil distinto nas cantinas escolares, a Futur encontrou um nicho de mercado promissor. O outro exemplo vem da cooperativa sem fins lucrativos La Fageda, que é a segunda maior produtora de iogurtes de Catalunha, com um detalhe importante: 80% de seus trabalhadores são pessoas com deficiência mental e física. Muita gente se pergunta como uma cooperativa agrícola com trabalhadores deficientes pode produzir iogurtes de excelente qualidade –pelos quais o consumidor está disposto a pagar um valor extra de 30% — competindo diretamente com grandes marcas internacionais. O segredo: um projeto coerente no qual o indivíduo – e não a constante busca pelo lucro – está no centro das ações.
Explicar esses modelos – e no Brasil também há muitos – é responsabilidade das escolas de negócios. Não podemos ignorar essas experiências e, certamente, elas já estão nos oferecendo indícios para o futuro dos negócios.
Box: Perfil dos empreendedores sociais:
• Concentram-se na criação de valor social, e se preocupam em apontar novas ideias/enfoques e desafios de determinados grupos ou problemas sociais
• Tratam de inovar encontrando um produto ou serviço novo/diferente ou um enfoque novo para um desafio social
• Entendem que para realizar seus projetos é necessário ter o apoio do ecossistema.
• Procuram solucionar os desafios de maneira sistêmica.
• Lançam-se em projetos empresariais muito antes de assegurar que possuem os recursos necessários.
• Arriscam-se com forte determinação em aventuras empresariais que muitos não se atrevem.
* Alfred Vernis é líder de treinamento do Instituto de Inovação Social da ESADE Business School (Universidad Ramon Llull)

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