Revitalizar lendas e histórias do povo tibetano sob um olhar contemporâneo, combinando técnicas de tradição milenar com matérias-primas naturais, modernas e sofisticadas: é essa a proposta da coleção “Os Tigres da By Kamy“. As peças que já foram apresentadas aos paulistanos agora seguem com as suas crenças e histórias para a capital da mistura étnica do Brasil, Salvador. A By Kamy expõe suas preciosidades de 13 a 26 de maio no showroom da Casa Bella, empresa referência em móveis conceituais.
Fruto de pesquisa que durou mais de um ano, “Os Tigres da By Kamy” foi criado sob coordenação da arquiteta Francesca Alzati, responsável pelo atelier da marca, e realizado por Kamyar Abrarpour junto a empresas nepalenses de tecelagens. O conceito da coleção desperta para sustentabilidade e chama a atenção pela importância da carga histórico-cultural desses animais considerados sagrados no Tibete, em peças naturalmente sofisticadas. O ponto de partida para a concepção foi o livro “The Tiger Rug of Tibet“, da autora austríaca Mimi Lipton, na ocasião da primeira apresentação dos tapetes originais em uma galeria particular de Londres, em 1988. A autora catalogou 108 modelos de tapetes (o número, que também corresponde à quantidade de mandamentos do budismo e de contas no rosário tibetano, é considerado sagrado). “Assim como o dragão na China e o elefante na Índia, o tigre é o animal símbolo do Tibete e sua existência está diretamente ligada à nobreza, misticismo e poder”, explica Francesca.
Os tapetes retratados no livro foram desenhados ao longo de diferentes épocas, a partir do século VII, por anônimos que se perderam na História, desde monges a cidadãos comuns. As peças eram criadas para os mais variados fins, podendo ser oferecida a um monge como sinal de devoção ou usada como artigo de luxo digno de um rei.
Considerados patrimônio cultural quase intocáveis, os tapetes tibetanos tornaram-se acessíveis para o resto do mundo somente a partir de 1970, quando houve uma maior abertura do país. “A coleção traz à tona um conceito antigo para o valor presente, a partir de uma linguagem contemporânea moderna. É uma nova vida em uma história secular”, sintetiza.
Paralelamente à mostra, a grife terá um espaço Pop up Store, uma loja temporária, onde exibirá os últimos lançamentos com destaque para as linhas de Kilim e Zili, entre outras novidades disponíveis à pronta-entrega. “Nosso intuito é levar a loja ao cliente, já que sentimos uma forte demanda da região nos últimos meses”, afirma Francesca.
Materiais modernos, técnicas antigas
O atelier By Kamy revitalizou alguns dos 108 modelos retratados no livro “The Tiger Rug of Tibete“, a partir de materiais contemporâneos e ecologicamente corretos, como fibras de aloe, cactus e hemp, dando origem a uma coleção que é sinônimo de luxo, consciência ecológica e riqueza histórica. Originalmente, os modelos do livro eram feitos com seda e lã com predominância das cores azul escuro, vermelho claro, ocre e ouro.
Produzidos artesanalmente por refugiados do Tibete no Nepal, os tapetes da coleção são confeccionados com as mesmas técnicas milenares de ponto fino e coloração natural. O respeito no manuseio da matéria-prima é percebido na utilização de 80% da mesma no seu mais nobre estado natural, sem tingimento, valorizando as suas próprias nuances. O resultado é uma variedade de “cores da floresta“ – o mesmo acontece nas texturas, que misturadas entre si (lã, seda, e fibras vegetais como a exclusiva seda de bananeira), resultam na volumetria dos designs. Assim como as peles naturais de tigres, esses tapetes mudam de tonalidade e brilho de acordo com a incidência de luz.
“O domínio das técnicas antigas, a criatividade e a sabedoria da tecelagem do Oriente conseguem interpretar as exigências do design brasileiro, executando com maestria a produção dos tapetes da coleção”, analisa Francesca. As estampas são tão ricas e variadas quanto a história da origem dos tapetes. Há desenhos de peles naturais, com listras abstratas ou onduladas, da espinha vertebral ou do esqueleto do tigre, da sua cabeça e do seu corpo. Com uma leitura de tigre na sua autenticidade e abstração.
Centenas de tapetes, milhares de histórias
Os tapetes tibetanos eram de grande importância para aquele país. As abstrações tinham considerável simbolismo esotérico, passando por crenças, superstições, cultura e história. Na prática, eram usados para meditação, sutras, yoga e também na decoração, devido ao impacto que as figuras dos tigres transmitiam. Os tapetes com desenhos de tigres significavam bom agouro na passagem de ano, denotavam grande grau de liberdade e proteção ou descreviam os cinco elementos – terra, madeira, fogo, água e metal.
Os desenhos surgiram no Tibete no século VII, onde reinavam 33 reis. Como não foram produzidos em série e nem todos são da mesma época, é praticamente inviável deduzir a data correta de cada um dos modelos. Alguns foram feitos por exímios tapeceiros que recebiam encomendas de reis e homens da lei e outros eram confeccionados por cidadãos para serem doados para os monges como gratidão ou promessas. Os próprios monges também confeccionavam os tapetes.
Tanto os chineses quanto os indianos influenciaram os tapetes tibetanos. Os chineses emprestaram o design de tigres realísticos e, os indianos, suas doutrinas tântricas. A influência dos chineses pode ser percebida tanto no desenho quanto nas bordas. A interferência indiana está baseada no fato de que as peles de tigres eram usadas para meditação do budismo tântrico e quando estas se tornaram escassas, tecer o desenho do animal era a alternativa viável. Como a explicação parece plausível, o design de peles foi associado logo aos tigres vivos e o desenvolvimento das peças abrangeu uma enorme variação de modelos.
As listras e o rosto dos tigres são estilizados conforme a mística tibeteana das bestas Wind-Horse (cavalo de vento), Snow-lion (leão de neve) e dragão. Para a mística tibeteana estas bestas não são monstros e sim lendas. São criaturas benevolentes usadas como talismã para boa sorte nas bandeiras de oração do budismo.
Capítulo traduzido do livro “The Tiger Rug of Tibete”:
Introdução sobre os tapetes de tigres Tibetanos
“Os tapetes de tigres tibetanos são um enigma. Há uma década atrás, absolutamente nada era conhecido sobre eles e, hoje, toda a informação que se tem é fundamentada numa coleção aleatória de fatos.
Por milênios, as fronteiras do Tibete impossibilitavam o acesso de estrangeiros, inicialmente devido à irregularidade de sua geografia e, mais tarde, devido à crueldade de seus governantes. Trocas e expedições militares aconteceram durante os séculos, alterando a fé e a evolução da região, porém vagarosamente, já que, uma vez estabelecidas as tradições, estas ficavam fortemente enraizadas na cultura da nação.
Mudanças ocorriam no ritmo das geleiras, imperceptíveis. Com o tempo, viajantes estrangeiros, diplomatas, missionários, e mercadores ganharam acesso. Eles retornaram aos seus países e escreveram sobre o Tibete, seu povo e tradições, especialmente sobre o budismo. Trouxeram também artefatos religiosos, objetos ritualísticos, jóias, vestimentas, utensílios domésticos e tapetes. Mas, surpreendentemente, nenhum tapete de tigre foi trazido do Tibete até o ano de 1979, quando o primeiro foi levado aos Estados Unidos e comprado pelo Museu de Newark.
Obviamente os tapetes de tigres tibetanos são muito raros. Restaram aproximadamente 200 peças autênticas. O mistério envolvendo os 108 tapetes ilustrados neste livro diz respeito às suas origens, utilização e ao poder de seu símbolo. Cento e oito poderia ser um número qualquer, mas não para um tibetano. Para eles, trata-se de um número importante e favorável. Existem 108 volumes nas escrituras Lamaicas (o Bka-gyur), 108 contas no rosário Tibetano e 108 tranças no cabelo das mulheres.
Os tigres e suas peles sempre predominaram nos thangkas budistas (pinturas) e em suas esculturas. Os tapetes de pele de tigre eram utilizados em algumas danças realizadas no festival de ano novo tibetano. Yogins (praticantes de Yoga) constantemente eram retratados sobre peles de tigre. Pele de tigre era considerada um ótimo Asana (assento) para praticantes do tantra. Era dito que a pele do tigre era um artigo de luxo digno de um rei, que emanava uma aura de poder e mantinha o usuário protegido contra cobras, escorpiões e outros insetos. Ela também protegia o Yogin das variações climáticas.
Na era de Songsen Gampo (primeiro Rei do Tibete, século VII), os oficiais se sentavam em peles de tigre e vestiam roupas ornamentadas com figuras desses animais. Tanto a Potala (palácio real) quanto às residências de outras importantes “encarnações” e abades eram decoradas com duas “ilustrações”, sendo o mongol guiando o tigre (um antigo símbolo de boa sorte) uma delas.
Somente aqueles com poder e autoridade possuíam e utilizavam os tapetes de tigre, como por exemplo, aqueles que faziam as leis e sentavam-se nos tapetes durante os julgamentos para anunciar a sentença.
O Gesar Epos menciona que os nobres tibetanos utilizavam peles de tigre, assim como os guerreiros. Seus túmulos eram decorados com pinturas de tigres. Na morte assim como na vida, o tigre simbolizava alto status, ferocidade e bravura. Outra estória no mesmo livro menciona que quando as tendas dos reis eram erguidas, seu trono ficava coberto com peles de tigre e ao redor também havia travesseiros.
Um dos sinais de uma verdadeira encarnação de Dalai Lama é uma marca peculiar das listras do tigre na perna da encarnação. Tão recente quanto a virada do século, o Estado Oráculo de Buriata utilizou tanto uma pele de tigre Manchuriano quanto um tapete de tigre como parte da sua vestimenta do ritual de coroação.
Outra função do tapete de tigre era agir como um guardião quando, por exemplo, utilizado ao redor de uma coluna. Qualquer um que andar pela sala do trono de Dalai Lama, em Potala, Lhasa, verá dois pilares adornados com tapetes de tigre na entrada do Palácio Branco.
Na vida doméstica, os tapetes de tigre eram utilizados pelos viajantes como símbolo de status e riqueza. Colocado sobre o animal guia da caravana ou sobre a bagagem transportada em balsas, o tapete de tigre indicava a importância de seu possuidor.”
Sobre a Casa Bella
Criada em 1990, pela empresária baiana Conceição Queiroz, a Casa Bella tornou-se referência de bom gosto, sofisticação e qualidade no mercado de decoração e design em Salvador. A movelaria que fica na charmosa Alameda das Espatódeas tem como característica peças que unem materiais de primeira linha a um design contemporâneo e acabamentos adequados a diferentes estilos. Os móveis exclusivos são planejados e fabricados após estudo de cores, tendências mundiais, formas e novas técnicas que se ajustam ao perfil dos brasileiros. O trabalho que valoriza o conceito décor tem a aprovação dos profissionais mais exigentes do mercado de arquitetura e decoração da capital baiana.
Exposição Tigers by Kamy
Onde: Rua Alameda das Espatódeas, 215 – Caminho das Árvores – Salvador – BA
Quando: de 13 a 26 de maio
Horário: Segunda, das 9h às 19h / Sábado, das 9h às 14h
Informações: (71) 3342-5666
By Kamy Pop Up Store: www.bykamy.com
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