Sustentabilidade do amanhã

Sustentabilidade do amanhã

Prosseguindo com a abordagem da sustentabilidade do amanhã

Por Michael Yaziji

A noção da sustentabilidade ‘com menos’ – menos pessoas, recursos e produção, junto com menos consumo e poluição – não basta. Por um lado, tudo isso é necessário, se quisermos entregar aos nossos filhos um mundo parecido com o que herdamos. Mas a ideia precisa ser complementada por outra abordagem, que alavanque o imperativo de crescimento resultante da situação atual. Para entender por que a sustentabilidade ‘com menos’ provavelmente não vai resolver nossos desafios ambientais, considere a equação tradicional do impacto ambiental:

Impacto ambiental = População x Afluência x Tecnologia.

Diante disso, os danos ambientais poderiam ser diminuídos por meio de redução populacional, empobrecimento e avanço tecnológico.

É necessário limitar ou reverter o crescimento populacional tanto quanto possível, mas reconhecer também que fazer só isso não basta. Precisamos consumir menos individualmente. O estilo de vida rico e insustentável dos 430 milhões no Ocidente será imitado por outros 600 milhões do mundo em desenvolvimento, até 2030, segundo o Banco Mundial.

Quanto à tecnologia, o conceito da sustentabilidade ‘com menos’ significa reduzir os danos da produção econômica, diminuindo a produção de CO2 por unidade de produto, limitando embalagens, entre outras medidas. Esse é o pensamento por trás de tantos relatórios de sustentabilidade de empresas, que se vangloriam de uma redução de 10% de tal recurso ou de 15% de tal poluente.

Mas ouso dizer que essa abordagem simplesmente não será o bastante. Os profetas da sustentabilidade ‘passada’ pregam possíveis ganhos e economias em atrair colaboradores por meio de esforços para, por exemplo, reduzir o desperdício em ‘x’ por cento ao ano – e esses ganhos são, por vezes, bem reais e importantes! Infelizmente, muitas vezes essas práticas são simplesmente mais caras – principalmente quando realizadas na amplitude necessária para que sejam realmente sustentáveis. E no ambiente atual, essa é uma responsabilidade estratégica, na qual as empresas são projetadas para maximizar o lucro.

Portanto, em grande parte, as questões de sustentabilidade têm sido – e continuam – secundárias; e frequentemente tidas como custo e responsabilidade estratégica. Assim, empresas provavelmente não fariam o suficiente em termos de redução.

Mas e se abordássemos por outro ângulo, radicalmente diferente? E se trocássemos o T da fórmula ‘IA= P x A x T’ por um número negativo? E se nosso impacto ambiental fosse menor do que zero e tivéssemos uma melhoria ambiental em cada unidade econômica de produção? Como ficaria? Isso colocaria o pensamento tradicional de sustentabilidade de ponta cabeça.

Em vez de esperar por uma redução populacional (hoje, na realidade, há uma população crescente) ou redução da riqueza (há, na verdade, um aumento de 125% da classe média mundial), poderíamos alavancar esses crescimentos para criar um valor negativo de ‘I’, isto é, uma melhoria ambiental.

Seria como o cimento com uma pegada negativa de CO2 ou resíduos poluentes sendo convertidos em materiais de construção. Isso também poderia significar um sistema industrial com resíduo zero, ou melhor, que recolha resíduos ou contaminações de fora do sistema e os converta em produtos e serviços, bem como em benefícios ambientais.

Cradle to Cradle, famoso livro de William McDonough e Michael Braungart, usa uma cerejeira como metáfora de modelo. Em plena floração, a árvore é de uma beleza estonteante, com suas centenas de milhares de flores. Uma visita ao Japão durante a floração proporciona experiências incríveis. No entanto, quantas dessas flores geram novas plantas? Talvez apenas uma ou duas, o que é uma porcentagem minúscula! A cerejeira é incrivelmente ineficiente e dispendiosa. No entanto – e aqui vemos o modelo para a sustentabilidade do futuro – não há desperdício no sistema como um todo. As flores caem e servem imediatamente para novos sistemas biológicos – formigas, micróbios, minhocas e outros as comem – e, assim, eles produzem seu “resíduo” próprio que, por sua vez, é um insumo que alimenta a cerejeira para sua próxima temporada de flores absurdamente abundantes. Sendo farta e dispendiosa ao mesmo tempo, o ecossistema da cerejeira não tem desperdício.

O estudo desses belos e intrínsecos sistemas fechados é chamado de ecologia. A sustentabilidade do amanhã é chamada de ecologia industrial; e promete uma sociedade rica, próspera e esplêndida, sem resíduos.

Em uma ecologia industrial totalmente funcional, fluxos de resíduos de uma indústria são tratados como insumos em outra. Há muito poucos exemplos de ecologias industriais completamente sustentáveis; mas, em meus trabalhos estratégicos com empresas, vejo-as cada vez mais preocupadas com uma nova forma de modelar seus negócios. Por exemplo, há um grande número de empresas pesquisando resíduos como insumos críticos.

Prevejo que a indústria de resíduos será completamente diferente no futuro. Uma empresa inteligente com quem trabalho coleta resíduos de municípios (e é paga por isso), utilizando uma parte na produção de materiais de construção (que são comercializados), e vendendo o resto para incineradores de combustível (abocanhando uma terceira fonte de renda).

Os imperativos que direcionam as decisões das empresas são baseados no lucro. Mas, à medida que seus recursos primários se tornam mais caros e escassos – pois há crescentes fluxos de resíduos de outros setores -, e à medida que as regulamentações são cada vez mais rigorosas, referentes ao uso desses recursos primários e à poluição, as oportunidades se multiplicam.

As empresas precisam ser criativas e explorar modelos de negócios lucrativos, resultando em impactos ambientais globais positivos (e não apenas menos negativos). Precisam tentar penetrar mais esses novos modelos de negócios e mercados, e não focar apenas na velha noção do ‘cada vez menos’.

Michael Yaziji é professor de Estratégia e Organização e diretor do novo programa One Planet Leaders, do IMD, criado junto à WWF.

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